Martinho
Júnior, Luanda
1
– O presente ano de 2015 é, sob o ponto de vista histórico, um ano carregado de
simbolismos exaltantes de patriotismo e duma maior mobilização em prol do rumo
de Angola independente e soberana, em prol da luta contra o subdesenvolvimento,
só possível com a paz e com o aprofundamento da democracia:
Fez
60 anos que, a 2 de janeiro de 1965 a direcção do MPLA, em Brazzaville, recebia
a visita do Che na sua passagem por África, que resultou no reforço da Luta de
Libertação, com o apoio sobretudo da Revolução Cubana!
A
República de Angola perfaz por outro lado 40 anos, a 11 de novembro, 54 anos
depois do início da luta armada!
Aproxima-se
Angola ainda do ano em que será comemorada década e meia em relação aos
Entendimentos do Luena, que possibilitaram o início activo do resgate que há a
realizar, a fim de trazer os benefícios do desenvolvimento sustentável a todo o
povo angolano, “de Cabinda o Cunene e do mar ao leste”…
O
ano de 2015, que será lembrado ainda por causa dos impactos da crise provocada
pelas manipulações internacionais que recaem sobre o valor médio das cotações
do barril de petróleo, sendo um ano dum Orçamento Geral do Estado comprimido
por vários factores de contenção, continua a ser, como nos anos anteriores,
pródigo nos esforços devidos para com a educação e a saúde do povo angolano!
Cientes
das responsabilidades históricas que advêm da Libertação de África, os
dirigentes angolanos têm assim a oportunidade de cuidar do presente e do
futuro, em particular em função dos investimentos previstos em benefício das
crianças angolanas, o que lhes traz responsabilidades acrescidas, ao serviço de
todo o povo angolano!
2
– Ao contrário contudo do que seria de esperar, a avaliação do cuidado para com
o futuro e as responsabilidades sócio-políticas dos dirigentes angolanos face
ao universo infantil, indicia que são muitos ainda aqueles que, entendem o
estado como uma “cosa nostra”, pelo que ao invés de o servir, se servem
dele ano após ano, com o fito de o delapidar, sem se preocuparem com as
consequências que os seus actos provocam, geração após geração.
Por
outro lado, a arrumação física do estado angolano parece concorrer também para
uma visão estruturalista e não dialéctica dos fenómenos sócio-políticos: os
mecanismos de defesa da criança estão instalados, as leis e os regulamentos
estão formalizados, mas há inibições severas no que é imperioso fazer, por
ausência de compatibilidades das estruturas e instituições, o que provoca uma
inércia que é aproveitada pelos oportunistas e até mercenários, muitos deles
elementos que estão a demonstrar o seu nefasto carácter com a desvalorização da
qualidade ética e moral, em termos de patriotismo, que foi sempre cultivado e
proposto pelo Movimento de Libertação em África!
3
– Enquanto Antigo Combatente e Veterano da Pátria, coloco sérias dúvidas em
relação a dirigentes que, sem tarimba no Movimento de Libertação, a coberto
duma certa “tecnocracia”, mais parece corresponderem a elaborados
processos de assimilação que se arrastam “desde o tempo da outra senhora”,
ainda que capazes de metamorfose graças aos impactos do capitalismo neo liberal
em Angola e sem outra “cultura” senão, custe o que custar, a
acumulação de riqueza financeira por via do lucro sem barreiras ou limites,
estabelecendo um polvo tentacular, instalando-se desde logo na sua cabeça e
sabotando o próprio estado angolano nas suas responsabilidades para com a
criança e para com o futuro.
Os
processos ligados à criança, à educação e ao ensino, enfermam pois da
actividade perniciosa e sem escrúpulos desse polvo, que é capaz até de abater
uma escola primária ao efectivo do estado angolano, para instalar a sua própria “universidade
independente” e muito mais: assumir uma parceria tentacular com o estado
angolano, que o estado angolano tem respeitado escrupulosa e religiosamente a
cada ano que passa com avultadíssimos pagamentos, com a única garantia que da
sua parte haverá sabotagem por via do controlo crescente de gráficas, editoras,
distribuidoras e até da venda em praças populares e nas ruas, dos livros que
gratuitamente deveriam esperar as crianças nas escolas no início de cada ano
lectivo!
4
– Habituado a cultivar uma lógica com sentido de vida para com o povo angolano
com quem me tenho identifico num trajecto com consciência patriótica, social e
cívica, na qualidade de Antigo Combatente e Veterano da Pátria, incomodo-me
pela vulnerabilidade dum processo de Libertação que urge dar continuidade em
benefício de todo o povo angolano, numa altura em que a luta contra o
subdesenvolvimento crónico e histórico é finalmente possível.
Os
conteúdos e as práticas anti-patrióticas de alguns estão a chocar, a cada ano
que passa e cada vez mais, com a dignidade que o processo de formação,
educação, ensino e cultura merece num quadro de Libertação Nacional como esse,
tanto mais que trata-se duma frustração aos termos duma garantia para com o
futuro, trata-se da ausência de respeito para com o universo infantil angolano,
que necessariamente tem de beneficiar dum sistema de ensino pedagógico,
exemplar e a salvo de qualquer tipo de continuado mercenarismo ou predação!
Os
prejuízos assim acumulados, pesam mais que, por exemplo, as derrotas em campos
de batalha: são já várias gerações de crianças que experimentaram a sabotagem
por parte dum polvo privado ao estado angolano, ficando sem bases de formação,
de ensino e de cultura cívica suficientes, não só para o melhor seguimento de
suas carreiras, mas também coarctadas enquanto jovens e adultos, de melhor
participação nos legítimos esforços no sentido de dignamente saber honrar
compromissos históricos em benefício de todo o povo angolano!
Um
polvo privado, sem natureza patriótica, cívica e humana, jamais deveria ter
crescido como parceiro do Estado Angolano e é urgente pôr um ponto final à sua
premeditada sabotagem à lógica com sentido de vida, clarividente sequência da
longa Luta de Libertação Nacional!
Gravura
alusiva à criança, recolhida da exposição de “Os 11 compromissos com a
criança angolana” –http://domboscoangola.org/db/blogs/dh/2012/05/14/os-11-compromissos-com-crian%C3%A7-angolanas
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