Em
2011, na altura das actividades relativas aos 100 anos da Universidade do Porto
(UP) uma delegação angolana visitou esta Universidade. Deram-se passos
importantes ao nível da cooperação. Mas muito, muito mesmo, ficou por fazer. Ao
que parece, Luanda quer – por exemplo – formar engenheiros mecânicos em Cuba
que, nesta matéria, é uma verdadeira (im)potência mundial…
Orlando
Castro – Folha 8 Diário (ao)
Na
sequência da criação de oito regiões académicas em Angola, deslocaram-se à UP
alguns dos reitores dessas novas universidades, assim como técnicos ligados ao
ministério que tutela o ensino superior em Angola. Foram pedir
ajuda e solicitar cooperação entre a UP (de facto fizeram um périplo por
Portugal e visitaram diversas universidades) e essas novas universidades.
“Naquela
altura tinha algum tempo disponível e ao ver a notícia do pedido de ajuda dos
meus patrícios (sou natural de Luanda) conversei com o Presidente do
Departamento de Engenharia Mecânica (DEMEC) da Faculdade de Engenharia da
Universidade do Porto (FEUP) e fomos falar com o Vice-Reitor da UP que tratava
da Cooperação”, conta ao Folha 8 Carlos Pinho, professor da FEUP, acrescentando
que “ele disse-nos que o assunto iria muito certamente ser tratado a nível
central, nomeadamente do CRUP (Conselho de Reitores das Universidades
Portuguesas).”
Continua
Carlos Pinho: “Eu disse ao Vice-Reitor da UP para a Cooperação que ele iria
esperar sentado, porque daquela rapaziada do CRUP e de Lisboa não sairia nada
de jeito em tempo oportuno, e pedi-lhe autorização para, como professor da FEUP
e na condição de natural de Angola, eu tentar por minha iniciativa, responder a
pelo menos duas dessas universidades. Expliquei-lhes, ao Vice-Reitor e ao
Director do DEMEC, que do pondo de vista da Engenharia Mecânica interessava-nos
o corredor do Lobito”.
“Mas
não só à Engenharia Mecânica pois aquilo combinava tudo o que dissesse respeito
à engenharia: Agronomia (Huambo e Bié), Portos (Engenharia Civil – Lobito),
Benguela (CFB- Engenharias Mecânica e Electrotécnica), no futuro Engenharia
Química (porque se previa a construção de uma refinaria do Lobito), etc.”,
explica Carlos Pinho, acrescentando que “tive luz verde do Vice-Reitor e do
Director do DEMEC e posteriormente do Director da FEUP, que é o actual Reitor
da UP.”
Habituado
a meter mãos á obra, Carlos Pinho escreveu aos Reitores da Universidade José
Eduardo dos Santos – UJES (Huambo) e Katyavala Bwila – UKB (Benguela) “a propor
os nossos préstimos na elaboração dos planos de estudo dos vários cursos de
engenharia que desejassem.”
Tudo
corria bem: “Tive respostas positivas das duas universidades mas principalmente
da UKB”.
Foram
então criadas equipas na FEUP e propostos planos de estudos para vários cursos,
Mecânica, Civil e Química e mais tarde Electromecânica.
Carlos
Pinho conta que “o que interessava mais à UKB (e concretamente ao Instituto
Politécnico do Lobito – IPL) de imediato, era o curso de Mecânica. Trabalhamos
em conjunto e o pessoal do IPL da UKB conseguiu ter pronto no início de 2012 um
plano de estudos que enviou para aprovação, para o ministério competente em
Luanda.”
“As
coisas correram tão bem com esta interacção entre a FEUP e a UKB (e em certa
medida com a UJES) que as duas universidades convidaram uma equipa da UP a
deslocar-se às duas cidades, o que aconteceu em Dezembro de 2011, quando um
grupo de professores da UP passou uma semana em Angola.”
Mas…
“O
problema é que o dossier que foi enviado para Luanda ficou perdido lá pelo
ministério, de tal modo que já foram enviadas pelo menos mais três cópias do
mesmo, a ver se a maldita aprovação acontece. Mas nada até hoje”, lamenta
Carlos Pinho.
Entretanto
a UKB lá começou (em 2012, mesmo sem autorização) o curso de Engenharia
Mecânica, de tal modo que no presente ano lectivo de 2014/2015 mandou para o
Porto cinco dos seus melhores alunos a ver se eles lá completam o curso, pois
não havendo aprovação do curso pelo governo, a continuação destes jovens em
Angola seria um tiro no escuro.
“A
UP, ao abrigo de um protocolo assinado ente a UP e a UKB e ainda entre o IPL e
a FEUP, abriu vagas para estes cinco alunos e eles para cá vieram. Pretende-se
que sejam cinco futuros docentes do curso de Engenharia Mecânica da UKB.
Estamos todos a torcer por isso, embora estejamos a constatar com tristeza que
a sua formação de base é fraca e que eles têm imensas dificuldades em
acompanhar o nosso ritmo de trabalho”, relata Carlos Pinho.
Mas
há mais. “A cooperação com a UJES (em termos de Engenharia Mecânica) não deu
grande coisa, o curso de Mecânica que eles se propuseram fazer está baseado no
leccionado na Universidade Agostinho Neto e não é mais do que o antigo curso da
Universidade de Luanda (onde eu estudei até ao 3º ano), o qual está baseado na
reforma do Veiga Simão. Ou seja é um curso que na sua génese tem por base um
plano de estudos com 50 anos!!!”, desabafa num sentido lamento Carlos Pinho.
“Por
outro lado, já o plano de estudos que propusemos à UKB, e que eles aceitaram, teve
por base um estudo que estávamos na altura a fazer e que levou igualmente à
reformulação do plano de estudos, do nosso curso de Engenharia Mecânica aqui na
UP”, esclarece do docente da FEUP.
Diz
Carlos Pinho que, “nesse estudo de suporte do novo plano de estudos, analisamos
os cursos das melhores universidades do mundo. O plano de estudos proposto, sem
paternalismos, pela UP à UKB, levava em consideração as regras do processo de
Bolonha, ou seja propusemos algo devidamente avançado e ao nível do que se faz
de melhor no mundo e já a pensar em futuros processos de equivalência de graus
entre os diversos países e que, na sua essência, era o mesmo que queríamos para
o nosso nova plano de estudos.”
Com
satisfação, Carlos Pinho diz que “o pessoal do IPL da UKB foi impecável e
demonstrou empenho, profissionalismo e competência na preparação e
implementação do mesmo, mas tem esbarrado com a inépcia de Luanda, pois não há
nenhuma resposta ao pedido de aprovação/homologação do curso”.
Neste
contexto, o que se teme é que, com o actual ministro da tutela, “que não
esconde as suas simpatias por Cuba, o plano de estudo proposto acabe por ser
rejeitado e venha a ser substituído por algum clone cubano”.
Pois.
E como Cuba é uma potência mundial em Engenharia Mecânica ,
a coisa promete…
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