O
economista Francisco Louçã afirmou hoje que "pela primeira vez"
Portugal tem um governo que representa os portugueses na Europa, explicitando
que "é um governo grego, não é um governo português".
Falando
aos jornalistas à margem de uma conferência sobre dívida pública que decorre
hoje em Lisboa, Francisco Louçã disse que "toda a lógica europeia tem sido
no sentido da destruição", mas que "desde que o governo grego começou
a tomar uma posição forte, encontrou aliados na Europa, encontrou simpatia e a
perceção de que a cláusula de que a dívida deve estar ligada ao crescimento,
que foi o que salvou a Alemanha depois da guerra, é sensata".
O
professor universitário considera que "o jogo está em aberto", mas
que, "pela primeira vez, os povos da Europa têm quem os represente"
em Bruxelas: "Portugal tem pela primeira vez um governo que nos representa
na Europa, é um governo grego, não é um governo português, mas isso já é uma
grande notícia para Portugal", acrescentou.
Para
Francisco Louçã, é do interesse de Portugal estar ao lado da Grécia nas
negociações com a Europa, "porque o lado da Grécia é o lado da sensatez e
da responsabilidade, que fez com que a Europa mudasse imenso nestas últimas
duas semanas".
"Foi
a primeira vez que houve um ministro das Finanças que, ao lado do [ministro das
Finanças alemão, Wolfgang] Schäuble, lhe pode dizer que não concordava com a
continuação de uma política destruidora. E é verdade", disse ainda.
Francisco
Louçã defendeu que a cimeira europeia de hoje, em Bruxelas, "é de uma
enorme importância", porque "a Europa ou escolhe a continuação da
destruição ou procura virar de página e orientar-se para uma economia que
responde às pessoas".
Louçã
acredita que a posição da Grécia em Bruxelas pode ser o início de "uma
viragem da Europa", que é "tão difícil mas tão necessária", para
que haja "uma política europeia responsável".
O
economista reiterou que "Portugal precisa de estar do lado da criação de
emprego e do lado de uma economia responsável e tem de fechar as portas a este
delírio especulativo que tem prejudicado as economias e criado uma pilha de
dívida".
Francisco
Louçã, um dos signatários da "Carta ao primeiro-ministro de
Portugal", noticiada hoje pelo jornal Público, explicou que se trata de
"um texto muito sintético que apela ao Estado português para não ficar
isolado na continuação de uma política imprudente, prejudicial a Portugal e
prejudicial à Europa".
Para
o professor universitário, "se Portugal continuar a apoiar a posição
intransigente da senhora Merkel, isso quer dizer que não percebe a voz da
democracia da Grécia e sobretudo não percebe a importância que o sinal grego
tem para Portugal e para toda a Europa: a urgência de uma reestruturação da
dívida que permita voltar a ter responsabilidade nas economias".
Questionado
ainda sobre as declarações do Presidente da República, que disse que os
contribuintes portugueses já deram "muitos milhões de euros" à
Grécia, Francisco Louçã disse apenas que "é lamentável" e que Cavaco
Silva "deveria acabar o seu mandato com alguma dignidade".
Lusa,
em Notícias ao Minuto
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