sexta-feira, 13 de fevereiro de 2015

Moçambique: A PAZ, SEMPRE A PAZ!



Adelino Buque – Notícias (mz), em opinião e análise

A busca da paz constitui a tónica dominante do discurso e da acção do Presidente da República, Filipe Jacinto Nyusi. Nesse aspecto, o Presidente abdica até daquilo que é o direito constitucional. Filipe Nyusi desloca-se ao encontro de quem com ele pretende discutir os aspectos da paz sem observar o rigor protocolar. É a humildade de que sempre se falou dele; é a capacidade de dialogar com as diferentes forças políticas no interesse último da nação: a paz. Recordar que o Presidente Nyusi disse que “o meu único patrão é o povo” e é ao povo que pretende servir. Está no caminho certo.

As recentes declarações do líder da Renamo e a sua recusa em deslocar-se à Presidência da República constituíram um teste sobre o compromisso de Filipe Nyusi para com a paz. Numa análise cuidada, podemos reparar que, em menos de 24 horas o discurso do líder da Renamo havia mudado radicalmente. Ou seja, se em um comício popular desafiou o Presidente Nyusi a esperar-lhe em Lichinga ou em outro distrito de Cabo Delgado, repentinamente, anunciou a interrupção do seu “torneé” pelas províncias para se deslocar a Maputo, escusando-se de avançar com a agenda, reconhecendo, no entanto, tratar-se da capital do país, onde as coisas se decidem.

Se o líder da Renamo interrompeu o referido “torneé”, na minha opinião, não custava nada deslocar-se ao encontro do Presidente da República. Quer me parecer que Afonso Dhlakama quis usar a sua deslocação a Maputo como trunfo político, caso o Chefe do Estado não aceitasse um encontro fora da Presidência. Ele teria motivos para intensificar a linguagem belicista e de divisão do país, ora em “regiões autónomas” ora em “províncias autónomas”. Confesso que o tiro saiu pela culatra, como sói dizer-se, pois precisou de 45 minutos para se refazer do susto de receber o Presidente da República e tudo terminou na santa paz e, no final do encontro, manifestou-se “muito satisfeito” com os resultados.

O Chefe do Estado jurou servir a pátria e os cidadãos, em estreita observância à Constituição da República. No recente encontro com o líder da Renamo me parece ter declinado qualquer opinião em relação a instituição das chamadas “regiões autónomas” deixando ao critério da Assembleia da República e neste particular, Filipe Nyusi conseguiu que o assunto fosse tratado em sede do Parlamento e, simultaneamente, levar os deputados eleitos pela lista da Renamo a tomarem posse ou assentos, como está em voga hoje e de forma simples e humilde, levou a Renamo a respeitar a lei, por aquilo que é público, o anúncio sobre estes dois aspectos foi de Afonso Dhlakama.

Existe um dado de que não devemos nos surpreender a curto prazo, o retomar da mesma linguagem, caso a Assembleia da República não encontre argumentos para autonomizar as províncias ou regiões. Recordar que, neste momento, o país conta com apenas 53 territórios autarcizados e que os processos têm evoluído com alguma lentidão, não sei e nem quero me antecipar a Assembleia da República sobre a decisão final. No entanto, me parece que, a curto prazo, aquilo que é de urgência para a Renamo, pode não acontecer e, por via disso, criar-se novos ruídos e quiçá, espaço às novas ameaças de guerra.

É preciso recordar que, Afonso Dhlakama disse “se a Frelimo não aprovar, o problema será do Chefe do Estado que não vai poder governar bem” cito de memória. Este dado remete-nos a forma como determinados processos foram conseguidos, sem com isso dizer-se que sejam perfeitos, como é o caso do pacote eleitoral que depois de negociado no Centro Internacional de Conferências Joaquim Chissano foi levado a Assembleia da República e aprovado por unanimidade. Mas, apesar de Afonso Dhlakama ter declarado que “conseguimos tudo o que exigíamos e teremos eleições livres, justas e transparentes pela primeira vez em Moçambique” cito de memória Afonso Dhlakama, se assim é por que razão estamos hoje a discutir a regionalização, se as eleições gerais e das assembleias provinciais não tinham esse cunho local, regional e provincial? Confesso o meu cepticismo em relação a esta paz, se ela depender da aprovação pela Assembleia da República das regiões ou províncias autónomas. Então, todos os esforços e energia despendidos não terão o seu devido valor e a paz que tanto a desejamos, e o Presidente tanto faz para mantê-la de forma a sustentar o nosso desenvolvimento. Estamos numa situação ingrata e repete-se a história do “menino dono da bola se defende o seu chute, não há mais jogo se deixa entrar golo, até abraça o guarda-redes” simplesmente, numa situação em que estão em jogo vidas humanas e todo um desenvolvimento da nação moçambicana, hoje, a equipa dona da bola é a Renamo!

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