Adelino
Buque – Notícias (mz), em opinião e análise
A
busca da paz constitui a tónica dominante do discurso e da acção do Presidente
da República, Filipe Jacinto Nyusi. Nesse aspecto, o Presidente abdica até
daquilo que é o direito constitucional. Filipe Nyusi desloca-se ao encontro de
quem com ele pretende discutir os aspectos da paz sem observar o rigor
protocolar. É a humildade de que sempre se falou dele; é a capacidade de
dialogar com as diferentes forças políticas no interesse último da nação: a
paz. Recordar que o Presidente Nyusi disse que “o meu único patrão é o povo” e
é ao povo que pretende servir. Está no caminho certo.
As
recentes declarações do líder da Renamo e a sua recusa em deslocar-se à
Presidência da República constituíram um teste sobre o compromisso de Filipe
Nyusi para com a paz. Numa análise cuidada, podemos reparar que, em menos de 24
horas o discurso do líder da Renamo havia mudado radicalmente. Ou seja, se em
um comício popular desafiou o Presidente Nyusi a esperar-lhe em Lichinga ou em
outro distrito de Cabo Delgado, repentinamente, anunciou a interrupção do seu
“torneé” pelas províncias para se deslocar a Maputo, escusando-se de avançar
com a agenda, reconhecendo, no entanto, tratar-se da capital do país, onde as
coisas se decidem.
Se
o líder da Renamo interrompeu o referido “torneé”, na minha opinião, não
custava nada deslocar-se ao encontro do Presidente da República. Quer me
parecer que Afonso Dhlakama quis usar a sua deslocação a Maputo como trunfo
político, caso o Chefe do Estado não aceitasse um encontro fora da Presidência.
Ele teria motivos para intensificar a linguagem belicista e de divisão do país,
ora em “regiões autónomas” ora em “províncias autónomas”. Confesso que o tiro
saiu pela culatra, como sói dizer-se, pois precisou de 45 minutos para se
refazer do susto de receber o Presidente da República e tudo terminou na santa
paz e, no final do encontro, manifestou-se “muito satisfeito” com os
resultados.
O
Chefe do Estado jurou servir a pátria e os cidadãos, em estreita observância à
Constituição da República. No recente encontro com o líder da Renamo me parece
ter declinado qualquer opinião em relação a instituição das chamadas “regiões
autónomas” deixando ao critério da Assembleia da República e neste particular,
Filipe Nyusi conseguiu que o assunto fosse tratado em sede do Parlamento e,
simultaneamente, levar os deputados eleitos pela lista da Renamo a tomarem
posse ou assentos, como está em voga hoje e de forma simples e humilde, levou a
Renamo a respeitar a lei, por aquilo que é público, o anúncio sobre estes dois
aspectos foi de Afonso Dhlakama.
Existe
um dado de que não devemos nos surpreender a curto prazo, o retomar da mesma
linguagem, caso a Assembleia da República não encontre argumentos para
autonomizar as províncias ou regiões. Recordar que, neste momento, o país conta
com apenas 53 territórios autarcizados e que os processos têm evoluído com
alguma lentidão, não sei e nem quero me antecipar a Assembleia da República
sobre a decisão final. No entanto, me parece que, a curto prazo, aquilo que é
de urgência para a Renamo, pode não acontecer e, por via disso, criar-se novos
ruídos e quiçá, espaço às novas ameaças de guerra.
É
preciso recordar que, Afonso Dhlakama disse “se a Frelimo não aprovar, o
problema será do Chefe do Estado que não vai poder governar bem” cito de memória.
Este dado remete-nos a forma como determinados processos foram conseguidos, sem
com isso dizer-se que sejam perfeitos, como é o caso do pacote eleitoral que
depois de negociado no Centro Internacional de Conferências Joaquim Chissano
foi levado a Assembleia da República e aprovado por unanimidade. Mas, apesar de
Afonso Dhlakama ter declarado que “conseguimos tudo o que exigíamos e teremos
eleições livres, justas e transparentes pela primeira vez em Moçambique” cito
de memória Afonso Dhlakama, se assim é por que razão estamos hoje a discutir a
regionalização, se as eleições gerais e das assembleias provinciais não tinham
esse cunho local, regional e provincial? Confesso o meu cepticismo em relação a
esta paz, se ela depender da aprovação pela Assembleia da República das regiões
ou províncias autónomas. Então, todos os esforços e energia despendidos não
terão o seu devido valor e a paz que tanto a desejamos, e o Presidente tanto
faz para mantê-la de forma a sustentar o nosso desenvolvimento. Estamos numa
situação ingrata e repete-se a história do “menino dono da bola se defende o
seu chute, não há mais jogo se deixa entrar golo, até abraça o guarda-redes”
simplesmente, numa situação em que estão em jogo vidas humanas e todo um
desenvolvimento da nação moçambicana, hoje, a equipa dona da bola é a Renamo!
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