Uma
equipa trabalha neste momento num documento de princípios para reduzir o papel
da FRELIMO nos serviços públicos. Um dos integrantes, o reverendo Anastácio
Chembeze, defende a criação de mecanismos de monitorização.
A
equipa que está a desenhar a proposta de redução do papel da FRELIMO, o partido
no poder em Moçambique, nos serviços públicos é composta pelo ministro da
Justiça, Abdul Remane de Almeida, Eduardo Namburete da Resistência Nacional
Moçambicana (RENAMO) e o reverendo Anastácio Chembeze do Observatório
Eleitoral.
A
próxima segunda-feira (16.02), dia de mais uma ronda de negociações entre a
RENAMO e o Governo da FRELIMO, é a data limite para a apresentação da proposta.
Caso
as partes concordem com a proposta deverão dar-lhe o devido encaminhamento,
revelou em entrevista à DW África o reverendo Anastácio Chembeze.
DW
África: Como é possível assegurar a colocação de quadros por mérito na função
pública e não por filiação partidária?
Anastácio
Chembeze (AC): Penso que, neste momento, o Estado criou dispositivos.
Creio que o temos que fazer é ter um mecanismo de controlo e de monitoria. E
isso, de facto, tem de acontecer. Por exemplo, o estatuto geral dos
funcionários e agentes do Estado diz o que os funcionários devem fazer, como
devem proceder e tudo o mais.
Mas
também há outros instrumentos que foram criados, como a Lei de Base da
Administração Pública, sobre o funcionamento da administração pública, e a Lei
do Procedimento Administrativo.o Estado
DW
África: Prevê-se algo no que diz respeito à nomeação de presidentes de
conselhos de administração (PCA) de órgãos de comunicação públicos como a TVM –
Televisão de Moçambique e a Rádio Moçambique (RM)?
AC: Não
sei. Neste momento, o assunto ainda está em discussão. E sendo eu
um dos mediadores tenho alguma dificuldade em comentar até que as partes
cheguem a acordo.
DW
África: E como é possível assegurar uma cobertura jornalística mais equilibrada
no que diz respeito principalmente à RM e à TVM?
AC: Primeiro,
é preciso haver vontade política para isso acontecer. E os profissionais devem
ter o comando para trabalhar de forma mais aberta, transparente e apartidária.
Porque, de facto, se os órgãos são públicos devem servir o interesse público. E
o interesse público é apartidário.
DW
África: Por exemplo, os jornais Notícias e Domingo são
órgãos estatais que não têm grande credibilidade exactamente por serem do
Estado e ligados à FRELIMO. Acha que um jornalismo nesta linha é algo para se
manter ou realmente não faz sentido?
AC: Acho
que é necessária uma revitalização, de maneira a manterem o seu papel real,
porque são importantes e desempenham um papel fundamental na sociedade, têm
maior abrangência e possibilidade de recursos. Se estes órgãos desempenharem o
seu papel de forma a informar e formar as pessoas serão um olho crítico para
todo o processo de governação. E então as pessoas vão sentir-se parte.
Aliás,
olhando para o discurso de tomada de posse do Presidente [Filipe Nyusi], ele
fala da necessidade de toda a sociedade monitorizar o processo de governação. A
imprensa tem esse papel. E embora seja pública, não significa que não deve ser
crítica. Ser crítico não significa ser contra. Ter um olhar mais crítico até
pode fazer sugestões para melhorar.
DW
África: E acha realista conseguir despartidarizar o Estado quando o maior
partido da oposição, a RENAMO, por exemplo, exige a partidarização das Forças Armadas
do país e da polícia?
AC: De
facto, é um paradoxo. Gostava de esperar e ver o rumo que vai seguir esse
documento sobre a despartidarização. Porque se, por um lado, está-se a advogar
a despartidarização do Estado e, por outro, está-se a partidarizar ou a
bipartidarizar, há, de facto, um paradoxo. E parece que a discussão que estamos
a fazer não tem como objetivo servir um interesse público único e fazer com que
as instituições sejam cada vez mais credíveis.
Nádia
Issufo – Deutsche Welle
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