A
elite de radicais que dirige Portugal só nos pode fazer sentir vergonha alheia.
Portaram-se estes dias como autênticos cães de fila bem treinados.
Mas
se este processo de regressão civilizacional em curso teve consequências
sociais brutais, a loucura europeia destes anos teve também consequências
políticas arrasadoras. Os chamados partidos socialistas protagonizaram uma
impressionante viragem à direita sendo protagonistas, aliados ou submissos de
todas as políticas de austeridade destes anos. Voltámos a ter que lidar com a
brutal ameaça das organizações fascistas e de extrema-direita. E assistimos
agora a uma recomposição na esquerda com um conjunto de partidos com um
programa anti-austeritário e de desobediência às instituições europeias que
conseguem ser maioritários nos seus países.
Era
impossível que os burocratas europeus assistissem sem reação a este furacão
político. Depois do governo do Syriza na Grécia ter colocado pela primeira vez
a hipótese de uma alternativa política de esquerda vencer na Europa e depois do
governo alemão ter assumido que é ele quem dirige a política europeia, Jean-Claude
Juncker veio num tom surpreendente afirmar que “pecámos contra a dignidade dos
povos, especialmente da Grécia, em Portugal e na Irlanda” referindo inclusive
que “falta legitimidade democrática à troika”. De facto, só podemos valorizar a
autocrítica de Juncker : “Eu era presidente do Eurogrupo e pareço estúpido em
dizer isto, mas há que tirar lições da história e não repetir erros”.
Quais
serão estas lições e qual a sua tradução política imediata? Vai a Comissão
Europeia tomar todas as diligências para que o governo grego possa cumprir o
programa político que foi democraticamente sufragado? Vai a Comissão Europeia
enfrentar a absurda posição alemã que consiste em dizer que as eleições não
contam para nada porque a Grécia só pode implementar mais políticas de
austeridade? Tenho dúvidas. Mas se a autocrítica tardia de Juncker nos deve
impressionar, o que foi mesmo arrebatador foi a reação das autoridades
portuguesas a esta declaração e ao estado de negociação entre a Grécia e a
Europa.
Luís
Marques Guedes irritou-se e foi direito ao assunto: “Acho, manifestamente, que
é uma declaração bastante infeliz do presidente da Comissão Europeia, porque
nunca a dignidade de Portugal ou dos portugueses foi beliscada pela troika ou
qualquer das suas instituições”. Nunca, jamais, em tempo algum. A profunda
crise social que Portugal vive nem sequer beliscou a dignidade de quem vive e
trabalha em Portugal.
Maria
Luís Albuquerque mostrou-se imensamente indignada pelo facto dos jornalistas só
lhe fazerem perguntas pela Grécia e não quererem saber nada sobre o seu milagre
da multiplicação. Isto é, num dia ter dito que não há dinheiro para
investimento e criação de emprego e no dia seguinte ter encontrado 14 mil
milhões de euros no fundo do pote para pagar ao FMI em antecipado.
Cavaco
Silva enfureceu-se e à saída de uma feira rural onde não devia haver bolo-rei
para todos, decidiu dar declarações para dizer que os contribuintes portugueses
já pagaram o suficiente da irresponsabilidade do povo grego. Felizmente falta
pouco tempo para este senhor voltar para a sua marquise.
Paulo
Portas, no seu estilo de chico esperto, alternou entre o argumento de que “foi
a dignidade dos portugueses, o esforço e o sacrifício” que permitiu a
recuperação do país (?!) e ao mesmo tempo lembrou que classificou muitas vezes
a situação de Portugal como a de um protetorado.
Passos
Coelho, depois de ter mandado Maria Luís Albuquerque fazer serventia a
Schäuble, afirmou esta sexta-feira no parlamento de que não apoiará nenhuma
proposta que beneficie o povo grego e o povo europeu porque “não foi eleito
para defender os interesses do Syriza”.
Esta
elite de radicais que dirige Portugal só nos pode fazer sentir vergonha alheia.
Portaram-se estes dias como autênticos cães de fila bem treinados. Só que
daqueles que levam porrada dos donos a toda a hora e, ainda assim, voltam
sempre para o seu colo com um sorriso nos beiços.
O
seu tempo será curto. Tic-tac. Tic-tac.
*Sociólogo.
Dirigente estudantil. Dirigente do Bloco de Esquerda.
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