Paula
Ferreira – Jornal de Notícias, opinião (ontem)
A
semana será decisiva para a Grécia. E para a Europa. Ontem, o novo Governo
grego apresentou o seu programa. Um programa de combate a uma crise
humanitária. Para os que falam da inevitabilidade de recuo, Alexis Tsipras foi
claro: mantém a proposta do aumento do salário mínimo e da recontratação dos
funcionários públicos, despedidos por imposição da troika. Tudo isto à revelia
das diretivas expressas, nos últimos dias, por Berlim.
Por
isso mesmo, a reunião do Eurogrupo desta semana prevê-se, no mínimo, crispada.
O Governo grego não mostra vontade de abdicar do essencial, aquilo que lhe
permitirá não defraudar o voto de confiança do povo. Aconteça o que acontecer,
nos próximos tempos, Tsipras e Varoufakis deram-nos já algo que não devemos
deixar fugir por entre os dedos. A política volta à Europa. Como lembrou, há
dias, Manuela Ferreira Leite, "a discussão deixou de ser técnica, passou a
ser política".
Quem,
como o primeiro-ministro Passos Coelho, afirma que a Grécia não é um problema
dos portugueses, ou dos espanhóis, terá, por certo, um conceito estranho da
Europa. Demonstra alguma dificuldade em ler os sinais de mudança na sociedade
europeia: na Grécia e não só. Teremos de esperar mais uns meses para ver os
resultados em Espanha - e que dirão a senhora Merkel e os seus seguidores, se o
Podemos afastar do poder o PP e o PSOE?
Olhemos,
por enquanto, para a península helénica. Se a Grécia sair do euro, como cada
vez mais vozes adivinham, a discussão - quer Passos e Merkel queiram ou não -
cairá obviamente na esfera da política. O futuro da União Europeia, tal como os
seus criadores a idealizaram, fica indefinido. Poderá ser o princípio de uma
outra coisa que, neste momento, não conseguimos vislumbrar. Graças aos gregos,
a história (que nunca se repete, dizem os entendidos) faz o seu caminho.
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