terça-feira, 10 de fevereiro de 2015

NA EUROPA A HISTÓRIA CONTINUA



Paula Ferreira – Jornal de Notícias, opinião (ontem)

A semana será decisiva para a Grécia. E para a Europa. Ontem, o novo Governo grego apresentou o seu programa. Um programa de combate a uma crise humanitária. Para os que falam da inevitabilidade de recuo, Alexis Tsipras foi claro: mantém a proposta do aumento do salário mínimo e da recontratação dos funcionários públicos, despedidos por imposição da troika. Tudo isto à revelia das diretivas expressas, nos últimos dias, por Berlim.

Por isso mesmo, a reunião do Eurogrupo desta semana prevê-se, no mínimo, crispada. O Governo grego não mostra vontade de abdicar do essencial, aquilo que lhe permitirá não defraudar o voto de confiança do povo. Aconteça o que acontecer, nos próximos tempos, Tsipras e Varoufakis deram-nos já algo que não devemos deixar fugir por entre os dedos. A política volta à Europa. Como lembrou, há dias, Manuela Ferreira Leite, "a discussão deixou de ser técnica, passou a ser política".

Quem, como o primeiro-ministro Passos Coelho, afirma que a Grécia não é um problema dos portugueses, ou dos espanhóis, terá, por certo, um conceito estranho da Europa. Demonstra alguma dificuldade em ler os sinais de mudança na sociedade europeia: na Grécia e não só. Teremos de esperar mais uns meses para ver os resultados em Espanha - e que dirão a senhora Merkel e os seus seguidores, se o Podemos afastar do poder o PP e o PSOE?

Olhemos, por enquanto, para a península helénica. Se a Grécia sair do euro, como cada vez mais vozes adivinham, a discussão - quer Passos e Merkel queiram ou não - cairá obviamente na esfera da política. O futuro da União Europeia, tal como os seus criadores a idealizaram, fica indefinido. Poderá ser o princípio de uma outra coisa que, neste momento, não conseguimos vislumbrar. Graças aos gregos, a história (que nunca se repete, dizem os entendidos) faz o seu caminho.

Sem comentários:

Mais lidas da semana