Bocas
do Inferno
Mário
Motta, Lisboa
Correia
de Campos, ex-ministro do governo de José Sócrates, não foi o ministro da saúde
que no seu pelouro zelasse primordialmente pelos interesses dos portugueses,
cortes e recortes existiram no seu ministério anos antes da tomada de posse do
atual governo. Isso não invalida que Campos ponha uma questão muito pertinente
na entrevista concedida à TSF de que reproduzimos parcial peça a seguir. Ele
pergunta: “Porquê deixar morrer doentes e construir novo terminal de
contentores?”
Existem
várias respostas para que as decisões fossem assim mas a que parece
corresponder à realidade encontramos nas mortes causadas: vasta maioria eram
pessoas reformadas, a receber pensões de reforma, pessoas acima dos 65 anos de
idade. Morreram por incúria do ministro e do governo ou também por uma certa
conveniência em reduzir o número de reformados e pensionistas?
É
absolutamente legítimo que se coloque esta questão. Tem estado à vista de todos
o desprezo votado por Passos Coelho aos mais velhos. Aos que consubstanciam,
para os do governo, um peso orçamental irrecuperável. São velhos, improdutivos,
doentes que dão imensas despesas… Não fazem cá falta nenhuma!
Evidentemente
que nem Correia de Campos, nem os alinhados com o governo seriam capazes de
aceitar que foi delineada um política para assassinar os mais velhos, os que
pesam no orçamento sem perspetivas de jamais voltarem a contribuir para a
sociedade. Dificilmente os portugueses aceitarão tais intenções dos governantes…
e além disso não há como provar. Certamente que tal política não consta materialmente
descrita como objetivo do governo de Passos-Portas-Cavaco. Nem será preciso.
Basta que vejamos o recrudescer dos cortes na saúde e em todas as limitações
impostas para sabermos que a perspetiva era acontecer o que aconteceu e ainda hoje acontece. Grande número de mais idosos que recorreram aos hospitais
morreram ali à espera que os assistissem ou sob atenção médica mas…
tardiamente.
Correia
de Campos diz que o ministro da saúde, o governo, fizeram poupanças espantosas
com os cortes, e elogia o facto. Mas diz também que se esqueceram das pessoas.
Não. Não se esqueceram das pessoas. Qualquer analfabeto sabia que o resultado
de tantos cortes no setor da saúde desembocaria em maiores sofrimentos para as
populações e em muito mais mortes. Mortes que podiam e deviam ter sido evitadas.
Para
muitos portugueses este foi um assassinato premeditado e absolutamente
irresponsável e inadmissível. Paulo Macedo sabia que o resultado seria este.
Nem as declarações do desprovido de coluna vertebral diretor-geral de saúde,
Francisco George, referindo excesso de frio anormal para a época e blá-blá-blá, nem quaisquer
outras justificações limparão da memória de imensos portugueses este
assassinato coletivo. Muito menos daqueles que perderam os seus entes queridos,
pais, tios e avós. A política do governo foi e é criminosa naquilo que contém
de excesso irracional de limitações e cortes no setor da saúde. Para os criminosos
que causam a morte das vítimas só existe uma palavra para os definir:
assassinos.
Segue-se
a peça da TSF que no original contém um vídeo da entrevista. (MM / PG)
Correia
de Campos: “Porquê deixar morrer doentes e construir novo terminal de
contentores?”
Em
entrevista à TSF, o socialista Correia de Campos questiona as opções do Governo
em matéria de saúde. Apesar de elogiar o trabalho de Paulo Macedo na contenção
da despesa, o antigo ministro da Saúde afirma que, pelo caminho, o ministro
esqueceu-se das pessoas.
Questionado
sobre se as escolhas do Governo, em tempos de grande contenção orçamental, não
são compreensíveis e racionais, o antigo ministro socialista responde com uma
pergunta: «porque é que o governo há de escolher entre deixar morrer doentes
que podem sobreviver, e gastar dinheiro a fazer um terminal portuário na outra
margem, com custos que ninguém conhece, e cuja análise custo-benefício está
longe de ser conhecida? Porque é que isso há de ser uma prioridade?»
Correia
de Campos, catedrático reformado da Escola Nacional de Saúde Pública, olha para
as últimas semanas de polémicas e casos na área da saúde, e afirma que «tudo
isto era previsível, embora não fosse visível», concluindo que os problemas nas
urgências, por exemplo, são resultado direto de quase quatro anos de grande
contenção orçamental no Ministério da Saúde.
Entre
2008 e 2014, afirma o antigo ministro, a despesa em saúde caiu cerca de 1,2 mil
milhões de euros, o que é «aparentemente a parte positiva» do trabalho do atual
ministro, mas «por baixo está a parte negativa, estão as pessoas», diz Correia
de Campos.
Europa
Correia
de Campos comenta as declarações de Passos Coelho e Cavaco Silva sobre a
Grécia, e afirma que Portugal tem assumido posições «quase fundamentalistas»,
com acusações implícitas de que «os gregos são uns preguiçosos, e não
cumpriram», enquanto nós cumprimos.
O
antigo eurodeputado socialista, entre 2009 e 2014, afirma que Portugal tem, «ao
mais alto nível», uma «visão empedernida» sobre a política europeia. Ainda
assim, Correia de Campos acredita que «o primeiro-ministro já percebeu que não
pode continuar a ser o menino bonito da senhora professora (Merkel)».
O
antigo ministro socialista critica o que classifica como a «visão cultural» da
crise grega, assumida pelo governo e pela presidência da república, de que
«tudo isto é culpa de quem gastou, e não de quem aproveitou a moeda única para
ampliar as suas vendas para a classe média grega e portuguesa».
Paulo
Tavares – TSF
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