domingo, 15 de fevereiro de 2015

Portugal: ASSASSINOS


Bocas do Inferno

Mário Motta, Lisboa

Correia de Campos, ex-ministro do governo de José Sócrates, não foi o ministro da saúde que no seu pelouro zelasse primordialmente pelos interesses dos portugueses, cortes e recortes existiram no seu ministério anos antes da tomada de posse do atual governo. Isso não invalida que Campos ponha uma questão muito pertinente na entrevista concedida à TSF de que reproduzimos parcial peça a seguir. Ele pergunta: “Porquê deixar morrer doentes e construir novo terminal de contentores?”

Existem várias respostas para que as decisões fossem assim mas a que parece corresponder à realidade encontramos nas mortes causadas: vasta maioria eram pessoas reformadas, a receber pensões de reforma, pessoas acima dos 65 anos de idade. Morreram por incúria do ministro e do governo ou também por uma certa conveniência em reduzir o número de reformados e pensionistas?

É absolutamente legítimo que se coloque esta questão. Tem estado à vista de todos o desprezo votado por Passos Coelho aos mais velhos. Aos que consubstanciam, para os do governo, um peso orçamental irrecuperável. São velhos, improdutivos, doentes que dão imensas despesas… Não fazem cá falta nenhuma!

Evidentemente que nem Correia de Campos, nem os alinhados com o governo seriam capazes de aceitar que foi delineada um política para assassinar os mais velhos, os que pesam no orçamento sem perspetivas de jamais voltarem a contribuir para a sociedade. Dificilmente os portugueses aceitarão tais intenções dos governantes… e além disso não há como provar. Certamente que tal política não consta materialmente descrita como objetivo do governo de Passos-Portas-Cavaco. Nem será preciso. Basta que vejamos o recrudescer dos cortes na saúde e em todas as limitações impostas para sabermos que a perspetiva era acontecer o que aconteceu e ainda hoje acontece. Grande número de mais idosos que recorreram aos hospitais morreram ali à espera que os assistissem ou sob atenção médica mas… tardiamente.

Correia de Campos diz que o ministro da saúde, o governo, fizeram poupanças espantosas com os cortes, e elogia o facto. Mas diz também que se esqueceram das pessoas. Não. Não se esqueceram das pessoas. Qualquer analfabeto sabia que o resultado de tantos cortes no setor da saúde desembocaria em maiores sofrimentos para as populações e em muito mais mortes. Mortes que podiam e deviam ter sido evitadas.

Para muitos portugueses este foi um assassinato premeditado e absolutamente irresponsável e inadmissível. Paulo Macedo sabia que o resultado seria este. Nem as declarações do desprovido de coluna vertebral diretor-geral de saúde, Francisco George, referindo excesso de frio anormal para a época e blá-blá-blá, nem quaisquer outras justificações limparão da memória de imensos portugueses este assassinato coletivo. Muito menos daqueles que perderam os seus entes queridos, pais, tios e avós. A política do governo foi e é criminosa naquilo que contém de excesso irracional de limitações e cortes no setor da saúde. Para os criminosos que causam a morte das vítimas só existe uma palavra para os definir: assassinos.

Segue-se a peça da TSF que no original contém um vídeo da entrevista. (MM / PG)

Correia de Campos: “Porquê deixar morrer doentes e construir novo terminal de contentores?”

Em entrevista à TSF, o socialista Correia de Campos questiona as opções do Governo em matéria de saúde. Apesar de elogiar o trabalho de Paulo Macedo na contenção da despesa, o antigo ministro da Saúde afirma que, pelo caminho, o ministro esqueceu-se das pessoas.

Questionado sobre se as escolhas do Governo, em tempos de grande contenção orçamental, não são compreensíveis e racionais, o antigo ministro socialista responde com uma pergunta: «porque é que o governo há de escolher entre deixar morrer doentes que podem sobreviver, e gastar dinheiro a fazer um terminal portuário na outra margem, com custos que ninguém conhece, e cuja análise custo-benefício está longe de ser conhecida? Porque é que isso há de ser uma prioridade?»

Correia de Campos, catedrático reformado da Escola Nacional de Saúde Pública, olha para as últimas semanas de polémicas e casos na área da saúde, e afirma que «tudo isto era previsível, embora não fosse visível», concluindo que os problemas nas urgências, por exemplo, são resultado direto de quase quatro anos de grande contenção orçamental no Ministério da Saúde.

Entre 2008 e 2014, afirma o antigo ministro, a despesa em saúde caiu cerca de 1,2 mil milhões de euros, o que é «aparentemente a parte positiva» do trabalho do atual ministro, mas «por baixo está a parte negativa, estão as pessoas», diz Correia de Campos.

Europa

Correia de Campos comenta as declarações de Passos Coelho e Cavaco Silva sobre a Grécia, e afirma que Portugal tem assumido posições «quase fundamentalistas», com acusações implícitas de que «os gregos são uns preguiçosos, e não cumpriram», enquanto nós cumprimos.

O antigo eurodeputado socialista, entre 2009 e 2014, afirma que Portugal tem, «ao mais alto nível», uma «visão empedernida» sobre a política europeia. Ainda assim, Correia de Campos acredita que «o primeiro-ministro já percebeu que não pode continuar a ser o menino bonito da senhora professora (Merkel)».

O antigo ministro socialista critica o que classifica como a «visão cultural» da crise grega, assumida pelo governo e pela presidência da república, de que «tudo isto é culpa de quem gastou, e não de quem aproveitou a moeda única para ampliar as suas vendas para a classe média grega e portuguesa».

Paulo Tavares – TSF

Sem comentários:

Mais lidas da semana