sábado, 14 de fevereiro de 2015

Portugal: PAULO MORAIS TESTA NOVO PARTIDO




Já falou com muita gente. Pode ir às legislativas e às presidenciais. Quer aproveitar a máquina da candidatura de Nobre.

Bernardo Ferrão e Filipe Santos Costa - Expresso

Paulo Morais começa por responder à defesa: "Estou a preparar qualquer coisa. O quê? Não sei." Mas rapidamente se liberta e conta ao Expresso que de facto quer ter "uma intervenção política ativa". O ex-número dois de Rui Rio na câmara do Porto tem uma certeza - quer voltar à política ativa - e um calendário definido: a decisão sobre o quê e como fará terá de ser tomada em breve, "até março". O timing parece escolhido a pensar nas legislativas, mas Paulo Morais não o confirma.

Segundo o Expresso apurou, desde finais do anos passado que o vice-presidente da Associação Cívica Transparência e Integridade tem contactado possíveis apoiantes para uma candidatura presidencial ou a criação de um novo partido que possa ir já às legislativas deste ano. A decisão sobre o que fazer não está tomada, e uma das hipóteses é mesmo juntar as duas possibilidades: Morais patrocinar a criação de um partido, para testar a estrutura e o discurso nas legislativas, mas reservando-se para a corrida a Belém.
'Namoro' a Nobre

Entre os contactos que o ex-autarca do Porto tem feito contam-se pessoas que estiveram na candidatura presidencial de Fernando Nobre, em 2010 e 2011. Uma aventura à qual Morais também esteve ligado, no distrito do Porto. A estrutura então constituída para apoiar o presidente da AMI não se desfez completamente, os contactos informais entre responsáveis locais e nacionais dessa candidatura continuaram desde 2011, e essa pode ser a base do movimento que Paulo Morais quer agora liderar. Há dirigentes distritais da máquina de Fernando Nobre que se têm mantido em rede e há gente com vontade de tentar repetir o brilharete de 2011, quando o médico da AMI chegou aos 14% (quase 600 mil votos), com um discurso antissistema e de rutura bastante parecido com o que poderá ser protagonizado pelo vice-presidente da Transparência e Integridade.

"Há gente muito disponível para estruturar um movimento para fazer algo mais sério", confirma uma das pessoas que admite fazer essa transição da candidatura de Nobre para um movimento promovido por Morais. Os exemplos do Podemos e do Cidadãos, os dois partidos que estão a agitar Espanha, são olhados com atenção. Ter o apoio de Nobre é outro objetivo de Paulo Morais. E o fundador da AMI não põe essa hipótese de parte. Tem dito que não se envolverá com nenhum dos partidos existentes, mas que está atento a novas propostas.

Depois de sair da câmara do Porto em rutura com Rui Rio, Paulo Morais tornou-se uma das vozes mais ativas na denúncia da promiscuidade entre os poderes políticos e os poderes económicos. Defende mesmo que a "crise foi provocada pela corrupção" e não porque os portugueses tenham vivido acima das suas possibilidades. É nessa frente que se tem destacado nos últimos anos e é essa luta que quer agora travar no palco político. O seu cargo como vice-presidente da Transparência e Integridade garante-lhe espaço mediático, e a promoção do livro que publicou sobre corrupção tem-no levado a vários pontos do país, em conferências que servem para alargar contactos.

"Estarei no combate em que acho que posso ser mais útil e eficaz. Quero mesmo abalar o sistema." Como? Não tem resposta definitiva. "Não ando só a refletir, ando a falar com muita gente para ver que apoios tenho, mas há muita gente que também quer falar comigo. Qual a síntese final? Neste momento não existe."

Foto: Lucília Monteiro

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