Já
falou com muita gente. Pode ir às legislativas e às presidenciais. Quer
aproveitar a máquina da candidatura de Nobre.
Bernardo
Ferrão e Filipe Santos Costa - Expresso
Paulo
Morais começa por responder à defesa: "Estou a preparar qualquer coisa. O
quê? Não sei." Mas rapidamente se liberta e conta ao Expresso que de facto
quer ter "uma intervenção política ativa". O ex-número dois de Rui
Rio na câmara do Porto tem uma certeza - quer voltar à política ativa - e um
calendário definido: a decisão sobre o quê e como fará terá de ser tomada em
breve, "até março". O timing parece escolhido a pensar nas
legislativas, mas Paulo Morais não o confirma.
Segundo
o Expresso apurou, desde finais do anos passado que o vice-presidente da
Associação Cívica Transparência e Integridade tem contactado possíveis
apoiantes para uma candidatura presidencial ou a criação de um novo partido que
possa ir já às legislativas deste ano. A decisão sobre o que fazer não está
tomada, e uma das hipóteses é mesmo juntar as duas possibilidades: Morais
patrocinar a criação de um partido, para testar a estrutura e o discurso nas
legislativas, mas reservando-se para a corrida a Belém.
'Namoro'
a Nobre
Entre
os contactos que o ex-autarca do Porto tem feito contam-se pessoas que
estiveram na candidatura presidencial de Fernando Nobre, em 2010 e 2011. Uma
aventura à qual Morais também esteve ligado, no distrito do Porto. A estrutura
então constituída para apoiar o presidente da AMI não se desfez completamente,
os contactos informais entre responsáveis locais e nacionais dessa candidatura
continuaram desde 2011, e essa pode ser a base do movimento que Paulo Morais
quer agora liderar. Há dirigentes distritais da máquina de Fernando Nobre que
se têm mantido em rede e há gente com vontade de tentar repetir o brilharete de
2011, quando o médico da AMI chegou aos 14% (quase 600 mil votos), com um
discurso antissistema e de rutura bastante parecido com o que poderá ser protagonizado
pelo vice-presidente da Transparência e Integridade.
"Há
gente muito disponível para estruturar um movimento para fazer algo mais
sério", confirma uma das pessoas que admite fazer essa transição da
candidatura de Nobre para um movimento promovido por Morais. Os exemplos do
Podemos e do Cidadãos, os dois partidos que estão a agitar Espanha, são olhados
com atenção. Ter o apoio de Nobre é outro objetivo de Paulo Morais. E o
fundador da AMI não põe essa hipótese de parte. Tem dito que não se envolverá
com nenhum dos partidos existentes, mas que está atento a novas propostas.
Depois
de sair da câmara do Porto em rutura com Rui Rio, Paulo Morais tornou-se uma
das vozes mais ativas na denúncia da promiscuidade entre os poderes políticos e
os poderes económicos. Defende mesmo que a "crise foi provocada pela
corrupção" e não porque os portugueses tenham vivido acima das suas
possibilidades. É nessa frente que se tem destacado nos últimos anos e é essa
luta que quer agora travar no palco político. O seu cargo como vice-presidente
da Transparência e Integridade garante-lhe espaço mediático, e a promoção do
livro que publicou sobre corrupção tem-no levado a vários pontos do país, em
conferências que servem para alargar contactos.
"Estarei
no combate em que acho que posso ser mais útil e eficaz. Quero mesmo abalar o
sistema." Como? Não tem resposta definitiva. "Não ando só a refletir,
ando a falar com muita gente para ver que apoios tenho, mas há muita gente que
também quer falar comigo. Qual a síntese final? Neste momento não existe."
Foto:
Lucília Monteiro
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