domingo, 1 de fevereiro de 2015

Portugal: URGÊNCIA DE ALTERNATIVA POLÍTICA



Seara Nova, editorial 

Portugal e os portugueses não aguentam mais um ano desta política! 

De urgência, a convocação de eleições antecipadas tornou-se uma emergência. Nem um só indicador económico e social consegue esconder o retrocesso em termos de direitos e conquistas, o retrocesso civilizacional, que três anos de Governo do PSD e CDS, com o conforto de uma maioria absoluta e de um Presidente da República complacente, acarretaram para o país e para a vida da imensa maioria dos portuguesas e das portuguesas.

"Nem um só indicador económico e social consegue esconder o retrocesso em termos de direitos e conquistas, o retrocesso civilizacional"

Desemprego, empobrecimento, salários, pensões e reformas congelados ou mesmo subtraídos, brutal carga fiscal, encarecimento do acesso à saúde, educação, habitação, justiça, transportes, privatização de serviços essenciais ao progresso e desenvolvimento económico e às mais básicas condições de vida digna das pessoas, somatório interminável de casos de contornos dúbios envolvendo o sector financeiro, que já não podem deixar alguém indiferente, são as consequências de uma política de extrema-direita, neoliberal e subserviente, da austeridade propagandeada como inevitável.

"Os negócios passaram para o centro da política, afastando para um subúrbio longínquo os cidadãos"

Pobreza e fome infernizam a vida de milhares de portugueses e portuguesas, sem poupar crianças. Do lado oposto, a riqueza cresce, em valores absolutos, entre uns poucos.

Notícia diária, a corrupção e a fraude são banalizadas. A ética e os valores morais sonegados à missão da causa e bem-estar públicos em nome de “mercados”, de especulação bolsista, de lucro fácil e crescente. Os negócios passaram para o centro da política, afastando para um subúrbio longínquo os cidadãos e as cidadãs, aos quais se ludibria o voto, com discursos redondos e promessas nunca cumpridas.

"Transformado em executante de ordens emanadas da União Europeia, o Governo PSD e CDS perdeu a legitimidade política e mesmo democrática"

Portugal e os portugueses não aguentam mais um ano desta política!


Transformado em executante de ordens emanadas da União Europeia, o Governo PSD e CDS perderam a legitimidade política e mesmo democrática. A democracia consubstanciada no voto periódico não permite justificar a manutenção de um Executivo que, permanentemente, age ao arrepio da Constituição da República, rasgando-a a seu bel-prazer sempre que a subserviência ao estrangeiro o imponha, revendo-a pela porta das traseiras com a produção de novos decretos que contornem a Lei Fundamental que o Presidente da República, Aníbal Cavaco, jurou cumprir e fazer cumprir.

O garrote que representa o Tratado Orçamental serve agora para mais empobrecimento, para mais e maiores atropelos aos direitos dos trabalhadores – de que é exemplo o estado da negociação colectiva -, para mais e maior perda de soberania.

Um governo que à frente dos interesses do País e dos cidadãos e cidadãs coloca os interesses do grande capital internacional e transnacional não pode invocar legitimidade democrática para se manter em funções. 

O primeiro-ministro Pedro Passos Coelho não pode continuar a mascarar a verdadeira motivação que levou o seu partido a chumbar o PEC IV. A pressa com que acolheu as imposições de FMI/BCE/CE são prova inequívoca dessa mesma motivação e provam sem tibieza que PSD e CDS chegaram ao Governo pela via da falsa promessa de honrar o compromisso que propuseram aos portugueses e às portuguesas, amplificado por uma comunicação social que recusa a pluralidade de opiniões.

"Portugal e os portugueses precisam de uma política alternativa. Uma política que recoloque no epicentro da sua prática os cidadãos e as cidadãs"

Portugal e os portugueses não aguentam mais um ano desta política!

Porém, Portugal e os portugueses não aguentam mais a alternância política que há 38 anos vigora.

Um alternância política cega às exigências da União Europeia – nem um só tratado importante os portugueses e as portuguesas tiveram direito a debater e referendar – que, a partir da análise dos indicadores económico e sociais, conduziram à actual situação do País. 

As parcerias público-privado (PPP) não surgiram nos últimos três anos, assim como, a retirada de direitos – nomeadamente aos trabalhadores da administração pública -, os aumentos de impostos, a desvalorização da escola pública, as crescentes dificuldades impostas ao Serviço Nacional de Saúde, aos seus profissionais e utentes, a asfixia da Segurança Social, a precariedade laboral tornada norma pelo Código Laboral II, a privatização de empresas-chave para o desenvolvimento do País. E muitos outros exemplos poderiam adicionar-se com o objectivo de ilustrar o resultado da alternância de 38 anos, sem escamotear, entre estes, a perda de soberania nacional.

"É hora de anular preconceitos, ambições hegemónicas e marginalizações. É hora de, respeitando as diferenças, procurar a convergência necessária"

Portugal e os portugueses precisam de uma política alternativa. Uma política de esquerda, assente na ética e nos valores que, desde a Revolução Francesa, caracterizam a esquerda. Uma política que recoloque no epicentro da sua prática os cidadãos e as cidadãs. Uma política efectivamente ao serviço das pessoas, da democracia política, económica, social, cultural e ambiental. 

Não basta mudar os rostos. É necessário mudar as vontades, ter a coragem de transformar o futuro. À esquerda, o desafio que se coloca é elevado. É hora de anular preconceitos, ambições hegemónicas e marginalizações. É hora de, respeitando as diferenças, procurar a convergência necessária para pôr termo a mais de uma década de política de direita.
Portugal e os portugueses e portuguesas assim o exijem.

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*Este editorial data de Outono de 2014 mas nem por isso perdeu a atualidade, o que prova que Portugal estagnou ou até retrocedeu no plano político, económico e social. Portugal, um país em derrocada rumo às goelas do abismo do grande capitalismo selvagem. – Redação PG

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