Em
três semanas, a cólera já matou 31 pessoas e infetou 2.903, metade das quais na
província de Tete. Governo moçambicano, ONU e Médicos Sem Fronteiras (MSF)
apelam ao reforço das medidas preventivas para travar o surto.
Na
quinta-feira (19.02), o Presidente Filipe Nyusi convocou o Grupo de Emergência
contra a Cólera para uma reunião em Maputo. "Não queremos estar atrasados,
tendo em conta que a evolução histórica desta doença indicava que a qualquer
momento estaria evitada em Moçambique", declarou o chefe de Estado no
final do encontro.
O
surto de cólera "parece estacionário" em Niassa e em Nampula, mas na
província de Tete "os casos aumentam rapidamente", lê-se num
comunicado divulgado quinta-feira pelo Ministério da Saúde, UNICEF, Organização
Mundial de Saúde (OMS) e MSF.
Noutras
províncias a prevenção é a palavra de ordem. Segundo Marco Artur, diretor do
hospital distrital de Caia, na província de Sofala, foram constatados casos de
diarreias agudas, mas não há ainda confirmação de um surto de cólera na região.
"Recolhemos
amostras aqui no distrito de Caia, que enviamos para o laboratório provincial,
e os resultados foram negativos. Por isso, ainda continuamos a tratar os casos
como diarreias agudas", disse o médico em entrevista à DW África.
Alerta
máximo nacional
Contudo,
como algumas províncias já declaram um surto da epidemia, todo o cuidado é
pouco. E depois de o Ministério da Saúde ter anunciado na terça-feira (17.02)
alerta máximo para Moçambique devido à cólera, Marco Artur considerou a
situação "preocupante e complexa".
"A
cada dia que passa, algumas províncias vão anunciando o surto. A província de
Tete também já teve casos de cólera. E como estamos muito perto de Tete estamos
em alerta máximo", explica.
Por
isso, as autoridades estão a trabalhar com as comunidades nas medidas
preventivas de higiene. "Porque se as comunidades não acatam a nossa
informação, só o tratamento clínico não nos irá a ajudar a combater o
surto", sublinha.
O
diretor do hospital distrital de Caia aponta o fraco saneamento e a falta de
higiene individual e coletiva como algumas das causas que contribuíram para a
eclosão deste surto, que afeta sobretudo crianças no norte e do centro de
Moçambique. Estas regiões foram atingidas pelas cheias que mataram, desde 12 de
janeiro, 159 pessoas e afetaram 185 mil.
"A
maioria da nossa população não possui latrinas. A própria água que as pessoas
bebem está bem próxima dos sítios onde acabam por fazer as suas necessidades,
onde lavam a roupa. Por isso, a propagação é maior", lembra Marco Artur.
"Por mais que tratemos os pacientes, se estes não deixaram a prática do
fecalismo a céu aberto, principalmente nas margens dos rios e das lagoas, nada
teremos a fazer."
Aposta
na prevenção
No
distrito de Marromeu, outra região perto de Tete e da Zambézia, as chuvas
continuam a cair, o que preocupa a médica Nilza Ali. "Como a cólera
normalmente é uma doença causada pela má higiene ou consumo de água imprópria,
isso contribui para causar doenças diarreicas. Em Marromeu está a chover e isso
também ajuda à propagação da doença", explica.
Embora
não haja registo de qualquer caso de cólera, os técnicos de saúde em Marromeu
continuam a trabalhar na prevenção, uma vez que são "vizinhos das
províncias de Tete e da Zambézia e os casos confirmados foram em Tete e
Nampula", lembra Nilza Ali.
Em
Chibabava, a situação é de normalidade, mas a prevenção é a palavra de ordem,
confirma Benildo Machehane, médico chefe distrital. "Já instalamos kits em
todas as unidades sanitárias caso haja um surto de diarreia e também temos uma
tenda para receber doentes se houver um surto e for preciso fazer
investigação", revelou o médico.
Segundo
Benildo Machehane, o distrito de Chibabava enfrenta muitos problemas de
saneamento, nomeadamente devido à falta de água potável, o que faz com que a
população utilize para tudo a água dos rios que passam pela região.
António
Rocha / Lusa – Deutsche Welle
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