Emildo Sambo – Verdade (mz)
A
tensão política que de há dias a esta parte estava posta de lado depois dos
encontros entre o Presidente da República, Filipe Nyusi, e Afonso Dhlakama,
pode ressurgir, em virtude dos pronunciamentos de depreciação da Renamo e do
seu líder e da rejeição antecipada, pela Frelimo, do projecto sobre a
implantação de regiões autónomas nas províncias onde o maior partido da
oposição em Moçambique reclama a vitória nas últimas eleições gerais.
Há
indícios de que Nyusi está a ser contrariado pelo seu partido. No princípio
desta semana, a Frelimo destacou alguns quadros para percorrerem o país a fim
de agradecerem à população por esta ter votado vitoriosamente no partido e no
seu candidato, medir o grau de preparação dos seus órgãos para cumprirem o
manifesto eleitoral e sensibilizar a população para não acatar nem se intimidar
com os pronunciamentos da “Perdiz”.
Este
último ponto ofuscou vários outros, visto que por onde os sectários do partido
no poder, há quase 40 anos, passam tentam desacreditar a Renamo, facto que
deixa esta formação política com os nervos à flor da pele.
No
seu baluarte, num acto aparentemente planeado a partir do topo da hierarquia do
seu partido, Agostinho Trinta, governador da província de Inhambane, não teve
papas na língua e chamou Afonso Dhlakama de “mentiroso, intriguista” e “muito
mafioso”.
“Não
é homem de palavra”, supostamente porque é volúvel, num dia diz uma coisa e
noutro muda de discurso. O regedor considerou ainda que os membros do antigo
movimento rebelde no país já se deviam ter apercebido de que o seu líder “não é
sério”.
Foram
estas e outras declarações, que ameaçam anular a harmonia que prevalecia desde
os últimos dois encontros entre Filipe Nyusi e Afonso Dhlakama, que põem a
Renamo encolerizada, tendo, na quinta-feira (19), chamado a Imprensa para
desabafar.
Aliás,
Agostinho Trinta chegou mesmo a afirmar que se aparecesse naquela parcela do
país alguém, indicado pela “Perdiz,” a chamar-se administrador, che- fe da
localidade ou do povoado (...), a população devia informar às autoridades
porque o seu partido ganhou as eleições e “é isto que vai prevalecer”.
Segundo
Manuel Bissopo, secretário-geral da Renamo, é lamentável que após o
frente-a-frente entre o Chefe de Estado e Afonso Dhlakama, o qual resultou numa
“luz verde que estava à vista de todos (...)”, haja indicação contrária de que
“conheceríamos um Moçambique com dirigentes dos partidos políticos orientados
para uma harmonia, entendimento, paz, democracia e convivência social”.
“Infelizmente,
há dois dias, estamos a ver a Frelimo a movimentar os seus quadros pelos
distritos e províncias, onde se desdobram em desmentirem, efectivamente, que
não há entendimento entre o Presidente da República, suportado pela Frelimo, e
o Presidente Dhlakama”, disse Bissopo. Para o secretário-geral do antigo
movimento rebelde em Moçam- bique, “o que está a acontecer é uma aberração e
contradição”.
É
um sinal claro de que Filipe Nyusi “está a ser combatido” dentro do seu próprio
partido, porque depois do encontro entre Nyusi e Dhlakama não havia nenhum
pronunciamento que contrariasse o que dos dois líderes acordaram.
No
mesmo dia em que
Agostinho Trinta lançava achas, em Mecubúri (Nampula), Filipe
Paúnde, membro da Comissão Política da Frelimo, disse que as mudanças que a
população daquele distrito estão conhecer se devem à Frelimo. Pediu aos
habitantes para que “não se deixem enganar com mensagens que apenas incitam à
violência, tribalismo, regionalismo e divisionismo”.
Manuel
Bissopo entende que quando os quadros da Frelimo difundem informações de que
não houve entendimento entre o Alto Magistrado da Nação e o líder da “Perdiz”,
em relação aos passos a serem seguidos para a constituição de “regiões
autónomas”, “estão a enervar em grande medida as populações e o povo em geral”,
porque “não esperava este tipo de pronunciamento”.
Contudo,
pese embora a formação política no poder afirme não haver garantias de que as
pretensões da “Perdiz” de formar “regiões autónomas” serão chanceladas quando o
projecto para o efeito for submetido ao Parlamento, para a Renamo o mesmo “será
aprovado por consenso”.
Refira-se
que Dhlakama advertiu Nyusi de que o documento não é para ser chumbado pela
“bancada maioritária” na “Casa do Povo”. Bissopo anunciou que nos próximos dias,
Dhlakama vai retomar o períplo pela região norte de Moçambique, mas “sem
prejuízos de tudo o que acordou com o Presidente da República”.
Neste
momento, a Frelimo em Sofala está a programar várias visitas aos distritos para
interagir com a população de modo a contrariar o que o líder da “Perdiz” disse
há algum tempo em
comícios. Em Tete e noutros pontos do país, a intenção é a
mesma.
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