Maka Angola, 11 de Junho de 2014 (reposição)
“Com
ordem vamos entender-nos, com desordem a polícia vai agir”, disse o presidente
da Associação dos Estudantes da Universidade Independente de Angola (UnIA),
Domingos Tchiloya, perante um auditório barulhento, cheio de estudantes em
greve.
Mais
de mil estudantes manifestaram-se na manhã de hoje, na UnIA, em protesto contra
a cobrança da propina mensal referente ao mês de Maio. Os estudantes dos cursos
de Ciências Sociais pagam mensalmente 25,000 kwanzas (cerca de US $250),
enquanto os estudantes de Engenharia desembolsam 30,000 kwanzas.
Por
ocasião do Censo Geral da População e Habitação, que decorreu na última
quinzena de Maio, o governo decretou uma pausa pedagógica no sistema de ensino,
desde o primário até ao universitário, entre 28 de Abril e 31 de Maio.
A
UnIA antecipou-se e interrompeu o ano lectivo a 19 de Abril, tendo os alunos
ficado sem aulas por um período de 45 dias.
Depois
do meio-dia, e já com a presença de efectivos da Polícia Nacional
no campus universitário, muitos estudantes, ainda que contrariados,
acederam ao pedido da reitoria para uma reunião, com o reitor Filipe Zau, no
auditório da Universidade.
No
auditório cabiam, apertados, pouco mais de 150 estudantes, que, animados,
gritavam “queremos o nosso dinheiro”, conforme testemunhou oMaka Angola.
Após
Domingos Tchiloya ter aventado a possível intervenção da polícia, os estudantes
interromperam o seu presidente com gritos de reprovação. “Chama a polícia! Não
temos medo!”
Em
protesto, quase todos os estudantes abandonaram o auditório, e o reitor, que se
encontrava no seu gabinete à espera do trabalho de mobilização e sensibilização
do presidente dos estudantes, acabou por não comparecer.
“Só
exigimos os nossos direitos”, disse Altino, estudante do 2.º ano do curso de
Direito.
A
25 de Abril passado, o ministro do Ensino Superior, Adão do Nascimento, emitiu
um comunicado a informar da pausa pedagógica, vista como
um incentivo à partipação dos docentes e dos alunos no censo.
No
documento, o referido ministério esclareceu que as universidades poderiam realizar
actividades extracurriculares e proibia a cobrança de propinas referentes a
Maio. No entanto, de forma casuística e ambígua, o comunicado do ministro
indicava também que as universidades que realizassem actividades
extracurriculares tinham o direito de cobrar propinas.
“Entrámos
de férias a 19 de Abril. Nessa altura não tomámos conhecimento de quaisquer
actividades extracurriculares que tivessem sido organizadas para ocupar o nosso
tempo”, esclareceu Elifaz Gamba, estudante de Direito.
Elifaz
Gamba explicou também que os estudantes efectuam o pagamento no princípio de
cada mês, antecipadamente, “antes de estudarmos”.
“Vergonhoso,
é vergonhoso o que se está a passar. Como podem os professores doutores querer
mentir-nos?”, enfatizou o estudante.
Por
sua vez, um docente universitário que prefere o anonimato esclareceu que as
instituições público-privadas não se sujeitam a comunicados.
“O
grande erro, nessa confusão toda, foi do ministro do Ensino Superior. Ele
emitiu uma norma moral por via de um comunicado. Ele deveria ter exarado uma
norma jurídica, através de um decreto ou despacho executivo, que seria então de
carácter vinculativo”, afirmou o docente.
De
acordo com o mesmo docente, “juridicamente não há como o governo penalizar as
universidades. Estas ouviram mas não obedeceram”.
Há
um outro elemento importante na relação entre o governo e as universidades
privadas, que, à partida, determina qual será o desfecho das reivindicações
estudantis.
“As
juntas accionistas da absoluta maioria das universidades privadas são
constituídas por membros do governo e por generais”, enfatizou o docente.
Há
dois anos, Maka Angola revelou a estrutura accionista da
UnIA. O antigo ministro da Educação, António Burity da Silva, detém 40
por cento das acções da instituição, enquanto o actual ministro, Pinda Simão, é
o segundo maior accionista, com 20 por cento, seguindo-se-lhe o secretário de
Estado para as Tecnologias de Informação, Pedro Sebastião Teta, com 12,5 por
cento.
Por
falta de comparência e de justificação do reitor da UnIA, os estudantes
garantem que a greve prosseguirá amanhã. No período da tarde, os estudantes do
segundo turno também se juntaram à greve. É esperado que os estudantes do
terceiro turno, o período nocturno, também o façam. No total, a UnIA tem mais
de 5000 alunos, divididos em três turnos diários.
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