terça-feira, 10 de fevereiro de 2015

QUE FUTURO PARA A LÍNGUA PORTUGUESA EM TIMOR-LESTE?



Beatriz Gamboa, Díli

Em Timor-Leste paira a convicção de que a língua portuguesa nunca foi tão maltratada como desde a invasão indonésia do país e consequente ocupação durante 24 anos. Essa convicção estende-se para além da ocupação e abrange os governo de Xanana Gusmão. Os ataques à língua lusa raramente são objeto de visibilidade mas eles têm dado os seus frutos e constatam-se no quotidiano timorense. Muito poucos falam e escrevem português. Não o sabem. Os jovens, há pouco saídos das escolas, quase nada ou nada sabem de português. Em pelo menos 12 anos de existência do ensino do português já era mais que tempo de constatarmos frutos do esforço produzido pelos professores vindos de Portugal ou timorenses que recebem a respetiva formação para aplicarem no ensino escolar.

A razão deste cenário é da inteira responsabilidade do vai e vem a que a língua portuguesa está sujeita por disposições governativas. Ora umas vezes as diretrizes são assim para logo de seguida passarem a ser assado. Ora desaparece o ensino do português por isto ou aquilo, ora surge e deixa de existir noutro ciclo. A anarquia não acontece por acaso. O resultado está à vista: os timorenses não sabem português e os que o utilizam aplicam-no mal porque têm sido vítimas dos boicotes sistemáticos das pressões anglófonas e da ação de alguns ministros e seus coadjuvantes. Incluindo o primeiro-ministro demissinário, Xanana Gusmão.

Diga-se o que se disser, quem é timorense, conhece o português e ensina-o há algumas décadas, sabe muito bem que Timor-Leste maltrata o ensino da língua lusa por via do pára-arranca, da anarquia premeditada. É assim que se entende no abaixo exposto do trabalho jornalístico retirado da Agência Lusa. Apesar de incompleto e desconhecedor no terreno escolar e governamental sobre aquilo que se passa nas sombras dos gabinetes governativos os três artigos que se seguem mostram um pouco da bagunça organizada que tem sido gerada pelos governo xananistas. Não esquecer o forte pendor que Kirsty Sword Gusmão, os norte-americanos e australianos, têm feito prevalecer para a supremacia do idioma inglês em Timor-Leste. Em Timor-Leste, há mais timorenses a falar e a escrever (mal) inglês do que português nas mesmas circunstâncias (mal). No entanto o português é considerado língua ofiicial… Que paradoxo! Que futuro para a língua portuguesa em Timor-Leste? Se nada nem alguém corrigir as políticas erradas que até aqui têm sido aplicadas pelos governos o português está morto e enterrado em Timor-Leste. Deixem-se de mentiras e panaceias. (BG / PG)

Escolas de referência são elemento central do ensino do português em Timor-Leste

Díli, 10 fev (Lusa) - As onze escolas de referência a funcionarem em igual número de distritos timorenses e as duas que deverão ser abertas este ano são um dos elementos centrais da cooperação entre Portugal e Timor-Leste para o ensino do português.

Um novo impulso ao projeto foi dado no passado dia 2 de janeiro, aquando da visita a Portugal do ministro da Educação timorense, Bendito dos Santos Freitas, que assinou com o seu homólogo português, Nuno Crato, um novo protocolo para o setor.

Esse protocolo prevê o envio de 150 professores portugueses integrados no projeto dos centros de aprendizagem e formação escolar, abrangendo mais de 3.500 alunos timorenses.

Além de fazer aumentar para 300 o número total de professores portugueses em Timor-Leste, nas várias áreas, o protocolo reforça a vertente de formação de docentes timorenses, estando previstas várias modalidades de apoio à formação.

Trata-se a ampliar o projeto das "Escolas de Referência de Timor-Leste" que entre 2011 e 2012 viveu o seu primeiro maior impulso: atualmente há escolas em 11 capitais de distrito - Bacau, Same, Maliana, Oecusse, Ermera, Aileu, Liquiça, Lospalos, Suai, Dili e Manatauto - com mais de 3.500 alunos timorenses.

O projeto prevê agora a abertura, durante o presente ano letivo, de novas escolas em Viqueque e Ainaro fazendo com que todos os distritos do país fiquem dotados de centros de aprendizagem e formação escolar.

Desconhece-se o impacto que poderá ter nestas escolas os recentemente publicados decretos-leis do Governo que introduzem o uso de línguas maternas no pré-escolar e arranque do ensino básico, remetendo o português como língua principal apenas no 3º ciclo.

Além de remeterem o português como língua principal para mais tarde os texto introduzem o conceito do uso da língua materna nos primeiros níveis de ensino, algo que altera o modelo em vigor nos últimos anos.

Num comunicado publicado em janeiro, onde não faz referência aos diplomas, o Governo timorense explica que o reforço no apoio português "vai permitir uma melhoria na formação de professores, bem como na formação do pessoal administrativo das escolas e dos gestores escolares".

ASP

Governo timorense remete ensino do português para 3.º ciclo do ensino básico

Díli, 10 fev (Lusa) - Dois decretos-leis do Governo timorense, publicados no Jornal da República de Timor-Leste em janeiro, introduzem o uso de línguas maternas no pré-escolar e arranque do ensino básico, colocando o português como língua principal apenas no 3º ciclo.

Em causa estão dois diplomas, ambos aprovados pelo Governo timorense em junho de 2014, promulgados pelo chefe de Estado em 24 de novembro último e publicados no Jornal da República a 14 de janeiro.

Além de remeterem o português como língua principal para mais tarde, os textos introduzem o conceito do uso da língua materna nos primeiros níveis de ensino, algo que altera o modelo em vigor nos últimos anos.

Recorde-se que o artigo 8 da Lei de Bases da Educação (de 2008) definia que "as línguas de ensino do sistema educativo timorense são o tétum e o português", não fazendo em nenhum momento qualquer referência a línguas maternas.

O primeiro dos dois decretos publicados (3/2015) refere-se ao currículo nacional de base da educação pré-escolar e o segundo (4/2015) ao currículo do 1º e 2º ciclo do ensino básico, abrangendo todos os estabelecimentos de educação da rede pública.

Isso implica que estão incluídas as "escolas de referência" em Timor-Leste, projeto ao abrigo do qual estão deslocados em Timor-Leste, só no ano letivo 2014-2015, um total de 93 docentes portugueses.

As referências ao português são particularmente explícitas no decreto-lei 4/2015, referente ao primeiro e segundo ciclos do ensino básico.

"É garantida uma progressão gradual do Tétum ao Português, de modo a que esta última constitua a principal língua objeto da literacia e de instrução no terceiro ciclo do ensino básico, e que, no final do ensino básico, os alunos tenham adquirido um nível semelhante de conhecimento de ambas as línguas oficiais", refere o artigo 17 deste texto.

Tal como ocorre no decreto sobre o pré-escolar, o texto reconhece o "uso da primeira língua" (dita língua materna) como "instrumento de acesso efetivo ao conteúdo curricular desta área de conhecimento, quando necessário".

"A escolha da língua de instrução segue o ensino progressivo de línguas, utilizando a primeira língua dos alunos como um meio de comunicação de apoio, quando necessário", nota.

Já no preambulo, o decreto-lei refere que até este documento "não se tinha dado a necessária atenção, dentro do programa curricular, à realidade multilingue e multicultural de Timor-Leste".

"Com isto, e com base em resultados positivos de projetos-piloto já implementados, o currículo nacional de base determina um sistema claro de progressão linguística, capaz de garantir um sólido conhecimento de ambas as línguas oficiais", refere.

"Ainda, o reconhecimento do uso da primeira língua das crianças, quando necessário, tem o potencial de assegurar o acesso a todos a educação, em condições de igualdade", sublinha.

Também o decreto sobre o ensino pré-escolar, reconhece "o valor do uso da língua utilizada pela criança no ambiente familiar e na sua interação com a comunidade", referindo-se a resultados positivos de projetos idênticos, que não identifica.

De acordo com o diploma, o currículo "será implementado de forma a garantir, através de uma progressão linguística que, no final da educação pré-escolar, as crianças possuem uma base de linguagem oral numa das línguas oficiais".

"O currículo nacional, refletindo a sociedade multilingue e multicultural timorense, faz uso da primeira língua das crianças como instrumento de acesso efetivo ao conteúdo curricular desta área de conhecimento, quando necessário", refere.

"Com o objetivo de preparar a criança para o ensino básico, caso a língua de interação entre a criança e o educador não seja uma das línguas oficiais, o estabelecimento de educação pré-escolar deve implementar sessões de ensino focadas no desenvolvimento da oralidade em Tétum", refere, por seu lado, o artigo 17.

ASP // PJA

Introdução das línguas maternas é tema antigo no debate linguístico timorense

Díli, 10 fev (Lusa) - A introdução das línguas maternas no sistema escolar de Timor-Leste, prevista em dois decretos em vigor desde janeiro, é um tema antigo do complexo debate linguístico que sempre marcou a realidade timorense.

Essa opção tem sido fortemente defendida, desde os primeiros anos da independência de Timor-Leste, apoiada de forma mais intensa por organizações como a UNICEF e o Banco Mundial desde finais de 2003.

Na ocasião, o então ministro da Educação, Armindo Maia, reconhecia a pressão internacional nesse sentido considerando, na altura, que a ideia era impraticável e "logística e financeiramente" impossível de implementar.

A proposta de uso das dezenas de línguas maternas timorenses, a par do tétum - a língua franca timorense - nos primeiros anos de escolaridade, adiando a utilização do português para mais tarde, apareceu, formalmente, em outubro de 2003.

Por ocasião do 1.º Congresso Nacional da Educação de Timor-Leste, realizado nesse ano, fontes do setor educativo referiam que a UNICEF tinha oferecido um "atrativo pacote financeiro" ao Governo timorense para a implementação da ideia.

"Até pode haver apoio para dois anos mas e depois? Uma coisa é arranjar professores para duas línguas (tétum e português) outra é arranjar para 30. Além disso como garantiríamos padrões?" -- questionava então Maia.

Entre a longa lista de recomendações desse Congresso, uma das mais polémicas sugeria ao ministério da tutela a revisão das políticas em vigor por forma a garantir a adoção de línguas maternas como língua de instrução nos primeiros anos de escolaridade, com a introdução do português de forma progressiva posteriormente.

O tema ressurgiu nos últimos tempos em Díli e ficou legislado com dois decretos-leis do Governo timorense, publicados no Jornal da República de Timor-Leste em janeiro, que introduzem o uso de línguas maternas no pré-escolar e arranque do ensino básico, remetendo o português como língua principal apenas no 3º ciclo.

Além de remeterem o português como língua principal para mais tarde os texto introduzem o conceito do uso da língua materna nos primeiros níveis de ensino, algo que altera o modelo em vigor nos últimos anos.

Recorde-se que o artigo 8 da Lei de Bases da Educação (de 2008) definia que "as línguas de ensino do sistema educativo timorense são o tétum e o português", não fazendo em nenhum momento qualquer referência às línguas maternas.

O primeiro dos dois decretos publicados (3/2015) refere-se o currículo nacional de base da educação pré-escolar e o segundo (4/2015) ao currículo do 1.º e 2.º ciclo do ensino básico, abrangendo todos os estabelecimentos de educação da rede pública.

ASP

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