Ontem,
pelas 17 horas, no Auditório Jornal de Notícias, no Porto, foi apresentado aos
antigos colegas o livro “Um Repórter Inconveniente”, de Aurélio Cunha, o mais
relevante repórter português da segunda metade do Século XX.
No
dia 14 de Fevereiro, pelas 16 horas, no auditório da Biblioteca Municipal
Almeida Garrett, ao Palácio de Cristal, no Porto, será a vez da apresentação
pública desta obra.
“Um
repórter inconveniente – Bastidores do jornalismo de investigação” é a história
real de um jornalista que, para o ser, tal como a sua consciência profissional
o exigia, teve de recorrer à clandestinidade dentro do seu próprio jornal, o
“Jornal de Notícias”, na altura o de maior tiragem do país. E fê-lo, recusando
a condição de escriturário da redacção, para enveredar, à revelia das chefias,
pela investigação jornalística, género então pouco ou nada praticado nos
jornais portugueses.
Aurélio
Cunha explica que a sua “mulher começou por ser o pai da ideia deste meu livro.
A Manela sempre insistiu em que eu escrevesse umas “histórias” para doar aos
netos. Segundo ela, era uma “pena” que eu, com o meu “jeito” para escrever, não
lhes deixasse esse legado, através de um “livro”. Desejava, ainda, que os
nossos vindouros viessem a saber quem tinha sido o avô, “o jornalista Aurélio
Cunha”.
“Durante
muito tempo, contrariei essa ideia. Considerava não ter o “jeito” que ela
pensava que eu tinha, e muito menos para escrever um “livro”. Era missão para a
qual não me sentia minimamente dotado e a mediocridade sempre me assustou”,
conta o autor, acrescentando que, “muito mais tarde, a persistência da Manela
sairia reforçada com o desafio do Ricardo Jorge Pinto, delegado do Expresso, no
Porto.”
Diz
Aurélio Cunha: “A minha preocupação naquele momento era sarar as feridas
provocadas pelas causas que me tinham levado à rescisão (Junho de 2003) do
contrato de trabalho com o Jornal de Notícias (JN), a cujo quadro redactorial
pertenci durante 30 e tal anos. Não suportei sentir-me a mais. Para mim era
intolerável constatar que os meus trabalhos tinham deixado de interessar aos
adjuntos da Direcção que, de facto, mandavam no jornal, quando me chegavam ecos
das preferências dos leitores que continuavam a aguardar os meus textos. E não
era para mim suportável receber o vencimento, para estar encostado.”
E
mais, “nessa altura, por uma questão de sanidade mental, tinha até imposto a
mim próprio não passar, sequer, pela Rua de Gonçalo Cristóvão, onde está
instalado o JN.”
Paulo
Morais, autor de um dos prefácios, diz que o livro de Aurélio Cunha “é uma
reflexão e uma memória sobre o exercício de uma profissão. Traça-nos ainda uma
imagem da sociedade portuguesa ao longo de décadas. Para muitos leitores, será
uma revelação. Muitos casos apresentados, assim como pormenores da sua
investigação jornalística que normalmente não vêem a luz do dia, já não farão
parte do nosso quotidiano. Vemos notícias que julgamos serem hoje impensáveis,
são-nos reveladas fraudes e práticas criminosas que afectaram muitos
portugueses. Mas, ainda que temporalmente datadas, estas reportagens continuam
a ser actuais, continuam a ser um alerta: um alerta para a necessidade da
vigilância. E para o papel que o jornalismo profissional não pode deixar de ter
nessa missão. Sem um jornalismo vigilante, a democracia fica moribunda.”
“Através
das histórias que nos conta sobre os bastidores das reportagens que efectuou e
sobre o impacto que elas tiveram na vida dos leitores e na própria sociedade
portuguesa, o autor mostra-nos a importância de um jornalismo actuante e
implicado. Actuante por versar sobre problemas da sociedade portuguesa e
implicado porque afirma submeter-se sempre a um objectivo maior: a defesa do
interesse público na denúncia dos males estruturais da nossa sociedade”, afirma
Paulo Morais.
E
acrescenta: “Assim, a defesa de um jornalismo de investigação é um acto de
democracia. Ninguém duvida que a promoção do jornalismo de investigação é um
acto de serviço público. Por isso, é essencial a criação de condições para que
os jornalistas possam desenvolver trabalhos de fôlego que revelam mais do que o
noticiário diário. O jornalismo de investigação é a marca de fundo de um
jornalismo actuante e vigilante porque permite ir mais além. E em tudo na
sociedade portuguesa é preciso ir mais além: na vigilância, no alerta, na
denúncia.”
Folha
8 Diário (ao)
2 comentários:
Ainda me lembro de o ex-director adjunto do JN, Alfredo Leite, dizer que não sabia quem era o Aurélio Cunha.
E a presente direção também não sabe..... mas fala no "nosso JN" e convida para a apresentação do livro!
Trabalhamos no JN 20 anos e "acompanhei" as suas reportagens.
NO NOSSO JN! Eu o Aurélio e outros tantos ...
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