António
Veríssimo, Lisboa
Não
se pense que os timorenses na generalidade reprovam o primeiro-ministro Rui
Araújo, nomeado por Xanana e pelas cúpulas da elite do país. Mas há um problema:
a posse do cargo que alegadamente exerce não resulta de eleições livres e
democráticas mas sim de um golpe de Xanana Gusmão com a cedência e apoio das
direções dos partidos da oposição em que as bases partidárias foram ignoradas.
Nem essas bases, garante da democracia partidária, foram consultadas. Assim,
Araújo, configura um alegado primeiro-ministro de Timor-Leste revel. Por ocupar
o cargo à revelia de tudo e de todos, da legitimidade da democracia. O registo
em Timor-Leste é de uma democracia abalada que comporta uma grande incógnita e
temores.
Rui
Araújo merecia muito melhor atitude da parte da direção da Fretilin. A sua
qualidade como ser humano e político acaba por ficar manchada perante o golpe
consentido e apoiado a Xanana Gusmão. A qualidade como político de Rui Araújo
vai ser mostrada nos tempos que se seguem. Permanece a dúvida sobre se de facto
ele é o primeiro-ministro timorense ou se Xanana Gusmão o vai atropelar e o
está a usar como fachada para avançar numa nova deslealdade e trafulhice para
com a democracia e os timorenses. O tempo o dirá e Araújo tem, pelo menos, o
dever de denunciar toda e qualquer tentativa que lhe coarte as funções para que
foi nomeado como primeiro-ministro.
Nestes
últimos dias ocorreu uma peripécia ridícula que veio comprovar uma vez mais
quem quer, pode e manda em
Timor-Leste. A ex-ministra da justiça, Emília Pires,
alegadamente envolvida em atos de corrupção e acusada pela justiça, viu o seu
passaporte retirado por ordem judicial. Todavia, poucas horas depois, o passaporte
foi-lhe devolvido por ordem de Xanana Gusmão, alegadamente por a ex-ministra
ter de viajar com ele para África numa visita de Estado. Surge a dúvida
legítima sobre quem é o primeiro-ministro. Sobre se realmente Emília Pires é
ex-ministra ou ministra encapotada neste pseudo novo governo. Dúvidas ainda
sobre as interferências de Xanana no setor da justiça, que devia ser um poder
independente. Acresce que as declarações de Xanana Gusmão sobre a viagem de
Estado a África com a declarada ex-ministra são de um verdadeiro
primeiro-ministro autoritário, como sempre.
Referiu
Xanana nessas declarações, reportadas pela comunicação social, que "Apareceu
nos jornais que estou a ajudar a senhora Emília a fugir. Vim esclarecer que se
ela quisesse fugir não tinha voltado. Ela foi a Washington, voltou de
Washington e não esteve lá a passear". Se na realidade essas acusações
fizeram parte de notícias ou rumores em Timor-Leste a sua origem é descabida.
Emília Pires não precisa de passaporte para sair de Timor-Leste se precisar ou
quiser fugir da ilha. Tem capacidades financeiras e amizades que num esfregar de
olhos possibilitarão a fuga da alegada ex-ministra. Acresce que no futuro se
poderá concluir que Emília não teme a justiça e a ação penal que possa decidir
sobre a sua condenação e liberdade. A montanha vai parir um rato no que
concerne às acusações, provas e julgamento de Emília Pires. A impunidade
prevalecerá mesmo que ela seja uma criminosa. É o costume, salvo raras e
honrosas exceções. O primeiro-ministro de facto, Xanana Gusmão, não ficou no
governo por acaso. E é ele que quem pode e manda. Até ver, com cobertura da
oposição.
A
confirmar-se esta verdadeira fantochada com um “novo” primeiro-ministro, não
eleito democraticamente, será a Fretilin e Rui Araújo que sairão chamuscados ou
até esturricados de toda a anómala situação. Nesse caso a responsabilidade
caberá em grande parte à direção da Fretilin, a outra grande parte vai
direitinha para a responsabilidade do presidente da República, Taur Matan Ruak.
Ao invés, se nem Rui Araújo, nem restantes responsáveis pela sua nomeação como
primeiro-ministro, constatarem interferências e limitações imposta por Xanana
Gusmão e o seu aparelho de débito de democracia e honestidade, o país pode vir
a registar um saldo positivo nestes pouco mais de dois anos que restam ao
recém-governo empossado. Apesar da mácula de não ser um governo
democraticamente eleito pelos timorenses. As expetativas residem em muito de
positivo no bom caráter e competências de Rui Araújo e na sua qualidade como
ser humano, sendo-lhe igualmente reconhecidas aptidões intelectuais e
profissionais superiores à média dos timorenses. É isso mesmo que faz de Araújo
uma esperança em melhores dias para os timorenses.
No
quotidiano em Díli, principalmente, é pronunciado o regozijo pela nomeação de
Araújo como PM. Mais vastas e visíveis são as congratulações e as esperanças
carregadas de positivismo que podemos ler no Facebook e no Tweetar. Publicamos
uma dessas mensagens, escolhida aleatoriamente, que em tétum manifesta o apoio
a Rui Araújo.
“Belun
sira hotu. Aban, 23 Fevereiru 2015, kompleta semana ida, atan hau simu todan
iha kba'as, nu’udar Xefi Governu RDTL nian. Liu husi biban ida ne’e, uluk nia nain,
hakarak agradese belun no sidadaun hotu ne’ebé manifesta apoiu iha FB ba
nomeasaun no tomada pose VI Governu Konstitusionál, no agradese moos sidadaun
hotu ne’ebé, maski la konkorda ho CNRT ninia desizaun, aseita, no foo
oportunidade atu governu ne’e hatudu iha pratika ninia kapasidade atu halo
servisu. PARABÉNS BA TIMOR-LESTE TOMAK, TAMBA LIU HUSI TRAZISAUN POLITIKA IDA
NE'EBÉ PASIFIKU NO ORDEIRU. Aproveita moos atu informa belun sira hotu katak
molok 16 Marsu 2015, Governu sei aprezenta programa governasaun ba tinan rua
oin mai, no sei aprezenta moos orsamentu ajustadu ba tinan finanseiru 2015.
Tuir konstituisaun, Governu iha loron tolunulu atu aprezenta programa
governasaun nian ba PN. Realistikamente, tinan 2 bele marka diferensa iha buat
balun, maibé bele moos sai limitasaun, hodi bele halo buat hirak ne’ebé presiza
tempu naruk. Husu belun sira hotu ninia apoiu, inklui apoiu ho kritika
konstrutiva, atu ami, nu’udar ita boot sira nia servidor, bele halo serbisu ho
diak. Domingu di’ak ida ba ita hotu. - Leonarda Moniz”.
Esperemos
não ver Rui Araújo crucificado e que os atropelos à democracia que se estão a
registar em Timor-Leste reservem para as populações um final feliz.
A
tolerância, em democracia, deve ser vasta e permitir que o benefício da dúvida prevaleça
até prova em
contrário. Também é dever dos democratas dispensar atenção
cerrada aos ataques ao regime democrático e denunciá-los. Atente-se no modo
como Xanana Gusmão fez as recentes declarações. Atente-se como ele comprova ser
um possesso pelo poder. Atente-se no seu método cínico de querer condicionar a
comunicação social ao “apelar à imprensa timorense para ser mais cuidadosa nas
notícias que publica”. Não esqueçamos a lei censória para a comunicação social
que é contestada pelos profissionais timorenses, aprovada pelo governo corrupto
e deputados de Gusmão.
Benefício
da dúvida sim. Ao novo governo. Não a Xanana Gusmão, por já ter gasto todas as
hipóteses e a montanha de oportunidades que lhe foram proporcionadas.
Depois
de Escrito
Por
se encontrar dentro do contexto da opinião acima escrita antes das declarações
públicas de Rui Araújo – agora exposta – trago à colação os cinco primeiros parágrafos
de uma notícia da Lusa que em baixo publicamos integralmente. Araújo afirma o
contrário da incógnita e temores acima manifestados e procura demonstrar que a
democracia em Timor-Leste não foi abalada. Talvez até queira insinuar que está
viva e de boa saúde. Vejamos os parágrafos referidos.
“O
primeiro-ministro timorense rejeitou hoje as opiniões de que o seu antecessor,
Xanana Gusmão, mantém o controlo sobre o Governo, explicando que o agora
ministro, nas reuniões do executivo, só fala quando é solicitado a intervir.
"Considero
uma ideia injusta esses comentários sobre a dominância, a influência de Xanana.
Temos que reconhecer que ele tem um papel importante nas decisões do Estado,
mas respeita o processo governativo", afirmou hoje Rui Maria Araújo, numa
entrevista televisiva.
Rui
Araújo tomou posse no passado dia 16 de fevereiro, substituindo Xanana Gusmão
como primeiro-ministro, que se manteve no Governo com o cargo de ministro do
Planeamento e Investimento Estratégico.
"É
claro que em assuntos relacionados com segurança, nos grandes temas de
desenvolvimento, precisamos de o ouvir. Mas a conotação de que influencia tudo
é errada. Os factos não mostram isto", disse Rui Araújo.
"Tem
sentido de Estado. E por isso, embora tenha uma estatura política e histórica,
na reunião do Conselho de Ministros só falou quando lhe foi perguntado alguma
coisa", afirmou.”
Se
Araújo assim declara só temos de acreditar. Por enquanto, nem por sombras devemos duvidar
sobre ser ele realmente o primeiro-ministro, quem decide sobre as políticas do
governo sob o seu primado. Quanto à colaboração dispensada por Xanana Gusmão,
sem duvidar das boas perspetivas de Araújo, o melhor é colocar reticências na
pureza e transparência do futuro comportamento de Gusmão.
Quase
repetindo o que anteriormente está descrito em cima aclare-se ao modo luso que
Xanana Gusmão já comprovou que “não é flor que se cheire” sem que nos habilitemos
a que se transforme em vespa e nos descarregue uma brutal ferroada. Fiquemos
atentos. Principalmente Rui Araújo, a Fretilin, o PR e os timorenses. Todos não
serão demais para evitar que Rui Araújo venha a ser crucificado por ferroadas
de Xanana ou de seus correlegionários.
Que
o destino destes novos passos no caminho percorrido por Timor-Leste, traçado
pela oligarquia, e que os atropelos à democracia que se estão a registar reservem
para as populações um final feliz. Uma sociedade mais justa governada no
interesse das populações e não no interesse da oligarquia que Gusmão moldou à
sua imagem e semelhança, extremamente desonesta.
Fiquemos
atentos.
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