António
Veríssimo, Lisboa
Quem
tem medo das eleições antecipadas?
A
novela da demissão de Xanana Gusmão, PM timorense, manteve-se no “ar” durante
todo o ano de 2014. Tudo indica que finalmente hoje encontrou o seu epílogo
consubstanciado em carta de demissão entregue na Presidência da República de
Timor-Leste. Finalmente Taur Matan Ruak, o PR, está de posse de documento
oficial da demissão apresentada pelo primeiro-ministro, dependendo dele
garantir a defesa da democracia e da interpretação correta da Constituição, ou conduzir
Timor-Leste para uma ditadura das oligarquias que com toda a promiscuidade se
nomeiam para garantirem o monopólio do poder governativo e demais poderes que
lhes convier apoderarem-se, fazendo-os reféns de políticas dúbias e opacas.
Foi
caso de apontamento aqui no Página Global que o PR Taur demonstrou preferência
por realizar eleições antecipadas se o PM Xanana apresentasse a sua demissão e
consequente queda do governo que chefiava. Essa foi a informação que obtivemos
de fonte geralmente bem informada e de análises políticas que têm
correspondido à realidade. Contudo, neste processo de demissão do PM timorense
e governo, as pressões a que Taur Matan Ruak tem estado sujeito permitem
perceber que as regras democráticas podem vir a não ser respeitadas. A própria
oposição timorense, a Fretilin, está do lado do querer de Xanana Gusmão e já
anunciou que vai aceitar a escolha de Xanana para que Rui Araújo, da Fretilin,
seja o PM substituto. Assim, sem eleições e por escolha de um PM demissionário
que ainda há poucas semanas reconheceu as suas limitações e incompetências como
primeiro-ministro. Limitações que se alargam às suas tendências antidemocráticas,
até ditatoriais, conforme tem demonstrado – opinião de muitos analistas.
E
é este homem, Xanana Gusmão, acusado de corrupção, praticante comprovado de
nepotismo em alta escala. Absolutamente descredibilizado interna e externamente.
E é este homem, que nomeia o seu sucessor? E a oposição aceita e congratula-se?
E o presidente da República corrobora esta pretensão antidemocrática?
Não
está em causa a credibilidade do nomeado substituto de Xanana, Rui Araújo. Está
em causa a Fretilin regozijar-se por mais esta ação antidemocrática e pusilânime
de Xanana Gusmão e de todos aqueles que com
ele têm ferido a democracia timorense. Mais ainda quando a Fretilin considera
por bem que Xanana se mantenha no governo sob o primado de Rui Araújo, como
declarou Mari Alkatiri. É de pasmar esta posição se a Fretilin a aprovar. A
desilusão causada por Mari Alkatiri ao promover esta operação antidemocrática é
inclassificável. Pelo menos para quem ainda quer acreditar na possibilidade de
Timor-Leste ser diferente de muitos países do mundo e reger-se sob uma
verdadeira democracia, onde as carências das populações sejam atendidas, assim
como termine a corrupção e as negociatas de muitos das elites. É suposto que a
Fretlin pugne pela democracia na total acessão da palavra e não numa democracia
que não o seja por faltar justiça, habitação, saúde, alimentação, emprego,
educação, etc., para todos. Uma democracia de facto e não uma mascarada que permite às
elites roubarem aquilo que pertence a todos os timorenses e é distribuído só
por alguns.
As
dúvidas são imensas. E os temores também. Aguarda-se que pelo resto desta
semana tudo seja clarificado. Está nas mãos de Taur Matan Ruak ser de facto o
presidente da República Democrática de Timor-Leste ou, no pior das suas decisões,
ser presidente de um Timor-Leste na posse de uma oligarquia que fere os princípios
da democracia. Digam aquilo que disserem, PR e os partidos políticos, vão agora
mostrar ao mundo e aos timorenses por que regime optam: a democracia de facto
ou uma mascarada que tem vitimado o povo timorense e a que importa dizer basta
e agir para que baste. Quem tem medo das eleições antecipadas?
Na
foto: Rui Araújo, da Fretilin, indicado para PM por Xanana Gusmão (indicado, não eleito)
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