Mário
Motta, Lisboa
A
luta de libertação de Angola do colonialismo português produziu heróis que
nunca será demais recordar e enaltecer. A maioria heróis anónimos que saídos do
ventre do povo deram corpos, almas e vidas para que o país obtivesse a
libertação. Jamais podemos não mencionar esses heróis que se destacaram contra
o salazarismo fascista e colonialista.
Alguns desses opositores ao regime
salazarista conheceram os tribunais plenários e as prepotentes decisões de
condenação de juízes títeres que nem com a revolução de Abril de 1974 foram
devidamente punidos pelo seu servilismo ao regime fascista. Aliás, esses juízes
ao condenarem opositores a regimes ditatoriais ou pseudo democratas que violam
os Direitos Humanos deviam ser responsabilizados pelos seus desempenhos na violação
do estabelecido pelas Nações Unidas.
É
o caso em Angola.
Juízes ao serviço do regime que nem por sombras respeita os
Direitos Humanos condenam à reclusão cidadãos que mais não fazem que ser
pacíficos opositores de práticas antidemocráticas do governo e presidente José
Eduardo dos Santos. É o caso em Cabinda, onde se encontram reclusos, à
ordem de um juiz servil ao regime, dois pacíficos opositores das
políticas emanadas de Luanda que impõem a mordaça e a repressão ditatorial de
que só há memória em Angola durante o regime colonialista. É o caso de José
Marcos Mavungo e de Arão Bula Tempo, Presidente da Ordem dos Advogados,
responsáveis pela organização de uma manifestação, no início deste mês, contra
a alegada má governação e abuso dos direitos humanos em Cabinda, manifestação
que não se realizou. É o caso de outros presos políticos em Cabinda, o enclave
que reclama a independência ao abrigo de um tratado histórico com Portugal, e
que lhe dá razão na ótica de imensos legalistas e analistas. Só num regime como
o de Salazar há memória em Angola e no Portugal colonialista da existência de
presos políticos. Mas, na atualidade, em Angola é assim. Com a cumplicidade no
silêncio de muitos países alegadamente democráticos.
Há
mais casos. São bastantes. Há desaparecimentos de cidadãos angolanos a que o
regime não dá uma explicação plausível. Aliás, tem por princípio fechar-se em
copas, recorrendo ao silêncio. Isso mesmo fez com dois jovens desaparecidos em
Luanda (Cassule e Kamulingue). Mais tarde veio a concluir-se que haviam sido
raptados e assassinados por agentes ao serviço do regime do presidente José
Eduardo dos Santos. Em Cabinda, segundo responsáveis de FLEC, os desaparecidos
já somam 115 cabindenses. Também já foram assassinados? O governo de Luanda não
dá uma explicação. O que perfila um regime pautado por regras de puro
banditismo, semelhantes a muitas ditaduras na América Latina ou até na ditadura
salazarista em Portugal, onde o general Humberto Delgado desapareceu… Para mais
tarde se concluir que tinha sido assassinado pela PIDE, junto com a sua
secretária, Arajaryr Campos, cidadã brasileira.
Outros
cidadãos angolanos opositores do regime têm merecido a repressão pura e dura
que vai desde bastonadas da polícia a jovens até a disparos criminosos como o
que mais recentemente vitimou o jovem Ganga. Aquele jovem foi assassinado pela
guarda presidencial quando pacificamente colava panfletos de protesto pelo
assassinato de Cassule e Kamulingue – jovens já aqui referenciados.
Recentemente,
Rafael Marques, escritor e opositor do regime, foi presente a tribunal, em
Luanda, acusado de alegadamente caluniar generais no livro Diamantes de Sangue.
O que falta saber é como é que esses generais enriqueceram deslumbrantemente e
por que não são investigados os enriquecimentos ilícitos demonstrados até por
sinais exteriores de riqueza a olho nu. Calúnia? Que calúnia? Siga-se o adágio
mais antigo que Portugal colonial: “quem cabritos vende e cabras não tem, de
algum lado vem”. São cabritos roubados, já se vê.
Na
constância de o regime angolano pretender silenciar os opositores e dar um ar
de legalidade às ilegalidades cometidas são bastantes os angolanos a cair nas
malhas da desgraça que o setor judiciário para eles representa. Até parece que
existem condenações por encomenda, salvo algumas exceções. Foi nessas malhas que
Rafael Marques caiu. É na constância de silenciar opositores que jornais e
jornalistas que reivindicam a democracia para Angola são assassinados,
desaparecem, ou simplesmente são vítimas de sofisticados boicotes e pressões
que desembocam no silenciamento ambicionado pelo regime. Obra feita, dirão os
que com todo o maniqueísmo engendram os planos que acabam por resultar. Há em
Angola um cerco muito apertado à comunicação social e escritores que ali vivem
e são seres pensantes que expõem nas letras e outras artes a sua reprovação ao
atual regime.
Assim
sendo, como se constata e todo o mundo tem conhecimento, como é possível que
Angola tenha assento no Conselho de Segurança da ONU? Que enorme falta de
credibilidade recai sobre a ONU ao aceder a autêntico conluio com regimes não
democráticos!
Tão
ou mais grave é o facto de Portugal fazer parte do Conselho dos Direitos
Humanos e descaradamente apadrinhar, proteger e cumpliciar-se com o regime
angolano – autêntico buldozer dos Direitos Humanos no seu território.
O regime angolano tem merecimento nas críticas de todos os verdadeiros democratas. Ainda mais daqueles que têm por ideologia as políticas de esquerda tão condenadas por Salazar, Pinochet e outros ditadores. Não podemos criticar essas ditaduras - que reprimiram, prenderam e assassinaram seus concidadãos - e pretender ignorar ou desculpar o que acontece em Angola, alegadamente sob a fachada de uma democracia... que não é.
O regime angolano tem merecimento nas críticas de todos os verdadeiros democratas. Ainda mais daqueles que têm por ideologia as políticas de esquerda tão condenadas por Salazar, Pinochet e outros ditadores. Não podemos criticar essas ditaduras - que reprimiram, prenderam e assassinaram seus concidadãos - e pretender ignorar ou desculpar o que acontece em Angola, alegadamente sob a fachada de uma democracia... que não é.
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