José Eduardo Agualusa – Rede Angola (ao), opinião
Sempre
que me falta tema para esta crónica, alguém ligado ao regime angolano decide
ameaçar Rafael Marques, levar Rafael Marques a tribunal, insultar Rafael
Marques – ou tudo isso junto. E lá volto eu a falar de Rafael Marques.
Sejamos
sinceros: se há hoje um nome que nos salva, a nós, angolanos, da melancolia e
da desesperança é o de Rafael Marques. Rafael é o contraponto luminoso,
sorridente e íntegro, a essa máquina obtusa, venal, dobrada ao peso do rancor e
da ferrugem, a que se convencionou chamar «regime angolano».
No
primeiro round deste novo combate, o início do julgamento de Rafael,
no passado dia 24, o jornalista ganhou de forma clara e inequívoca. Como era de
prever, o julgamento deu-lhe larga visibilidade internacional. O jornal
britânico The Guardian abriu-lhe as páginas, no dia 23, para que ele
se apresentasse e contasse a sua história: «Chamo-me Rafael Marques de Morais.
Sou um jornalista e pesquisador angolano e posso ser preso esta semana por ter
escrito um livro em que denuncio atentados ao direitos humanos praticados na
área diamantífera das Lundas» – é assim que começa o artigo. O The
Guardian tem uma tiragem média diária superior a 250 mil cópias.
Assim,graças à inépcia do regime angolano, Rafael Marques ganhou mais um quarto
de milhão de ingleses para a sua causa.
Ao
mesmo tempo, a Tinta-da-China, a editora portuguesa que publicou «Diamantes de
Sangue», livro que deu origem a todo este processo, decidiu disponibilizar o
texto na internet,de graça. Sucesso absoluto: em apenas 48 horas, mais de
quinze mil pessoas já o haviam adquirido.
Foi
uma derrota humilhante para os generais. Em Abril prossegue o combate. Aconteça
o que acontecer, Rafael ganha sempre. Os generais deixaram-se prender na
armadilha que eles próprios construíram. Se condenarem Rafael, levantar-se-á um
clamor global. O jornalista receberá novos prémios. Mais vozes se juntarão à
dele, dentro e fora do país, exigindo democracia, justiça social, o fim da
corrupção e a condenação dos verdadeiros criminosos. Se o ilibarem, Rafael será
levado em triunfo e a fraqueza do regime dará novo alento aos jovens
democratas.
A
ingenuidade dos generais e dos seus amigos chega a ser comovedora. Talvez um
dia tenhamos de reconhecer que com tal ingenuidade contribuíram, embora
inadvertidamente e de forma tortuosa, para o crescimento do movimento democrático.
Ao
mesmo tempo, a coragem de Rafael, e o seu triunfo público, constituem uma
bofetada de luva branca a todos os cobardes e oportunistas que dentro e fora do
país (especialmente em Portugal) vêm tentando diminuí-lo, no afã de ganharem a
atenção, e mais alguns tostões, do poder angolano.
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Diamantes de
Sangue - Diamante é uma pedra preciosa de altíssimo luxo. Dizem que um diamante
é para sempre. E o sangue, esse líquido espesso, vermelho, constituído por
células e plasma é fundamental para vida. Sem sangue não há vida. A combinação
da jóia com o líquido essencial significa Tragédia em caixa-alta. (Luísa Rogério)
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