Macau,
China, 09 mar (Lusa) - O crescimento exponencial de Macau desde a transferência
de administração trouxe "qualidade de vida" à população, mas também
muitos novos problemas, apontou hoje o economista Albano Martins, durante um
debate sobre o desenvolvimento de Macau nos últimos 15 anos.
A
economia e a justiça dominaram o debate promovido pelo Fórum Luso-Asiático na
Livraria Portuguesa, que contou também com o jurista Pedro Coimbra, o
jornalista Marco Carvalho e o presidente do fórum, Arnaldo Gonçalves.
O
produto interno bruto de Macau é hoje dez vezes superior ao de 1999, mas se
esse "exponencial" crescimento económico trouxe "qualidade de
vida", também gerou problemas "que nos podem fazer perder os ganhos
conseguidos até agora", disse o economista Albano Martins.
"A
dimensão da economia de Macau hoje é tal que criou problemas. Temos capitais
abundantes, mas não temos terras e mão-de-obra", apontou.
Há
problemas que a cidade enfrentou durante a administração portuguesa que já não
se verificam, como a ausência de saldos orçamentais ou taxas elevadas de
desemprego. No entanto, a dependência que Macau tem hoje da China cria uma
vulnerabilidade ao exterior que pode ser perigosa, como se verifica agora,
durante a campanha anticorrupção da China que afetou fortemente o setor do
jogo, lembrou o economista.
Para
Albano Martins, nos próximos 20 anos Macau não tem condições de fugir ao enorme
peso que o jogo tem na economia e não há, neste momento em que se começa a
discutir a renovação das licenças de jogo, "capacidade para introduzir
novas operadoras ou aumentar os impostos sobre o jogo que são brutais".
Segundo
o economista, a Ilha da Montanha, zona adjacente a Macau onde já foi construído
o 'campus' da Universidade de Macau e onde foram cedidos terrenos para empresas
locais operarem, não servirá como salvação em termos de diversificação.
"O
empresário local quer investir no curto prazo. Sou muito pessimista em relação
à Ilha da Montanha porque são os mesmos empresários [a investir lá] que só
pensam no lucro imediato", afirmou.
Traçando
o panorama desde 1999 até agora, Albano Martins levantou também a questão da
demografia e da mão-de-obra, num território extremamente populado, mas onde
faltam trabalhadores.
Segundo
a sua estimativa, a cidade vai precisar de mais 50 a 70 mil trabalhadores para
alimentar os casinos que vão abrir nos próximos anos. Os espaços de jogo pagam,
no entanto, salários demasiado elevados para as pequenas e médias empresas e o
economista defende que devia ser mais fácil importar trabalhadores do exterior
a salários mais reduzidos.
Ainda
nesta retrospetiva, foi lançado um olhar sobre os poderes legislativo e
executivo, com o jurista Pedro Coimbra a criticar os deputados por fazerem uma
leitura "literal e comodista" da Lei Básica, justificando assim a
quase inexistente iniciativa legislativa do hemiciclo.
O
jurista admitiu que a lei fundamental de Macau define a iniciativa legislativa
principalmente como uma responsabilidade do poder executivo, remetendo para a
Assembleia a capacidade de intervier "em questões de direitos
fundamentais". Nesse sentido, a "passividade" dos deputados
"não é tanto uma demissão, mas algo de certa forma imposto pela Lei
Básica".
"Os
deputados pensam 'Não vamos ultrapassar o órgão que a Lei Básica diz que tem
esse papel', até por uma questão de respeito à figura do chefe do
Executivo", concluiu.
ISG
// EL
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