As
autoridades municipais de Maputo e Matola demoliram centenas de casas e
infraestruturas privadas. Uma ONG moçambicana diz que a ação é precipitada e
denuncia a dualidade de critérios nas demolições.
Em
Maputo e na Matola, nos arredores da capital moçambicana, as autoridades
municipais resolveram pôr termo à ocupação ilegal e desordenada do espaço
urbano, uma medida que inclui a demolição de centenas de residências e
infraestruturas privadas.
Enquanto
se discute a razoabilidade da medida, ouvem-se gritos de socorro de quem não
sabe para onde ir com os seus pertences porque a sua residência foi derrubada.
"Vou
dormir fora. Como é que vou fazer?", pergunta uma das afetadas em Xiango,
Maria Albertina. Ela diz que a parcela onde ergueu sua casa, agora demolida,
foi devidamente legalizada. "Estou aqui há cinco anos!" Por isso, não
percebe por que a proíbem agora de lá viver.
No
rosto de José Langa nota-se também o sentimento de desespero. A sua casa também
foi destruída. "Estou a tremer", diz. "Não sei onde vou
viver."
Langa
refere que as autoridades municipais não deram mais tempo para que as pessoas
se preparassem melhor face à decisão.
"É
uma medida extrema"
Para
Lino Manuel, do Centro Terra Viva, esta medida dos municípios é precipitada.
"A
demolição é uma medida extrema, é a última medida a ser tomada". O
responsável da organização não-governamental sublinha que os cidadãos saem
penalizados sem se ter em conta as obrigações das autarquias na promoção do
acesso à habitação. Antes de se avançar com demolições deve haver "outras
medidas de consciencialização, chamada de atenção, educação e até medidas
administrativas que, eventualmente, não pudessem lesar tanto o cidadão."
Além
disso, "há uma dualidade de critérios". Segundo Lino Manuel,
"algumas casas são demolidas e outras não. Isso configura esquemas de
corrupção, negligência e o incumprimento da legislação por parte de quem de
direito."
Ministério
promete esclarecer situação
Para
travar as demolições, os afetados lavraram um abaixo-assinado cuja recolha de
assinaturas ainda decorre. O Ministério da Administração Estatal e Função
Pública, que tutela os municípios, está preocupado com o problema e promete
esclarecer o caso em um mês.
"Já
contactámos todos os municípios porque não se percebe que uma obra comece a ser
erguida e só no final se diga que está num local impróprio", afirmou a
ministra da tutela, Carmelita Namashulua.
Ernesto
Saúl (Maputo) – Deutsche Welle
Sem comentários:
Enviar um comentário