quinta-feira, 14 de maio de 2015

Portugal. PROFESSOR RACISTA DIZ QUE ESTÁ A SER SILENCIADO PELA FACULDADE




Comissão de Ética da Universidade do Porto ainda está a analisar as declarações de Pedro Cosme Vieira

Pedro Raínho – jornal i

O professor Pedro Cosme Vieira admite ao i estar a ser “silenciado” pela Faculdade de Economia da Universidade do Porto. No centro desta desconfiança estão as opiniões partilhadas no seu blogue pessoal, que ainda estão a ser analisadas pela Comissão de Ética. O caso já foi considerado sensível e esta semana teve novos desenvolvimentos.

O perfil de Pedro Cosme Vieira na página da instituição ficou subitamente inacessível. Na semana passada era possível consultar o CV do docente, os contactos e outros dados relacionados com a actividade. Mas esta terça-feira, quando se tentava aceder à sua página, gerida pela Faculdade de Economia, surgia apenas uma mensagem: “Página em manutenção”. Entretanto, e já depois de o i ter contactado a Faculdade de Economia, a página voltou a estar disponível, ainda que com uma informação nova: “Actualizado no dia 13/Maio/2015”, lê-se ao fundo da página.

Cosme Vieira não é concreto nas explicações para estes episódios. Novamente por email – o docente tem uma aversão a conversas por telefone –, e questionado sobre a mudança na sua página, limita-se a dizer que “afinal, não são só os fundamentalistas islâmicos que tentam silenciar quem pensa de forma diferente”.

A análise dos textos que publicou no blogue “Económico-Financeiro” estão nas mãos da Comissão de Ética, um organismo composto por professores sem responsabilidades de gestão que avalia a actuação dos docentes num plano que não o disciplinar. Dali não resultará, por isso, lugar a processos disciplinares, estando, em vez disso, a ser avaliada a conduta ética do professor.

Antes de haver uma decisão oficial (não há data definida, mas é certo que ainda vai levar algum tempo), nada muda. Cosme Vieira vai continuar a dar aulas. O problema está a ser tratado com pinças na instituição, até porque “envolve sensibilidades”. A faculdade demarcou--se das palavras de Cosme Vieira desde o primeiro momento.

Em causa estão os termos e opiniões que o docente universitário foi manifestando em várias publicações no seu blogue pessoal. Cosme Vieira chamou “pretalhada” e “alienígenas” aos africanos que tentam chegar à Europa via Mediterrâneo. No caso dos afegãos e paquistaneses, a designação era “amarelados”. E para resolver o problema das vagas diárias de migrantes, o docente apresentou uma solução-limite: “Em vez de tentar salvar as pessoas que vêm nos barcos precários, ‘salvá-los’ atropelando-os com navios portugueses e, depois, todos os que consigam nadar, meter um tiro em cada um.”


Esta última passagem foi escrita a 20 de Abril numa publicação com o título “Vamos resolver os afogamentos no Mediterrâneo”. Mas só depois de, no dia 5 de Maio, o i publicar estas e outras declarações da autoria de Cosme Vieira, a instituição decidiu abrir um inquérito que está ainda em curso. Elementos ligados à faculdade contam que o professor já teria sido ouvido a expressar ideias menos “consensuais”, mas as declarações nunca teriam chegado ao nível de racismo e xenofobia dos textos do blogue.

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