sábado, 20 de junho de 2015

EDUARDO DOS SANTOS VENDE ANGOLA AOS CHINESES



VERDADE OU MENTIRA

Folha 8 digital (ao) – 20 junho 2015

O Presidente José Eduardo dos Santos foi à China munido de “armas” (propostas de venda do país) e bagagens vazias (para trazer milhões de dólares). Prestar contas da viagem de negócios é algo que, por só se aplicar nas democracias e nos estados de direito, não se enquadra em Angola. Mesmo quando os acordos valem por mais de uma centena de anos, penhorando o futuro de muitas gerações e incluem património público.

Angola foi, é e será um dos países prio­ritários para a China em África, con­tinente com o qual Pequim continuará a aprofundar o seu envol­vimento, de acordo com o centro de estudos norte­-americano Brookings. Num contexto de instabi­lidade crónica, a robustez petrolífera angolana agrada aos chineses.

Pequim garante todo o apoio ao MPLA (o que não é, ou não deveria ser, sinó­nimo de Angola), dizendo mesmo que a eventual ajuda abarca tudo quanto for necessário. Por outras palavras, baste um sinal de Luanda e a ajuda – seja ela qual for – aterra de imediato na nossa capital.

No artigo “África na Po­lítica Externa da China”, publicado pela Brookings, o analista Yun Sun identifi­ca como sinais de evolução na relação entre a China e os países africanos o au­mento do investimento na formação de recursos hu­manos africanos e ainda o fomento de programas de responsabilidade social no continente.

“Nos próximos anos, o en­volvimento da China em África deverá crescer”, diz o analista, prevendo que o sistema actual se “actualize adoptando soluções rápi­das para alguns problemas sociais”.

Actualmente, afirma o do­cumento, “as actividades económicas da China estão a um nível sem preceden­tes”, uma tendência que também coloca desafios.

Para Yun Sun, recomenda­-se uma reconsideração es­tratégica mais profunda da relação, na qual é hoje prioritário aceder a recursos naturais africanos e a este mercado em crescimento, como estímulo ao crescimento económico chinês.

Sendo Angola em África o maior fornecedor de petró­leo à China, a par do Sudão, o estudo dá grande desta­que ao papel do nosso país, antevendo que Luanda funcionará como um entre­posto para todas as activi­dades chinesas, sobretudo as de índole económica.

Os dois países estabelece­ram em 2010 uma parceria estratégica, com a China a fornecer linhas de crédito e Angola a pagar com petró­leo, que fez com que o co­mércio bilateral aumentas­se mais de 2 mil por cento entre 2002, final da guerra civil, e 2012, fazendo de An­gola o segundo principal parceiro da China de en­tre os oito países de língua portuguesa. Esse acordo foi agora alargado pelo punho divino de Eduardo dos San­tos, dando a Pequim hecta­res e hectares e hectares de terras aráveis e de subsolo muito rico, por um período que vai chegar ao Século 22.

De acordo com os dados oficiais, as trocas comerciais entre os dois países ascenderam a 35,91 mil mi­lhões de dólares em 2013, com a China a vender a Angola produtos no valor de 3,96 mil milhões de dó­lares e a comprar mercadoria (pe­tróleo) cujo valor ascendeu a 31,94 mil milhões de dólares.

Segundo Yun Sun, as priorida­des de Pequim fazem com que o Ministério do Comércio chinês se mostre “natural­mente inclinado” a consig­nar grande parte dos apoios externos a países que ofe­recem mais oportunidades e benefícios comerciais à China.

Uma vez que o interesse económico chinês está vi­rado para recursos naturais africanos, são os países ri­cos em recursos a mere­cer mais atenção, como é o caso de Angola. Eduardo dos Santos ter-se-à curva­do, assinado e vislumbrado logo os benefícios para o seu clã.

O nível de apoio a Angola foi de tal ordem e o regi­me de ajuda tão eficaz que acabou por ser alargado a outros países com o nome de “Modelo Angola” – acor­dos de financiamento com baixas taxas de juro para os países africanos, garantidos com o fornecimento de matérias-primas e explora­ção directa de tudo e mais alguma coisa.

“Estes países têm grande dificuldade em obter finan­ciamento nos mercados fi­nanceiros internacionais e a China fez com que esse financiamento estivesse relativamente disponível”, escreveu Yun Sun.

Angola completou o pri­meiro empréstimo ga­rantido por petróleo em Março de 2004 e, segun­do o analista, as linhas de financiamento ajudaram as petrolíferas chinesas a assegurar contratos de ex­ploração.

Em 2005, a aquisição pela Sinopec do Bloco 3/80 coincidiu com o anúncio de um novo empréstimo de 2 mil milhões de dóla­res a Angola, e em 2010, a mesma petrolífera estatal chinesa comprou 50 por cento do Bloco 18, ao mes­mo tempo que a primeira parcela de um empréstimo do Banco de Exportações e Importações da China.

Entre 2004 e 2011, segundo a investigadora Deborah Brautigam, a China efec­tuou negócios sem prece­dentes com pelo menos 7 países ricos em matérias­-primas, com um valor próximo de 14 mil milhões de dólares.

Luanda recebeu no iní­cio de Maio do ano pas­sado a visita oficial do primeiro-ministro chinês Li Keqiang, inserida numa digressão pelo continente africano que o levou à Etió­pia, Nigéria e terminou no Kénia.

Os países assinaram dois acordos, um para a supres­são de vistos diplomáticos e o segundo no domínio financeiro, após um en­contro entre Li Keqiang e o Presidente angolano José Eduardo dos Santos.

Entre 2009 e 2013, as ex­portações chinesas de ar­mas cresceram para 6 por cento do total, ultrapassan­do a França (5 por cento), e ficaram a apenas um ponto percentual da Alemanha (7 por cento), o terceiro ex­portador mundial do sec­tor, indicou o China Daily, citando um relatório do Stockholm International Peace Research Institute. Antes daquele período, a China detinha 2 por cen­to do mercado, precisou o Global Times.

“O progresso da indús­tria militar foi consegui­do graças ao aumento do investimento nesta área”, disse um investigador da Academia de Ciências Mi­litares das Forças Armadas chinesas.

Além disso, “o preço das armadas produzidas pela China é competitivo e o país é hábil na combinação das tecnologias usadas por outros”, salientou o mesmo especialista.

Nos últimos cinco anos, EUA e Rússia asseguraram mais de metade das ven­das, com 29 por cento e 27 por cento do total, respec­tivamente.

A China vendeu armas a 35 países, com o Paquistão, Bangladesh e Birmânia a representarem quase três quartos das vendas.

Juntamente com o Paquis­tão, a China é também um dos maiores importadores de armamento, a seguir à vizinha Índia, indicou a mesma fonte. Emiratos Árabes Unidos e Arábia Saudita ocupam o quarto e quintos lugares na lista de importadores de arma­mento.

Embora, como acontece desde que José Eduardo dos Santos chegou ao po­der (1979), o segredo seja a alma das negociatas do re­gime, sabe-se que o recen­te acordo entre a Chima e Eduardo dos Santos, prevê a entrega de, pelo menos, 500 mil hectares de terra arável e de subsolo rico aos chineses, situada na pro­víncia do Kuando Kubango e com uma validade de uso e controlo superior a 100 anos.

Dizem alguns observado­res que, por deficiência de informação, ainda não per­ceberam que Angola não é um país mas, apenas, um reino unipessoal de José Eduardo dos Santos, o acto do rei (não ) é um crime de lesa pátria (mas se tra­tando de um Presidente da República), é um crime contra os angolanos que, assim, não só vêem o que é seu nas mãos dos chine­ses, como se transformam em escravos na sua própria terra.

É claro que Eduardo dos Santos parece não estar nada preocupado. Sabe que tem uma oposição domesticada, rendida aos benefícios da lagosta, e uma sociedade civil que por força da barriga vazia vai continuar serena. Além disso, goza dos privilégios de quem é rei de um “país” que até está no Conselho de Segurança da ONU.

Para dar um ar de que não estão domesticados, oposi­ção e líderes da sociedade civil, aparecem a dizer que Eduardo dos Santos violou a Constituição e até pôs em causa a soberania angola­na. Tudo isso é verdade. Mas não passa disso. E isso não fará com que Eduardo dos Santos caia do pedes­tal, não fará com que An­gola seja uma democracia e um Estado de Direito.

Tendo na mão todos os cordelinhos que movi­mentam o rei, os chineses já não se contentam com o petróleo e querem mais, muito mais. Pequim orde­na e Luanda aceita, servil­mente. A bem dos angola­nos? Não. A bem apenas do clã presidencial.

Oficialmente, como man­dam as regras, a China diz – e o MPLA confirma – que se trata de uma ajuda quase filantrópica para que Angola ultrapasse as difi­culdades. Talvez se possa dizer, certamente pecando por defeito, que o regime recebe desta vez qualquer coisa como 30 mil milhões de dólares. Coisa pouca, obviamente.

Certo parece ser que as transacções financeiras serão feitas em yuan e não em dólares norte-ameri­canos, adequando – pois claro - a nossa economia à moeda chinesa.

Recorde-se que, nos úl­timos anos, os chineses ocuparam mais de 15 mil hectares no Kuando Ku­bango com um projecto experimental de plantação de arroz. Isso significou que os camponeses ango­lanos perderam terrenos de pasto para milhares de cabeças de gado. Mas isso é irrelevante.

Menos submissos estão os independentistas de Ca­binda. O braço armado da Frente de Libertação do Estado de Cabinda (FLEC) exige a retirada dos cida­dãos chineses de Cabinda, garantindo que essa pre­sença “será severamente punida”.

Em comunicado enviado à Redacção do F8, a FLEC “exige que o Governo da República Popular da Chi­na repatrie urgentemente todos os seus nacionais do território de Cabinda num prazo de 63 dias”.

“Não sendo respeitada esta exigência, todo o tipo de empresas chinesas são alvos da resistência ca­bindesa e toda a presença chinesa no território de Cabinda caucionada pelo Governo angolano será se­veramente punida”, adver­te a direcção político-mili­tar da FLEC/FAC (Forças Armadas de Cabinda), bra­ço armado da organização independentista.

No mesmo comunicado, assinado pelo comandante da FLEC/FLAC Nzombu Terminator, é recordado ao Governo chinês “que todos os compromissos e acordos assinados com o Governo angolano não são válidos no território de Cabinda”. “Cabinda é um território em guerra”, lê-se ainda.

Recorde-se que a FLEC/FLAC assumiu em Janeiro de 2010 a autoria do ata­que, ocorrido nessa altura, em Cabinda, à selecção de futebol do Togo, durante a Taça das Nações Africanas. O incidente acon­teceu à entrada naquele território, envolvendo ti­ros de metralhadora que provocaram um morto e nove feridos na comitiva togolesa.

A FLEC luta pela indepen­dência de Cabinda, região de onde provém a maior parte do petróleo angola­no, e considera que o en­clave é um protectorado português, tal como ficou estabelecido no Tratado de Simulambuco, assinado em 1885.


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