MARIA JOÃO GUIMARÃES – Público, ontem
Instituição
diz que há um impasse. Rumores indicam que FMI insiste nos cortes de pensões,
que o Governo ddo Syriza recusa terminantemente.
A
Grécia voltou a ter um dia de montanha russa. Depois da bolsa de Atenas
valorizar com mais esperanças num acordo entre o país e os seus credores, o
Fundo Monetário Internacional (FMI) anunciou a meio da tarde que as
conversações estavam suspensas por falta de acordo. Isto parecia longe da
intensificação de conversações prometida na véspera após um encontro entre
Angela Merkel, François Hollande, e Alexis Tsipras.
Não
era claro qual a gravidade do impasse, mas é difícil desvalorizar uma
interrupção das negociações quando se aproximam vários prazos reais – o
Eurogrupo de dia 18, a cimeira europeia de 25 e 26 e os pagamentos de 1,6 mil
milhões ao FMI no final do mês, data em que expira o acordo actual e depois da
qual Atenas não poderá receber os 7,2 mil milhões de euros previstos e cuja
entrega depende das negociações em curso.
O
jornalista grego Yannis Koutsomitis refere rumores de que o FMI exige os cortes
nas pensões de reforma que o Governo de Atenas recusa terminantemente. Em
Atenas, os media gregos interpretaram o gesto do FMI como “uma bomba atómica”.
O
anúncio do FMI foi visto, no entanto, sobretudo como um meio de pressionar a
Grécia. Responsáveis do Fundo disseram que esperavam agora uma acção de Atenas.
“O FMI nunca deixa a mesa” de negociações, garantiu um porta-voz, Gerry Rice,
em Washington. “Mas a bola está do lado grego”, sublinhou, invocando “grandes
diferenças”. “Não tem havido progressos em fazer diminuir estas diferenças, o
que quer dizer que estamos ainda muito longe de um acordo”, declarou.
Depois
de rumores de que os negociadores gregos em Bruxelas tinham regressado a
Atenas, o Governo de Alexis Tsipras anunciou, em comunicado, que continuava a
trabalhar “nas questões não resolvidas, incluindo os impostos e a
sustentabilidade da dívida”, para que pudesse haver um acordo em breve, “até
nas próximas horas”.
O
vice-presidente da Comissão Europeia Valdis Dombrovskis confirmou que as
conversações entre as equipas técnicas da Comissão e da Grécia continuam.
Antes
do anúncio do FMI, o presidente do Conselho Europeu, Donald Tusk, rompeu o seu
quase-silêncio sobre a Grécia com uma intervenção dura. Disse que chagou a
altura de “parar de jogar” e que os líderes gregos tinham de “mostrar um pouco
de realismo”. “É óbvio que precisamos de decisões, não de negociações”,
declarou um irritado Tusk, acrescentando que o encontro do Eurogrupo de 18 de
Junho “é realmente crucial”. “Temo que esteja a chegar o dia em que alguém diz:
‘acabou’”.
A
declaração foi feita mesmo antes de uma reunião entre o presidente da Comissão
Europeia, Jean-Claude Juncker, e o primeiro-ministro grego, Alexis Tsipras. Um
encontro de duas horas, aparentemente inconclusivo, e que fontes classificaram
como uma “última tentativa” de avançar nas negociações – fontes que estavam, na
altura, optimistas em relação aos progressos já conseguidos.
No
início do dia, o ministro da Economia da Grécia, Giorgos Stathakis, tinha
avisado os gregos que o acordo iria implicar um aumento de impostos. A
intervenção de Stathakis foi feita na emissora pública ERT, que recomeçou esta
quinta-feira a emitir depois de ter sido abruptamente encerrada há dois anos
por causa da austeridade – e cuja reabertura era um dos principais pontos da
campanha eleitoral do Syriza.
Noutra
má notícia, a autoridade de estatística da Grécia divulgou os números do
desemprego, que aumentou de 26,1% para 26,6% no segundo trimestre de 2015.
Em
Atenas, manifestantes convocados pelo Partido Comunista ocuparam o Ministério
das Finanças contra novas medidas de austeridade. “Já sangrámos o suficiente”,
diziam alguns cartazes.
Na
foto: Tsipras e Juncker antes de um encontro que durou duas horas e terminou
sem declarações EMMANUEL DUNAND/REUTERS
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