Albino
Forquilha, diretor executivo da FOMICRES, debateu em Pretória com parceiros
internacionais o futuro de Moçambique. O desarmamento e a reinserção são a
prioridade, mas para tal pede-se um memorando de entendimento.
Várias
figuras da Comunidade para o Desenvolvimento da África Austral (SADC), em
particular de Moçambique e da África do Sul, estiveram reunidas na cidade
sul-africana de Pretória, na quinta-feira (04.09), onde refletiram sobre a atual
situação política e os passos que devem ser tomados em direção à paz e ao
desarmamento em Moçambique.
Da
reunião brotou a certeza de que primeiro é preciso analisar os termos do acordo
assinado esta sexta-feira (05.09) em Maputo, entre o principal líder da
oposição, Afonso Dhlakama, e o Presidente da República, Armando Guebuza.
Só
depois será possível lançar um memorando de entendimento que envolva as fações
políticas, a sociedade civil e apoio internacional. A sugestão foi feita por
Albino Forquilha, diretor executivo da FOMICRES, uma organização não
governamental que trabalha na área do desarmamento.
“Temos
a certeza que os pilares do acordo prendem-se com a reinserção social dos
combatentes mas também com o desarmamento. Por isso, vai assinar-se um
memorando de entendimento com linhas claras de responsabilidade e tarefas que
advêm deste acordo assinado, com a participação da sociedade civil”, explica
Albino Forquilha.
Sociedade
civil com papel-chave
Mas
para tal, o diretor executivo da FOMICRES - Força Moçambicana para a
Investigação de Crimes e Reinserção Social - salienta que é preciso envolver a
sociedade civil no processo para que não se repita o que aconteceu nos anos 90.
“Seria
um grande erro. Seria a mesma coisa que aconteceu em 1994, aquando do
desarmamento desencadeado pelas Nações Unidas. Só conseguiram recolher 200 mil
armas. Mas depois, milhões foram recolhidos pela sociedade civil”, recorda.
Segundo
Albino Forquilha, falta também definir o nível de colaboração entre o Governo,
a sociedade civil e as comunidades. “Queremos que a implementação seja
abrangente. Um indivíduo tem de saber a quem entregar uma arma que esteja
escondida”, exemplifica.
Na
conferência organizada pelo Instituto de Estudos de Segurança da África do Sul,
participaram altas figuras da África Austral, nomeadamente do Governo de
Moçambique, mas também da União Europeia. Os intervenientes internacionais
comprometeram-se a ajudar Maputo no processo de desarmamento.
Sem
dados fidedignos
Não
há estimativas concretas sobre o número de armas que continuam nas mãos da
população em
Moçambique. Mas desde 1994, várias operações, com o apoio de
instituições internacionais, recolheram mais de dois milhões de artefactos
resultantes de 16 anos de guerra civil.
“Há
muitas outras áreas e províncias que não estiveram em conflito e que têm muitos
esconderijos e homens armados. É preciso que esta recolha de armamento não se
circunscreva às zonas de conflito, mas se estenda a outras zonas”, assevera
Albino Forquilha.
“É
preciso que se faça um trabalho holístico e abrangente na perspetiva do
desarmamento e reinserção social para prevenir novos focos de conflito”,
acrescenta.
A
FOMICRES e os parceiros na discussão sobre o desarmamento vão encontrar-se nas
próximas semanas para trabalhar tecnicamente a questão do memorando. Também o
Governo de Moçambique já mostrou interesse em participar. Nas
palavras de Albino Forquilha, a Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO)
compromete-se a entregar uma lista com o número de armas em sua posse ao
assinar este acordo de paz.
O
responsável da FOMICRES lembra, contudo, que é preciso financiamento e ajuda
internacional para que o desarmamento continue.
“Só
no ano passado, recolhemos 92 mil artefactos de guerra. Se tivéssemos recursos,
teríamos recolhido muito mais. Na última semana fomos contactados para recolher
numa zona [do país] cerca de 135 mil armas. Ainda não fomos lá, porque não
temos recursos”, lamenta.
Nuno
de Noronha – Deutsche Welle
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