Os
países africanos de língua portuguesa continuam longe dos Objetivos de
Desenvolvimento do Milénio (ODM) na saúde. A Guiné-Bissau é considerada o caso
mais grave.
No
ano 2000, as Nações Unidas lançaram um desafio ao mundo: os 8 Objetivos de
Desenvolvimento do Milénio, que abordam várias áreas, como a educação, a saúde
ou a luta contra a pobreza. No campo da saúde pretende-se reduzir a mortalidade
infantil, melhorar a saúde materna e combater o VIH/SIDA, a malária e outras
doenças.
As
metas estabelecidas deveriam ser atingidas este ano, mas nos países africanos
de língua portuguesa os indicadores continuam muito aquém do esperado.
A
Guiné-Bissau é o país onde a situação é mais grave. A instabilidade política e
social contribuíram para o aumento dos problemas de desenvolvimento e as graves
falhas no sistema de saúde ainda persistem.
Kossi
Ayigan, representante da Organização Mundial de Saúde (OMS) na Guiné-Bissau,
considera que, em comparação com anos anteriores, a saúde está a melhorar, mas
ainda há problemas bastante grandes que têm de ser resolvidos.
"O
país passou por uma grande instabilidade política há muito pouco tempo, o que
afetou o setor da saúde. A OMS está a trabalhar com o Governo guineense para
melhorar a qualidade dos serviços médicos, e a situação está a melhorar aos
poucos, apesar de os indicadores estarem muito longe dos Objetivos de
Desenvolvimento do Milénio", afirma Kossi Ayigan.
O
responsável lembra que "65% da população ainda não tem acesso a cuidados
de saúde próximos do seu local de residência. Muitas pessoas têm de se deslocar
à capital e acabamos por perder muitas vidas por causa disso. O Governo tem de
investir mais e tornar a saúde numa prioridade."
O
país ainda lida com problemas como falta de equipamentos nos hospitais, falta
de recursos humanos qualificados e falta de acesso aos cuidados médicos por
parte da maioria da população.
Rogério
Roque Amaro, economista e professor no Instituto Universitário de Lisboa (ISCTE-IUL),
considera que as medidas que têm sido tomadas para inverter esta conjuntura não
são suficientes. "É uma situação muito problemática. A Guiné-Bissau é um
país onde se continua a morrer muito cedo, onde continua a haver muitas mortes
de crianças até aos cinco anos e onde continua a haver muitos riscos de morte
de mães na altura do parto", afirma.
Segundo
o economista, "as estruturas hospitalares têm grandes deficiências, a
começar pela própria capital, até em termos de uma coisa que é básica: haver
luz elétrica. Até no hospital central de Bissau essa situação falha imensas
vezes. Já para não falar do acesso à água potável, que nem sempre é
garantido."
Um
dos países mais pobres do mundo
A
Guiné-Bissau tem 1.7 milhões de habitantes e 70% da população vive em zonas
rurais onde o acesso à saúde é ainda mais limitado. A esperança média de vida à
nascença é de 48 anos. O VIH/SIDA continua a aumentar, e a malária e a
tuberculose estão entre as grandes causas de morte no país. As taxas de
mortalidade infantil e materna também atingiram números preocupantes.
"O
VIH, a malária e a tuberculose são dos maiores problemas do país", declara
Kossi Ayigan. "Também é preciso criar um sistema que se foque na saúde
infantil e materna, pois morrem 55 crianças por cada mil nascimentos, e 900
mães por cada 100 mil, o que representa um aumento preocupante em relação a
anos anteriores. É preciso diminuir estes números para que a Guiné-Bissau possa
ficar mais perto de atingir os ODM".
Segundo
a OMS, a solução passa por um maior investimento por parte do Governo. Menos de
1% do Produto Interno Bruto (PIB) da Guiné-Bissau é destinado à saúde, o que é
muito insuficiente dado os problemas que o país enfrenta.
Rogério
Roque Amaro defende ainda que se deve apostar mais na prevenção."O país
tem uma tradição interessante em algumas zonas de rádios comunitárias, que
podem e devem ter um papel fundamental na educação para a saúde, e na difusão
de informação de prevenção", diz o economista. "Além disso, a
Guiné-Bissau precisa de um enorme investimento. Está quase tudo por fazer. Não
digo que nada tenha sido feito, mas foi tudo muito insuficiente e muito aquém
daquilo que é necessário. Isto ilustra as enormes lacunas e insuficiências do
sistema de saúde."
A
Guiné-Bissau ocupa o 177° lugar em 187 países em termos Índice de
Desenvolvimento Humano, e 33% da sua população continua a viver em grave
situação de pobreza, com menos de um dólar por dia.
Joana
Rodrigues ~Deutsche Welle
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