José
Manuel Silva – Jornal de Notícias, opinião
Dois
estudos recentemente divulgados demonstram como vai mal o SNS. Um inquérito
respondido por mais de 800 médicos internos revelou que 81% dos jovens médicos
consideram que o panorama da prática médica em Portugal piorou muito ou
extremamente nos últimos anos, que 65% ponderam emigrar e que 22%, se soubessem
o que sabem hoje, teriam escolhido outra profissão.
Um
outro inquérito, efetuado a todos os médicos e com mais de 3000 respostas,
demonstrou que 80% dos médicos do SNS consideram que as reformas no setor
público já afetaram a qualidade dos cuidados prestados aos doentes, 40% dos
médicos afirmaram que nas respetivas instituições existem faltas recorrentes de
material com prejuízo do exercício da profissão, 50% afirmaram que o abandono
de terapêuticas aumentou devido a dificuldades económicas dos doentes, 50% dos
médicos urologistas e oncologistas revelaram haver mais dificuldade no acesso a
medicações inovadoras, etc. Outra realidade preocupante é o facto de 60 a 70%
dos médicos do setor público referirem sensação de esgotamento. Os médicos do
setor privado relatam problemas algo semelhantes.
Estes
dois estudos, que, pela gravidade dos seus números, vale a pena ler na íntegra,
evidenciam a verdade com bases científicas, contrariando o romance oficial escrito
pelo Ministério da Saúde de que quase tudo vai bem ou ainda melhor no SNS.
Afinal,
por que é que o SNS está pior? Porque sofreu cortes excessivos, bem acima do
proposto pela troika.
Efetivamente,
em Portugal, a despesa pública em Saúde é apenas de 5,9% do PIB, muito abaixo
da média da OCDE, de 6,7%! Os portugueses, apesar de empobrecidos, são
obrigados a pagar 37% das despesas em saúde diretamente do seu bolso, um dos
valores mais elevados da OCDE.
Deixo
um desafio formal e defino um padrão aos partidos que se candidatam às próximas
eleições para que assumam o compromisso de investir na Saúde, em despesa
pública, o mesmo que a média dos países da OCDE, ou seja, mais 0,8% do PIB
português, cerca de mais 1400 milhões de euros por ano.
Se
isso acontecer, para satisfação de profissionais e doentes, teremos um SNS
robusto, sustentável, de qualidade e cumprindo os seus preceitos
constitucionais.
Em
Portugal, a despesa pública em Saúde é apenas de 5,9% do PIB, muito abaixo da
média da OCDE, de 6,7%!
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