Escritor
angolano diz que também estava envolvido no projeto pacífico que pretendia que
automobilistas buzinassem na rua pela democratização do país e maior justiça
social. Ele considera que também deveria ser detido.
O
rapper angolano Luaty Beirão, um dos 15 jovens ativistas detidos a 20 de junho
em Luanda, continua em greve de fome e junta-se assim a Nito Alves que há dias
está também sem se alimentar. Ambos encontram-se presos.
O
escritor angolano José Eduardo Agualusa mostra-se solidário com os jovens
ativistas que estão presos em Angola por alegada tentativa de golpe de Estado.
Agualusa afirma que "estava envolvido neste projeto de manifestação,"
referindo-se àquela que seria uma manifestação pacífica levada a cabo pelos
jovens e que acabou por os levar a todos para a prisão.
"O
Luaty Beirão, que é uma das pessoas que estão presas e era o principal mentor
deste projeto de manifestação, estava a organizar uma manifestação - à qual ele
chamou "Buzina Só" - que seria uma manifestação pacífica, apelando
aos automobilistas para buzinarem num determinado dia da semana a favor da
democratização do país, de maior justiça social etc," revela.
Para
o escrito angolano, tratava-se de "uma manifestação absolutamente
pacífica, até um pouco ingénua".
Envolvimento
de Agualusa
Agualusa
diz que ele próprio também colaborou nesse projeto pacífico.
"Ele
pediu-me para gravar um vídeo de solidariedade para com este projeto para
disponibilizar nas redes sociais, o que eu fiz," relata.
"Nesse
sentido, sou tão criminoso quanto eles. Se o Luaty Beirão e os jovens cometeram
algum crime, eu também cometi," afirma o escritor.
Quinze
jovens estão presos em várias cadeias de Luanda por alegadamente terem estado a
planear um atentado contra o Presidente José Eduardo dos Santos e dar-se assim
um suposto golpe de Estado.
"O
que se está a passar é muito inquietante porque esta detenção não tem base
nenhuma sustentável. A acusação é de tentativa de golpe de Estado, o que me
parece completamente absurdo," avalia Agualusa.
"Os
jovens estavam reunidos a ler um livro, são pessoas que não têm nenhuma ligação
ao aparelho militar nem a algum partido, não têm nenhuma possibilidade sequer
de pensar em fazer um golpe de Estado. Portanto, esta acusação é completamente
absurda e, nesse sentido, é muito preocupante porque está-se a prender pessoas
apenas porque estão reunidas tentando organizar uma manifestação pacifica. Isto
é um recuo enorme na democratização do país," conclui o escritor.
Para
Agualusa, "se um governo tem medo de 15 jovens aos quais acusa de
tentativa de golpe de Estado, significa que este regime é extremamente fraco e
pode ser, enfim, derrubado facilmente e a qualquer momento sem que nós saibamos
muito bem o que vai acontecer a seguir, porque não há partidos políticos de
oposição forte."
Falta
informação sobre detidos
Em
relação aos jovens detidos, a DW-África também falou com Isabel Correia, a mãe
de Osvaldo Caholo, um dos jovens que foi detido posteriormente - em sua casa,
na quarta-feira passada (01.07) -e está na prisão.
"A
Procuradoria-Geral da República, que pronunciou-se, não nos dá nenhum
detalhe," lamenta.
"Consegui
falar com ele no sábado (04.07). Ele não demonstra tristeza quando vê a
família, mas está preocupado. Ele alimenta-se. Hoje fomos lá levar comida, mas
não era o dia para visita, então não nos deixaram entrar," revela a mãe de
Caholo.
Perguntada
sobre o tratamento que tem sido dado ao seu filho na cadeia, Isabel Correia diz
que não sabe "se ele está a ser bem tratado".
"Está
numa cela, sempre fechado. Isso não é tratamento, para quem não cometeu nenhum
crime? Não sabemos onde bater para nos esclarecer, dizem que ele é preso do
Presidente e não nos dizem mais nada," dasabafa.
Entretanto,
deputados da UNITA, o maior partido de oposição angolana, anunciaram que vão
visitar, nesta terça-feira (07.07), os 15 jovens ativistas na prisão.
Manuel
Ribeiro – Deutsche Welle
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