Bernardo
Ferrão – Expresso, opinião
Se há,
nesta altura, alguma certeza é que não há certeza nenhuma. Os próximos dias são
uma verdadeira incógnita. Mas o ‘não’ da Grécia já nos diz várias coisas: Os
gregos estão fartos de austeridade. Estão dispostos a arriscar. O medo não
venceu. Venceu a soberania. E os credores têm agora um gigantesco sarilho para
resolver. A Europa começa hoje um novo tempo.
O
problema é saber que tempo será esse. As próximas horas são dramáticas. A
decisão do BCE vai dar um importante sinal: Os bancos gregos estão sem liquidez
– a hipótese de um bail-in foi posta em cima da mesa – e se Draghi não abrir a
torneira, o colapso será um facto consumado. Mas estará a Europa disposta e
preparada para que tal aconteça? As filas nos multibanco e os velhos em apuros
para receberem as suas pensões foram só o arranque de um filme que pode acabar
muito pior. Depois da tragédia, o que virá?
Para
os credores vai ser extremamente difícil negociar com quem fez a campanha pelo
‘não’. E com quem se comportou de forma errada, errática e em permanente
campanha interna. Mas o povo grego decidiu. Tsipras revelou-se. Ganhou o país.
E dá um importante sinal para voltar à mesa das negociações: Varoufakis sai.
Era um obstáculo.
Deixar
cair Atenas comporta demasiados riscos: O contágio desemboca em “águas
desconhecidas.” O fantasma de uma nova crise está ao virar da esquina. E não
esqueçamos que o falhanço do projecto do Euro é oxigénio para os extremismos.
Da esquerda radical, à direita nacionalista.
Os
líderes europeus ainda estão meio atordoados com o que se passou. Fecharam-se em copas. E Passos
Coelho fez o mesmo. Só falará depois da reunião de Merkel e de Hollande. À
espera de um guião, o primeiro-ministro fez no entanto questão de ir adiantando
que a “Grécia tem de pagar os empréstimos feitos em condições muito
excepcionais.” A declaração é clara como água: As linhas vermelhas estão
traçadas. Não pode haver filhos e enteados. Ou Portugal não é a Grécia. Ou o
“não pode haver excepções” de Cavaco Silva. Mas nos cálculos de Passos há um
que certamente já o atormenta. É que se a Europa ceder a Atenas – e sobretudo
se incluir alguma cedência na questão da dívida -, o jogo pode virar e esse
seria o cenário do embaraço. Passos teria de justificar porque não seguiu outro
caminho em vez do bom aluno que quis “ir além da troika”.
Os
líderes europeus não vão facilitar. E Passos Coelho também não. O futuro da Grécia
e do euro é uma cartada decisiva para as legislativas. E aprendemos com os
últimos meses que não há cenários definitivos. António Costa já está chamuscado,
mas ainda pode conseguir reverter os danos do seu ziguezaguear. Quanto a Passos
Coelho será interessante perceber como se vai safar deste “conto de crianças”
que abanou com a Europa dos adultos.
Sem comentários:
Enviar um comentário