terça-feira, 28 de julho de 2015

“Enquanto a banca for privada, qualquer governo é refém do capital financeiro”




Num pavilhão cheio de simpatizantes da ala esquerda do Syriza, Lafazanis defendeu a saída da Grécia do euro, criticou a estratégia de Tsipras e respondeu à “campanha de difamação” na imprensa, que diz ter como alvo o conjunto do partido e toda a esquerda grega.

“Esta é a altura de apresentar todo o programa da alternativa, que estava escrito no programa do Syriza e que foi em grande medida abandonado pelo governo”, afirmou o ex-ministro da Energia perante uma plateia repleta na sessão pública organizada pela revista da Plataforma de Esquerda em Atenas. Num recado para a imprensa, “que vai apresentar este encontro como um ponto de partida para construir um novo partido”, Panagiotis Lafazanis disse que ele é antes “uma mensagem poderosa de unidade no quadro da nossa diversidade”, sublinhando a urgência dos órgãos partidários se pronunciarem e devolverem ao partido “as suas raízes anti-memorando”.

“O grande argumento que nos deram para justificar a aceitação do memorando é que não havia alternativa. Isto não vos faz lembrar alguma coisa?”, perguntou Lafazanis, recordando que foi a mesma justificação dos anteriores governos quando assinaram os seus memorandos com a troika. “Então porque é que reagimos nessa altura? Porque é que os condenámos nas ruas e prometemos aboli-los? Então afinal não tínhamos uma alternativa?”, prosseguiu. “Ou, pior ainda, teríamos nós a ilusão de que era com súplicas e votos de lealdade ao euro que íamos negociar o abandono das políticas desses memorandos? A saída da catástrofe do memorando foi abandonada para evitar a ‘catástrofe da bancarrota’?”

O que faltou ao governo, diz Lafazanis, foi vontade política para conceber um caminho de saída da zona euro, deixando esgotar as reservas de dinheiro do país enquanto apostava nas negociações que iam de impasse em impasse ao longo de meses, tornando-se na prática uma “presa dos credores”.

Lafazanis defendeu o controlo público da banca da Grécia para desempenhar o papel de apoio à economia. “Enquanto os bancos permanecerem sob controlo e gestão privada, os governos, quaisquer governos, só poderão ser reféns do capital financeiro”, argumentou, lembrando que só agora estão a ser investigados a fundo os escândalos que envolvem alguns dos principais bancos gregos das últimas décadas.

O líder da Plataforma de Esquerda falou também da importância de manter na esfera pública as empresas estratégicas do país, reafirmando a “recusa das privatizações previstas no novo memorando”, nomeadamente dos portos do Pireu e Salónica, dos aeroportos regionais, dos terrenos do anterior aeroporto internacional e da rede elétrica. Uma reforma fiscal que comece a combater a evasão e medidas que garantam a transparência na propriedade dos media foram outras propostas apresentadas por Lafazanis, em ambiente de comício pré-eleitoral.

“A UE e a zona euro viraram as costas à democracia”

Questionando os presentes sobre se esta alternativa à austeridade poderia ser posta em prática dentro da moeda única, Lafazanis não deixou espaço para dúvidas: “É óbvio que isto entra em conflito com as forças que dominam a zona euro e não pode existir sem vontade política e um plano político de saída da zona euro”.

“Esta posição que a Plataforma de Esquerda defendeu desde sempre é agora entendida por cada vez mais gente”, prosseguiu o ex-ministro e atual deputado do Syriza, concluindo que “não podemos desafiar os memorandos e a austeridade, muito menos o neoliberalismo, se não pusermos em causa ao mesmo tempo a zona euro e a presença do nosso país nela”.

Respondendo à propaganda que apresenta a saída do euro como “uma entrada no inferno”, Lafazanis deu os exemplos de economistas como Krugman e Stiglitz, que defendem que a decisão de regressar à moeda nacional não conduz ao desastre. Pelo contrário, sugere Lafazanis, “se for acompanhada das medidas progressistas que defendemos”, poderá rapidamente suplantar os efeitos negativos na economia, aumentando as exportações e a substituição de importações, impulsionar o setor do turismo, aumentar a liquidez na economia necessária à reconstrução produtiva e ao crescimento.

“Recomendamos este passo abertamente ao Syriza e à sociedade grega”, anunciou Lafazanis, propondo um debate interpartidário “livre, sóbrio, sem preconceitos, demonizações nem alarmismos”.

Esta sessão pública organizada pela revista Iskra contou também com intervenções de outras figuras da Plataforma de Esquerda e do ex-eurodeputado e herói da resistência ao nazismo Manolis Glezos e foram recebidas mensagens de solidariedade do escritor Tariq Ali, os economistas Claudio Katz e Samir Amin, dos deputados Fabio de Masi (Die Linke/Alemanha) e Dov Khenin (PC/Israel), do PSOL brasileiro e da Marea Socialista venezuelana.

InfoGrécia

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