Num
pavilhão cheio de simpatizantes da ala esquerda do Syriza, Lafazanis defendeu a
saída da Grécia do euro, criticou a estratégia de Tsipras e respondeu à
“campanha de difamação” na imprensa, que diz ter como alvo o conjunto do
partido e toda a esquerda grega.
“Esta
é a altura de apresentar todo o programa da alternativa, que estava escrito no
programa do Syriza e que foi em grande medida abandonado pelo governo”, afirmou o ex-ministro da Energia perante uma plateia
repleta na sessão pública organizada pela revista da Plataforma de Esquerda em Atenas. Num recado
para a imprensa, “que vai apresentar este encontro como um ponto de partida
para construir um novo partido”, Panagiotis Lafazanis disse que ele é antes
“uma mensagem poderosa de unidade no quadro da nossa diversidade”, sublinhando
a urgência dos órgãos partidários se pronunciarem e devolverem ao partido “as
suas raízes anti-memorando”.
“O
grande argumento que nos deram para justificar a aceitação do memorando é que
não havia alternativa. Isto não vos faz lembrar alguma coisa?”, perguntou
Lafazanis, recordando que foi a mesma justificação dos anteriores governos
quando assinaram os seus memorandos com a troika. “Então porque é que reagimos
nessa altura? Porque é que os condenámos nas ruas e prometemos aboli-los? Então
afinal não tínhamos uma alternativa?”, prosseguiu. “Ou, pior ainda, teríamos
nós a ilusão de que era com súplicas e votos de lealdade ao euro que íamos
negociar o abandono das políticas desses memorandos? A saída da catástrofe do
memorando foi abandonada para evitar a ‘catástrofe da bancarrota’?”
O
que faltou ao governo, diz Lafazanis, foi vontade política para conceber um
caminho de saída da zona euro, deixando esgotar as reservas de dinheiro do país
enquanto apostava nas negociações que iam de impasse em impasse ao longo de
meses, tornando-se na prática uma “presa dos credores”.
Lafazanis
defendeu o controlo público da banca da Grécia para desempenhar o papel de
apoio à economia. “Enquanto os bancos permanecerem sob controlo e gestão
privada, os governos, quaisquer governos, só poderão ser reféns do capital
financeiro”, argumentou, lembrando que só agora estão a ser investigados a
fundo os escândalos que envolvem alguns dos principais bancos gregos das
últimas décadas.
O
líder da Plataforma de Esquerda falou também da importância de manter na esfera
pública as empresas estratégicas do país, reafirmando a “recusa das
privatizações previstas no novo memorando”, nomeadamente dos portos do Pireu e
Salónica, dos aeroportos regionais, dos terrenos do anterior aeroporto
internacional e da rede elétrica. Uma reforma fiscal que comece a combater a
evasão e medidas que garantam a transparência na propriedade dos media foram
outras propostas apresentadas por Lafazanis, em ambiente de comício
pré-eleitoral.
“A
UE e a zona euro viraram as costas à democracia”
Questionando
os presentes sobre se esta alternativa à austeridade poderia ser posta em
prática dentro da moeda única, Lafazanis não deixou espaço para dúvidas: “É
óbvio que isto entra em conflito com as forças que dominam a zona euro e não
pode existir sem vontade política e um plano político de saída da zona euro”.
“Esta
posição que a Plataforma de Esquerda defendeu desde sempre é agora entendida
por cada vez mais gente”, prosseguiu o ex-ministro e atual deputado do Syriza,
concluindo que “não podemos desafiar os memorandos e a austeridade, muito menos
o neoliberalismo, se não pusermos em causa ao mesmo tempo a zona euro e a
presença do nosso país nela”.
Respondendo
à propaganda que apresenta a saída do euro como “uma entrada no inferno”,
Lafazanis deu os exemplos de economistas como Krugman e Stiglitz, que defendem
que a decisão de regressar à moeda nacional não conduz ao desastre. Pelo
contrário, sugere Lafazanis, “se for acompanhada das medidas progressistas que
defendemos”, poderá rapidamente suplantar os efeitos negativos na economia,
aumentando as exportações e a substituição de importações, impulsionar o setor
do turismo, aumentar a liquidez na economia necessária à reconstrução produtiva
e ao crescimento.
“Recomendamos
este passo abertamente ao Syriza e à sociedade grega”, anunciou Lafazanis,
propondo um debate interpartidário “livre, sóbrio, sem preconceitos,
demonizações nem alarmismos”.
Esta
sessão pública organizada pela revista Iskra contou também com intervenções de
outras figuras da Plataforma de Esquerda e do ex-eurodeputado e herói da
resistência ao nazismo Manolis Glezos e foram recebidas mensagens de
solidariedade do escritor Tariq Ali, os economistas Claudio Katz e Samir Amin,
dos deputados Fabio de Masi (Die Linke/Alemanha) e Dov Khenin (PC/Israel), do
PSOL brasileiro e da Marea Socialista venezuelana.
InfoGrécia
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