O
ministro Georges Chikoti diz não estar preocupado com a campanha internacional
para a libertação dos presos políticos em Angola, jura que eles estavam a
preparar um golpe de Estado, ofende a inteligência dos seus concidadãos e
também ele se julga eterno. Mas, ao fim e ao cabo, apenas mostra que se trata
do estertor da fera.
Orlando
Castro – Folha 8, opinião
Os
15 activistas presos há mais de um mês em Angola não são presos políticos,
afirmou o ministro das Relações Exteriores, Georges Chikoti, mantendo – como
lhe foi ordenado pelo “querido líder” e por uma questão de sobrevivência – a
tese de que os jovens activistas detidos tinham mísseis escondidos nas
lapiseiras, Kalashnikovs camufladas nos telemóveis e outro armamento pesado e
letal disfarçado nos blocos de apontamentos. Só assim se compreende que
estivessem a preparar um golpe de Estado.
Os
jovens estavam no seu quartel-general, por sinal uma residência em Luanda, numa
reunião dos seus estrategas militares que planeavam o golpe a partir da leitura
do livro “Da ditadura à democracia — Uma estrutura conceptual para a
libertação”, do norte-americano Gene Sharp.
No
quintal, debaixo de uma mangueira, o exército mobilizado por esses jovens
(talvez uns milhões de guerrilheiros) afinava os códigos para lançamento dos mísseis
e, talvez, até de ogivas nucleares contra a residência de Eduardo dos Santos.
A
campanha internacional pela libertação destes activistas mostra, aliás, que
todos se esquecem que José Eduardo dos Santos é o único representante de Deus
na Terra e que, por isso, tem poderes adivinhação que o levam até a saber com
exactidão milimétrica o que as pessoas pensam.
Foram,
aliás, esses poderes que permitiram a prisão dos jovens em flagrante delito:
estavam nesse momento a pensar numa solução para o derrubar. E isso constitui
só por si matéria de facto para os mandar matar. Tal não aconteceu, ainda,
porque Eduardo dos Santos é misericordioso.
Além
disso, não são necessárias outras provas. Para que serviriam ao regime as armas
(as tais que estavam camufladas), ou os milhões de guerrilheiros (os tais que
estavam no quintal debaixo da mangueira)? Saber o que os jovens pensam é
condição sine qua non.
Vejamos
a explicação de Georges Chikoti: “Angola é um país democrático, tem partidos
políticos que participam no Parlamento. O que não se pode aceitar é que as
pessoas queiram utilizar a violência como via de atingir ou alcançar o poder
político”.
Quando
Georges Chikoti fala, com todo o conhecimento de causa, de violência estava,
obviamente, a referir-se à revolta militar que o tal exército dos jovens tinha
em mente, caso não estivesse tanto calor debaixo da mangueira.
Vir
agora dizer-se que o regime não sabe conviver com o contraditório e revela uma
das suas facetas mais marcantes, a intolerância, é não compreender o ADN do
MPLA, em que o ponto mais alto foi o massacre de milhares e milhares (talvez 80
mil) de angolanos no dia 27 de Maio de 1977.
É,
aliás, não compreender que o regime está de tal maneira moribundo que até manda
prender e matar a sua própria sombra. É não compreender que o regime está
morto, só ainda não sabe.
É
não compreender que tudo não passa do estertor da fera.
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