O
presidente Barack Obama fez ontem (28) um histórico discurso ao continente
africano na tribuna maior da sua política, a União Africana (UA), com sede em Adis Abeba ,
Etiópia.
Histórico porque se tratou do primeiro presidente estadunidense em exercício a discursar na mais alta instituição da política africana, acrescido ao fato emotivo de ser ele um afrodescendente. E, nesta condição, fê-lo de uma forma um tanto pedagógica, moralista mesmo, dizendo coisas que provavelmente nenhum presidente branco estadunidense se atreveria a dizer em tão importante fórum.
Histórico porque se tratou do primeiro presidente estadunidense em exercício a discursar na mais alta instituição da política africana, acrescido ao fato emotivo de ser ele um afrodescendente. E, nesta condição, fê-lo de uma forma um tanto pedagógica, moralista mesmo, dizendo coisas que provavelmente nenhum presidente branco estadunidense se atreveria a dizer em tão importante fórum.
Usou
dos usados e previsíveis clichês sobre a necessidade do combate ao ''cancro da
corrupção'', no seu entender o maior obstáculo ao desenvolvimento da África, do
imperativo da promoção da boa governação, da transparência e do bom
funcionamento Estado de Direito.
Falou dos direitos dos homossexuais, condenou a mutilação genital feminina e demais violências contra as mulheres. Foi mais longe e criticou abertamente líderes africanos agarrados ao poder e que desta forma colocam em perigo o progresso democrático do continente e lembrou a receita antiga para uma verdadeira democracia: ''eleições livres e justas, liberdade de expressão e liberdade de reunião''. ''Ninguém deve ser presidente para a vida'', sentenciou.
''A África está a mudar, peço ao mundo para mudar a sua visão sobre África. É hora de abandonar os velhos estereótipos de uma África sempre ligada à pobreza e aos conflitos'', declarou.
Falou dos direitos dos homossexuais, condenou a mutilação genital feminina e demais violências contra as mulheres. Foi mais longe e criticou abertamente líderes africanos agarrados ao poder e que desta forma colocam em perigo o progresso democrático do continente e lembrou a receita antiga para uma verdadeira democracia: ''eleições livres e justas, liberdade de expressão e liberdade de reunião''. ''Ninguém deve ser presidente para a vida'', sentenciou.
''A África está a mudar, peço ao mundo para mudar a sua visão sobre África. É hora de abandonar os velhos estereótipos de uma África sempre ligada à pobreza e aos conflitos'', declarou.
Em
teoria concordo com tudo o que diz mas acredito desconfiando da sinceridade do
seu discurso. A África é muito mais complexa do que simples visões externas e
estereotipadas sobre ela. Por outro lado, o mundo conhece bem o pragmatismo cínico
dos líderes norte-americanos. O célebre discurso de Cairo em 2009 terminou com
o derrube de um governo democraticamente eleito.
No
fim é a velha história: faz o que digo mas não o que faço. Nenhum líder
africano, asiático ou mesmo europeu chegaria como convidado ao Congresso dos
EUA para dar lições de ética e moral política aos norte-americanos, falar da
corrupção legalizada em forma de lobby, das inúmeras violações aos
direitos humanos interna e externamente ou de um sistema político-jurídico
perverso que permitiu Bush filho ser eleito em 2000.
Falar
de uma democracia parada no tempo que desde o pleito de 1853 mantém uma
ditadura bipartidária, falar de derrubes de regimes democráticos substituídos
por ditaduras, de uma colônia (Porto Rico) que sequer tem direito a votar em
eleições presidenciais, de vários presos políticos ignorados e silenciados nos
mídia ocidentais ditos ''democráticos'' e ''independentes''.
E, como afro-americano, Obama perdeu uma excelente oportunidade para, em nome de seu país, se desculpar perante a África e o mundo dos horrores da escravatura que permitiram aos EUA ser hoje a maior potência mundial.
E, como afro-americano, Obama perdeu uma excelente oportunidade para, em nome de seu país, se desculpar perante a África e o mundo dos horrores da escravatura que permitiram aos EUA ser hoje a maior potência mundial.
*Alberto
Castro (na foto) é correspondente de Afropress em Londres e colabora em Página Global
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