Mariana
Adam e Paulo Zacarias Gomes - Económico
O
"Não" venceu o referendo por mais de 60% dos votos. Esta semana,
Atenas e parceiros europeus voltam às negociações.
Depois
de uma intensa semana de troca de acusações e extremar de posições entre o
governo grego e os credores, a população grega decidiu dar um cartão vermelho
aos credores europeus no primeiro referendo desde 1974.
O
"Não' às propostas dos credores venceu com uma margem acima do esperado
pelas sondagens que foram sendo divulgadas ao longo da semana. Às 21h50, com
8,6 milhões de votos contados, representando 88,39% do total, o 'Não' vencia
com 61,46% e o 'Sim' registava 38,54% dos votos.
Quatro
horas e meia após o fecho das urnas, o primeiro-ministro grego Alexis Tsipras
veio oficializar a vitória do 'Não' e defendeu que a consulta não pretendeu
decidir a manutenção ou saída do país euro. Garantiu ainda que regressará já
esta segunda-feira às negociações para restaurar o sistema bancário e a questão
da dívida.
"Estou
bem ciente que o mandato que me deram não é o de uma ruptura com a Europa mas
para reforçar a nossa posição negocial para procurar uma solução viável",
disse o primeiro-ministro em declarações transmitidas pelas televisões.
O
titular das Finanças, Yanis Varoufakis - que tinha afirmado preferir cortar um
braço a assinar o actual acordo com os credores - reagiu apelando também ao
regresso às negociações.
Em
reacção, os líderes das duas maiores economias do Velho Continente, Angela
Merkel e François Hollande, reconheceram entretanto o resultado do referendo
grego e marcaram já uma cimeira de líderes da zona euro para a próxima
terça-feira.
Também
os ministros das Finanças do euro deverão reunir esta semana, ainda sem dia
definido, disse o porta-voz do eurogrupo. O presidente do grupo que reúne os
ministros das Finanças do euro, Jeroen Dijsselbloem, tinha afirmado ainda antes
do anúncio dos resultados oficiais que o referendo condicionava a presença da Grécia
no euro. Já o vice-chanceler alemão, Sigmar Gabriel, manifestou incómodo com o
resultado e disse não ver como é que será possível voltar às conversações com
Atenas.
Próximo
dia D: 20 de Julho
Até
20 de Julho, Atenas terá de encontrar uma solução para a sua liquidez. Depois
de falhar o pagamento de 1.600 milhões de euros ao FMI, o tesouro grego terá de
encontrar liquidez adicional para reembolsar 3.500 milhões de euros ao banco
liderado por Mario Draghi.
Se
não o fizer, o BCE é obrigado a suspender o financiamento aos bancos. Fontes
contactadas pela Reuters anteciparam que a reunião de amanhã do banco central
não vai mexer no tecto máximo de ajuda de liquidez de emergência aos bancos,
que deverão voltar a abrir na terça-feira.
As
primeiras reacções dos mercados chegaram da zona da Ásia-Pacífico, onde o euro
recuou 1,4% face à moeda norte-americana, para abaixo de 1,1 dólares e o dólar
australiano cedeu para mínimos de 2009, enquanto o iene - divisa de refúgio -
apreciou em reacção à vitória do 'Não'.
Na
dúvida ficará a reacção dos mercados esta segunda-feira: apesar de já terem,
segundo os analistas, absorvido nos últimos meses uma eventual resposta
negativa neste referendo, o arranque de sessão será feito em alerta máximo.
Alguns dos maiores bancos internacionais puseram as suas equipas de sobreaviso
neste domingo, a antecipar uma maior volatilidade nos mercados.
Terramoto
na Europa faz estragos na política grega
A
nível doméstico, o resultado do referendo já causou uma baixa: a de Antonis
Samaras, antecessor de Alexis Tsipras na chefia de governo e defensor do 'Sim',
demitiu-se de líder do partido Nova Democracia. Entretanto, está prevista para
esta segunda-feira uma reunião de líderes partidários em Atenas, pedida por
Tsipras ao presidente grego. A que Samaras não deverá comparecer.
A
menos de quatro meses das eleições legislativas e sendo Portugal um dos países
com maior risco de contágio da crise grega, os partidos políticos reagiram numa
altura em que menos de 50% dos votos estavam contados.
O
PS, foi o primeiro, e acusou o Governo de "fazer de conta que um
terramoto grego não afectará Portugal". O vice-presidente do PSD Marco
António Costa defende que o resultado no referendo de Atenas coloca nas mãos do
governo helénico o "dever" de apresentar uma solução para o país.
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