Pedro
Ivo Carvalho – Jornal de Notícias, opinião
Não
sei o que é mais confrangedor: constatar que os principais candidatos a
primeiro-ministro não reservam tempo de antena suficiente para nos explicar
como querem tirar o país do fosso do desemprego; ou concluir que, para eles e
para o partido deles, a discussão sobre o tema continua enredada na expiação da
culpa. Do passado. Continua a perder-se no emaranhado estatístico do costume,
com números que dão para tudo e o seu contrário, adornados por frases
dramáticas que garantem bons títulos. Como se alguém, imbuído de um espírito
masoquista, rejubilasse com a ideia de uns serem melhores do que os outros
apenas porque condenaram menos pessoas à emigração ou à penúria. E em função
disso decidisse o seu voto. São ambos maus, mas um foi menos mau do que o outro.
Nesta história não há heróis, apenas vítimas. Deviam, por isso, estar calados
se não têm nada de efetivamente importante para anunciar. Mas não estão.
Passos
Coelho alega ter criado 175 mil postos de trabalho entre 2013 e 2015 (mas
depois a maldita da estatística contraria-o, lembrando-lhe que, desde que
assumiu a governação, se perderam 259 mil empregos). Já António Costa acusa o
atual Executivo de ter sido responsável pela "maior destruição de postos
de trabalho que tivemos há muito tempo", que ele estima em 320 mil
pessoas. A memória do secretário-geral socialista denota alguma seletividade,
na medida em que parece esquecer-se de que foram as políticas expansionistas do
PS que estenderam a passadeira vermelha a esta chaga social.
Querem
mesmo continuar a falar do passado? É que o Fundo Monetário Internacional, que
Vossas Excelências tão bem conhecem, já deu algumas pistas do que pode ser o
futuro. Se a economia continuar anémica, só daqui a 20 anos Portugal regressará
aos níveis de desemprego que tinha antes da crise. Isso mesmo. Em 2035. A
doença está de tal forma enraizada que os desempregados de longa duração são
tidos como irrecuperáveis pelo sistema e os jovens colocados numa cápsula à
deriva a que chamam de geração perdida. E precária.
Mais
de meio milhão de portugueses estão inscritos nos centros de emprego. Cerca de
200 mil terão emigrado nos últimos anos. Dezenas de milhares pura e
simplesmente sobrevivem sem qualquer apoio do Estado. Isto nós já sabemos.
Agradecemos, por isso, que, na campanha eleitoral que já começou, não insistam
em lembrar-nos coisas que já sabemos. O que nós queremos (e precisamos) mesmo é
que o debate político sobre o desemprego regresse de uma vez por todas ao
futuro.
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