quinta-feira, 30 de julho de 2015

Portugal. 2035. ISSO MESMO. 2035



Pedro Ivo Carvalho – Jornal de Notícias, opinião

Não sei o que é mais confrangedor: constatar que os principais candidatos a primeiro-ministro não reservam tempo de antena suficiente para nos explicar como querem tirar o país do fosso do desemprego; ou concluir que, para eles e para o partido deles, a discussão sobre o tema continua enredada na expiação da culpa. Do passado. Continua a perder-se no emaranhado estatístico do costume, com números que dão para tudo e o seu contrário, adornados por frases dramáticas que garantem bons títulos. Como se alguém, imbuído de um espírito masoquista, rejubilasse com a ideia de uns serem melhores do que os outros apenas porque condenaram menos pessoas à emigração ou à penúria. E em função disso decidisse o seu voto. São ambos maus, mas um foi menos mau do que o outro. Nesta história não há heróis, apenas vítimas. Deviam, por isso, estar calados se não têm nada de efetivamente importante para anunciar. Mas não estão.

Passos Coelho alega ter criado 175 mil postos de trabalho entre 2013 e 2015 (mas depois a maldita da estatística contraria-o, lembrando-lhe que, desde que assumiu a governação, se perderam 259 mil empregos). Já António Costa acusa o atual Executivo de ter sido responsável pela "maior destruição de postos de trabalho que tivemos há muito tempo", que ele estima em 320 mil pessoas. A memória do secretário-geral socialista denota alguma seletividade, na medida em que parece esquecer-se de que foram as políticas expansionistas do PS que estenderam a passadeira vermelha a esta chaga social.

Querem mesmo continuar a falar do passado? É que o Fundo Monetário Internacional, que Vossas Excelências tão bem conhecem, já deu algumas pistas do que pode ser o futuro. Se a economia continuar anémica, só daqui a 20 anos Portugal regressará aos níveis de desemprego que tinha antes da crise. Isso mesmo. Em 2035. A doença está de tal forma enraizada que os desempregados de longa duração são tidos como irrecuperáveis pelo sistema e os jovens colocados numa cápsula à deriva a que chamam de geração perdida. E precária.

Mais de meio milhão de portugueses estão inscritos nos centros de emprego. Cerca de 200 mil terão emigrado nos últimos anos. Dezenas de milhares pura e simplesmente sobrevivem sem qualquer apoio do Estado. Isto nós já sabemos. Agradecemos, por isso, que, na campanha eleitoral que já começou, não insistam em lembrar-nos coisas que já sabemos. O que nós queremos (e precisamos) mesmo é que o debate político sobre o desemprego regresse de uma vez por todas ao futuro.

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