Paula
Ferreira – Jornal de Notícias, opinião
Voltaremos
a ser felizes. É o que nos propõe todos os dias Pedro Passos Coelho,
primeiro-ministro, em campanha eleitoral. Ou alguém por ele. De cada vez, um
bocadinho mais longe. Primeiro, acenaram com a devolução de uma parte da
sobretaxa de IRS; agora, todos os rendimentos que nos foram tirados ao longo
dos últimos quatro anos - à revelia das regras de um Estado de direito e de
qualquer sensibilidade social - ser-nos-ão devolvidos. Os mais pobres não são
esquecidos, para eles há promessas douradas: o salário mínimo tem de aumentar.
Claro. É pegar ou largar, as eleições aproximam-se.
E
não há maior vantagem que essa. Para quem vai a votos e para os eleitores. A
promessa é do primeiro-ministro, límpida e apetecível: "Vamos recuperar os
nossos rendimentos nos próximos quatro anos. Este ano, já não há cortes nenhuns
nas pensões [inferiores a 4600 euros]". Se o atual Governo promete, caso
seja eleito, devolver todos os rendimentos, cabe ao atual primeiro-ministro, e
cabeça de lista da coligação PSD/CDS, explicar como conseguirá a proeza.
Vai
prosseguir o caminho trilhado até agora, ou vai mudar de rumo e iniciar,
finalmente, a Reforma do Estado há tanto prometida e nunca sequer ensaiada? Nos
últimos quatro anos, baseou toda a política no aumento da receita, através de
um brutal aumento de impostos e de um trabalho quase pidesco da Autoridade
Tributária. Do lado da despesa, tudo se mantém inalterável: continua a subir,
sem parar, como provam os dados mais recentes da execução orçamental,
publicados na última sexta-feira. Citando o próprio boletim do Ministério das
Finanças, ficamos a saber. "As despesas de investimento aumentaram, no
primeiro semestre, 315,7 milhões de euros, sobretudo justificado pelo efeito
dos encargos associados às subconcessões rodoviárias". As famigeradas PPP
continuam a pesar nas contas do Estado.
Era
precisamente aí que Passos Coelho nos devia garantir que iria cortar. Os
credores abandonaram Lisboa e nada, afinal, de estrutural mudou. Passos Coelho
promete devolver os cortes que fez nos salários dos funcionários públicos e nas
pensões, mas não nos diz que vai reformar o Estado. Portanto, teremos mais do
mesmo. Quem paga impostos vai continuar a pagar o "êxito" das
políticas desta maioria. E quando isso já não for mais possível, porque algum
dinheiro de salários os trabalhadores têm de levar para casa, a troika lá
estará para aceitar um novo pedido de resgate.
Passos
Coelho bem pode querer que acreditemos na sua diabolização de António Costa.
Não é preciso tanto. Se ganhar as eleições de outubro, e não mudar de rumo,
será ele a levar-nos de regresso ao passado.
Sem comentários:
Enviar um comentário