sexta-feira, 21 de agosto de 2015

Corbyn ressuscita idealismo socialista no Reino Unido e diz que se eleito pedirá desculpas ao Iraque



Alberto Castro*, Londres

Jeremy Corbyn, candidato a líder dos Trabalhistas britânicos disse em entrevista exclusiva ao The Guardian hoje (21) publicada que, se eleito, pedirá desculpas ao seu partido e ao Iraque pela guerra neste países em 2003, motivada por uma mentira.

Corbyn, que se descreve a ele mesmo como um socialista democrático, pertence a ala fundacional de ideologia verdadeiramente socialista e democrática dos Trabalhistas britânicos. Segundo vários analistas,  sempre foi coerente com suas convicções, sendo visto por seus adversários internos e externos como representando a esquerda dura, ultrapassada, parada no tempo.

Mas é precisamente a firmeza das suas convicções que o tornam na estrela maior da corrida a liderança do seu partido gerando uma onda de simpatias já apelidada de corbynismo, particularmente entre os jovens que nele veem o único candidato antipolítico profissional, alguém que fala diretamente para as pessoas.

Sua candidatura à liderança surgiu de uma proposta dentro do próprio partido no sentido de alargar o debate à todas as tendências internas. Só que nem mesmo os proponentes contavam que ele tivesse o surpreendente apoio de militantes e simpatizantes, particularmente dos sindicatos de trabalhadores, que se reveem nas suas politicas o colocam disparado na liderança da corrida para ser o próximo líder trabalhista.

Para além de mobilizar também a juventude em torno de suas ideias, tem ganho simpatia de partidos da esquerda tidos como radicais, nacionalistas escoceses e, pasme-se, mesmo entre os conservadores Tories  e independentistas do UKIP que veem nele o único candidato com princípios coerentes e ideologia definida.

Amigo de Fidel Castro e Hugo Chavez, participa do Foro de São Paulo, uma organização criada em 1990, inspirada pelo líder cubano e Lula da Silva, entre outros, para discutir alternativas às políticas neoliberais na América Latina e no Caribe e hoje abrangente à participação de partidos, políticos, ativistas e intelectuais de esquerda bem como movimentos sociais e populares de todo o mundo.

Segundo o The Guardian, teve como mentores Tony Benn, ícone da ala esquerda trabalhista por muitos considerado o líder perdido do partido, e o marxista Ralph Miliband, pai dos irmãos Ed e David Miliband. Entre os seus autores preferidos estão Oscar Wilde e o nigeriano Chinua Achebe. Sua educação superior não passou de uma breve passagem por um politécnico de Londres e com aqueles diz que feito a sua ''Universidade de Educação''.  

Em 2003 foi, juntamente com o então trabalhista  Geoge Galloway, dos poucos a posicionar-se firmemente no Parlamento de Westminster contra a decisão de Tony Blair em envolver o Reino Unido na guerra no Iraque, tendo sido um dos líderes do movimento de massas Stop the War Coalition.

Militante pacifista, opõe-se à renovação do Trident, sistema militar britânico de armas nucleares, e faz campanha mundial para o desmantelamento de armas de destruição massiva, sendo um dos três vice-presidentes da organização Campain for Nuclear Disarmament. É contra a expansão da NATO para o leste europeu e defende o diálogo com organizações tidas como terroristas.

Em entrevista recente ao Channel 4 News, justificou assim a sua posição: ''Penso que para fazer a paz temos que falar com pessoas com que estamos profundamente em desacordo. Não haverá qualquer processo de paz [Médio Oriente] a menos que haja conversações envolvendo Israel o Hezbollah e o Hamas".

Deputado há mais de 30 anos por Islington North, Londres, é o menos dispendioso dos parlamentares de Sua Majestade, de quem é veemente opositor. Assumidamente antiausteridade, fez campanha contra a nacionalização da NHS, sigla em inglês do serviço nacional de saúde britânico, defende a gratuitidade do ensino universitário, o controle do Estado sobre empresas de utilidade pública em setores como água, gás e eletricidade e, entre outras, a renacionalização dos caminhos de ferro.

Paradoxalmente, quanto mais a imprensa e os seus adversários internos e externos o tentam demonizar ou desqualificar, associando-o a figuras no seu entender ''pouco recomendáveis'' como Fidel, Chavez e Putin, entre outros, maior se tornam os apoios em torno da sua candidatura. Depois do susto tido com o último referendo que ameaçava com a independência na Escócia, Jeremy Corbyn tornou-se em um autêntico pesadelo para os defensores do atual modelo de sociedade em terras de Sua Majestade e para Tony Blair em particular.

Por outro lado, ele surge como uma lufada de ar fresco no idealismo democrático numa altura em que o mundo anda carente de políticos de integridade e convicção. Mas vai o atual establishment dominante e a inteligensia ao seu serviço permitir? A Grécia responde que não. 

*Alberto Castro é correspondente de Afropress em Londres e colabora em Página Global

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