O
primeiro-ministro demitido da Guiné-Bissau, Domingos Simões Pereira, considerou
hoje que a decisão do Presidente de nomear Baciro Djá como novo chefe do
Governo poderá levar o país outra vez ao caos e ao abismo.
Em
entrevista à Rádio de Cabo Verde (RCV), Domingos Simões Pereira afirmou que o
Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC) vai
requerer a fiscalização da constitucionalidade da decisão e agir judicialmente
contra o Presidente, José Mário Vaz.
"Para
não variar, o Presidente voltou a escolher um caminho que pretende levar o país
outra vez ao caos e ao abismo. É lamentável, é triste. Eu não tenho prazer
nenhum em apresentar o meu país nestes termos, mas é a realidade que nós
estamos a viver. Só que nós assumimos que vamos aceitar e vamos resolver essa
realidade", prometeu.
Domingos
Simões Pereira entendeu que a decisão de José Mário vaz fere a Constituição da
República e outras leis, uma vez que o chefe de Estado não ouviu os partidos
políticos com assento parlamentar e o Conselho de Estado não foi consultado.
"Lamentamos
que o Presidente insista neste caminho e nós, apesar de não concordarmos com
elementos invocados para a demissão do Governo, afirmamos sempre que
respeitamos a competência que teria para esse efeito e que nunca sairíamos do
espaço da legalidade para fazer valer os nossos interesses", sublinhou.
"Mas
fica difícil acompanhar o percurso do PR quando, invariavelmente, escolhe
mecanismos antidemocráticos, ilegais e que são uma afronta ao PAIGC e à
sociedade", prosseguiu.
Domingos
Simões Pereira disse que desde a tomada de posse o PR se posicionou como
oposição ao seu Governo e tem insistentemente procurado argumentos e elementos
para justificar uma crise política no país.
"Mas
vamos imputar total responsabilidade ao PR a todo e qualquer impacto político
que daqui resulte e vamos responsabilizá-lo política, social e judicialmente
por este conjunto de elementos que consubstanciam uma vontade inequívoca de
repor o país em situações de dificuldades e de conflito, numa situação de
potencial guerra civil", garantiu.
O
primeiro-ministro demitido disse que não está derrotado, mas sim "muito
triste" por ter acreditado muito no país que se estava a desenvolver,
ganhando confiança da sociedade.
"Agora
vamos mergulhar numa luta que ninguém sabe os contornos que vai assumir. É
verdadeiramente triste e este senhor tem que ser responsabilizado pelo que
acaba de fazer ao povo da Guiné-Bissau", insistiu.
Simões
Pereira disse que o PAIGC ficou surpreendido com o decreto que nomeou
quinta-feira Baciro Djá como novo chefe do Governo, no mesmo dia que se
esperava a chegada ao país de uma delegação da CEDEAO, chefiada pelo
ex-presidente da Nigéria, Olugun Obasanjo, para propor diálogo entre as
estruturas políticas do país para encontrar uma saída para a crise.
Quanto
a Baciro Djá, que foi suspenso há 13 dias do PAIGC, Domingos Simões Pereira
lembrou que o agora primeiro-ministro não apresentou contas enquanto diretor de
campanha do PAIGC às eleições presidenciais e não respondeu aos órgãos do
partido.
"(Baciro
Djá) é um militante do partido, ativo que nós gostaríamos que pudesse vir a dar
um contributo ao partido e ao país, infelizmente entra para a lista daqueles
que entram pelo atalho para encontrar vias fáceis de aceder ao poder e fazer
usufruto desse poder", lamentou.
Recordou
que Baciro Djá conseguiu o despacho de uma juíza que o ilibou de todas as
acusações para que o Presidente o pudesse nomear como primeiro-ministro.
"Talvez
isso explicará em certa medida a pressa que o PR tinha em fazer a nomeação, o
que não permitiu corresponder a todos os requisitos que a Constituição impõe
para o efeito", terminou.
Lusa,
em Notícias ao Minuto
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