Pedro
Marques Lopes – Diário de Notícias, opinião
Além
dos habituais indecisos, cujo número pouco varia de eleição para eleição, há
dois dados que as sondagens parecem revelar de maneira clara: a maioria das
pessoas, que declaram ir votar, não querem que a coligação PAF continue a
governar e que a vitória da PAF ou do PS será por uma pequena margem. Assim, a
maioria dos votantes sabe o que não quer, mas não sabe o que quer.
No
universo eleitoral existe cerca dum terço que não tem dúvidas de que a
governação dos últimos quatro anos foi a melhor possível e confia que o bom
trabalho será prosseguido. Corresponde, aproximadamente, ao limiar mínimo
histórico de votantes no PSD e CDS. Para estes, não havia forma de evitar a
maior emigração de que há memória num tão breve espaço de tempo, nem o
empobrecimento generalizado, que o crescimento brutal do desemprego era
necessário, que a maior carga fiscal de sempre era fundamental.
Por
outro lado, para esses eleitores não é necessário saber o que se propõe para os
próximos quatro anos: eles confiam. Qualquer tipo de discurso que acuse a
coligação de não ter programa é-lhes absolutamente indiferente. É com estes
cidadãos que a coligação conta para ganhar as eleições. O PSD e o CDS
prescindiram de tentar captar outro eleitorado. Os indecisos, os que não
gostaram da governação, mas poderiam pensar que iria existir uma nova
orientação, precisariam de pelo menos saber que caminho seria esse. Assim
sendo, a coligação prescindiu deles. A estratégia é convencer quem não vai
votar nela a não votar ou, pelo menos, a não votar no PS. Toda a campanha é
para aí dirigida: gerar desconfiança nos socialistas, desde lembrar os erros do
passado até à constante tentativa de descredibilizar as propostas do PS. Aliás,
os temas da campanha têm sido as propostas do PS e não a governação da
coligação ou as propostas desta para o futuro que, pura e simplesmente, não
existem.
O
PS tinha essencialmente dois desafios: o primeiro seria mostrar que a
governação tinha sido má e, sobretudo, levado às consequências conhecidas. Não
é que os socialistas tenham feito um grande esforço para tentar mostrar isso às
pessoas. Basta, aliás, ter observado o que aconteceu nesta semana: quando ficou
patente que não se vão cumprir os objetivos do défice para 2015 e o discurso
óbvio era lembrar que todos os esforços que foram impostos aos portugueses
foram em função do cumprimento das metas que não vão ser cumpridas neste ano
nem foram nos outros, o PS falou do aumento do de 2014 e do efeito BES, que
rapidamente as autoridades europeias vieram dizer ser meramente contabilístico.
Seja
como for, pouco por ação do PS mas pela dura realidade vivida, a grande maioria
dos eleitores não aprovam a governação nem confiam na coligação para o próximo
ciclo político. E entrava aqui o segundo grande desafio do PS: mostrar que formaria
um melhor governo e que era a única alternativa. Ora, nem os descontentes, que
não votarão na PAF, acham, pelo menos até agora, que o PS fará melhor, nem os
que pensam votar noutros partidos de esquerda estão convencidos de que os
socialistas mereçam o chamado voto útil.
Convenhamos,
dado o estado do país - e não discutamos agora se por culpa inteira ou parcial
do governo PSD-CDS -, que por muita propaganda que se possa fazer está numa
situação desesperada, com níveis de endividamento público e privado gigantescos
que o tornam tão exposto como em qualquer outra altura a uma pequena
constipação económica internacional, com um desemprego mascarado e declarado
enorme, com uma necessidade absoluta de investimento e sem se saber donde
poderá vir, com um setor bancário numa situação desesperada e impostos que se
não crescerem pelo menos se manterão a níveis que tornam impraticável uma
recuperação robusta, só uma enorme incompetência fará que o PS perca as
eleições ou que as ganhe por poucochinho. E, por favor, não me venham com a história
da carochinha que os portugueses incorporaram o discurso da inevitabilidade dos
sacrifícios, ou que foram convencidos de que viviam acima das suas
possibilidades, ou que a culpa foi da troika. Fazer esse discurso é como chamar
estúpidos aos portugueses. Nada disso. Ninguém consegue convencer 20% das
pessoas empregadas, que vivem com 505 euros por mês, de que isso é inevitável;
não é possível convencer ninguém de que a saída de centenas de milhares de
jovens do país era necessária; que os mais de meio milhão de pessoas que não
têm sequer acesso ao subsídio de desemprego estão a sofrer por terem vivido
acima das suas possibilidades. O que parece, neste momento, claro é que os
portugueses não vislumbram quem pode mudar este estado de coisas. E se o PS não
está a conseguir demonstrar que é alternativa, a culpa é inteiramente sua, de
mais ninguém. Quem não consegue mostrar que é alternativa não é de facto
alternativa.
O
PS conseguiu mostrar tão pouco, fez uma campanha tão pobre, com tantas
dificuldades de chegar aos cidadãos que pouco mais lhe resta do que pedir o que
a coligação PAF também pede: fechem os olhos e confiem. Que mal teremos feito
aos deuses?
*Gestor
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