O
advogado de Luaty Beirão, sob detenção e em greve de fome há 33 dias em Luanda,
admitiu que a Justiça terá responsabilidade no que acontecer ao ativista
angolano, pela morosidade com que o processo está a ser tratado.
O
advogado de Luaty Beirão, sob detenção e em greve de fome há 33 dias em Luanda,
admitiu hoje que a Justiça terá responsabilidade no que acontecer ao ativista
angolano, pela morosidade com que o processo está a ser tratado.
Em
entrevista à Lusa, em Luanda, Luís Nascimento apontou em concreto o facto de o
Tribunal Supremo estar para decidir, há 22 dias, um pedido de ‘habeas corpus’
para libertação dos 15 jovens ativistas acusados de preparação de uma rebelião
e de um atentado contra o Presidente angolano – incluindo Luaty Beirão -,
alegando excesso de prisão preventiva.
O
advogado, que juntamente com o colega Walter Tondela defende 13 dos 17 arguidos
neste processo – duas jovens estão em liberdade provisória -, recorda tratar-se
do segundo ‘habeas corpus’ (o primeiro foi indeferido) interposto, recurso que,
contrariamente a prazos de oito dias noutros países, não tem tempo limite de
decisão em Angola.
“O
processo [‘habeas corpus’] é célere, mas não tem prazos. Preocupa-nos sobretudo
pelo estado do Luaty, e a sua greve de fome, porque contámos muito que uma
decisão do Tribunal Supremo possa beneficiar a sua situação, paralisar a sua
greve de fome. Os médicos dizem que ele está estável, mas que de um momento
para o outro pode acontecer uma desgraça”, apontou Luís Nascimento.
O
‘rapper’ e músico angolano Luaty Beirão, de 33 anos e que também tem
nacionalidade portuguesa, está em greve de fome, internado sob detenção numa
clínica privada de Luanda, para onde foi transferido pelos Serviços Prisionais
por precaução. Exige aguardar julgamento em liberdade ou que a prisão
preventiva seja devidamente fundamentada.
Além
da ausência de decisão sobre o segundo ‘habeas corpus’, que deu entrada a 30 de
setembro e que foi esta quinta-feira alvo de nova exposição dos advogados ao
presidente do Supremo- alegam o excesso de prisão preventiva e que o crime de
que estão acusados permite a liberdade provisória, eventualmente com o
pagamento de caução -, Luís Nascimento aponta a morosidade do Tribunal
Constitucional (TC).
Em
causa, explicou, está o recurso do indeferimento (pelo Supremo) do primeiro
‘habeas corpus’ para o TC, em que o juiz despachou com data de 08 de outubro no
sentido de a defesa apresentar, em dez dias, as alegações, mas a decisão só foi
comunicada aos advogados ao fim de 11 dias.
“Nesta
situação, que é conhecida de todos, de greve de fome, infelizmente tenho de
dizer que a Justiça tem responsabilidades [no que acontecer a Luaty Beirão].
Não se justifica tanto tempo, na mesma cidade, o escritório fica a passos, há
meios de comunicação. Não podemos dizer que não há responsabilidades”, afirmou
Luís Nascimento, assumindo a “pressão legítima” que tentam fazer para que “se
decida alguma coisa” nos dois tribunais de recurso.
Essas
alegações foram feitas somente esta quinta-feira, por escrito, pela defesa.
Os
restantes 14 ativistas em prisão preventiva estão concentrados, desde domingo,
no hospital-prisão de São Paulo.
Em
causa está uma operação policial desencadeada a 20 de junho de 2015, quando 13
ativistas angolanos foram detidos em Luanda, em flagrante delito, durante a
sexta reunião semanal de um curso de formação de ativistas, para promover
posteriormente a destituição do atual regime, diz a acusação.
Outros
dois jovens foram detidos dias depois e permanecem também em prisão preventiva.
Foram
todos acusados – entre outros crimes menores – da coautoria material de um
crime de atos preparatórios para uma rebelião e para um atentado contra o
Presidente de Angola, no âmbito desse curso de formação, que decorria desde
maio.
Segundo
a acusação, reuniam-se aos sábados para discutir as estratégias e ensinamentos
da obra “Ferramentas para destruir o ditador e evitar uma nova ditadura,
filosofia da libertação para Angola”, do professor universitário Domingos da
Cruz – um dos arguidos detidos -, adaptado do livro “From Dictatorship to
Democracy”, do norte-americano Gene Sharp.
Lusa,
em Observador
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