Rui Peralta, Luanda
As
análises que tentam explicar os avanços e recuos dos processos de
desenvolvimento em África não têm em conta o complexo conjunto de interacções
entre as condições internas específicas e a lógica da economia-mundo.
São
comuns dois tipos de conjuntos de análises que podem ser assim tipificadas: 1)
a “liberal”, da “economia internacional”, dos “mercados”, também vulgarmente
conhecida no último decénio como “afro-capitalista”; 2) as “socialistas”, ou “não-capitalistas”,
também conhecidas por “progressistas” (embora sejam potencialmente
conservadoras, tradicionalistas e responsáveis por muitos dos exemplos de “regressão”
verificados nos países africanos), partidários do “nacionalismo económico”.
Ambos os conjuntos alargados apresentam-nos não uma visão de conjunto da
sociedade africana, mas análises e visões parciais da realidade, misturando
causa com consequência.
O
primeiro conjunto (liberal, de mercado, da economia internacional e do
afro-capitalismo) realça os fenómenos afastados do conjunto do sistema e
prefere focar problemas contextuais, como a cooperação, a fragilidade do
aparelho produtivo, o consumo, a propriedade intelectual, a baixa produtividade
agrícola, etc. Apresentadas de forma destacada estas realidades conduzem á “solução”:
a inserção na economia-mundo. Afirmam que África tem “verdadeiros empresários”
(sem duvida. Pode-se afirmar que existem 4 grupos de grandes empresários
africanos: uma escassa elite empresarial pré-colonial; uma elite mais numerosa
de empresários provenientes do colonialismo; os empresários pós-colonialismo;
finalmente as novas elites ultradinâmicas afro-capitalistas), astutos e
arrojados, capazes de irromper na economia-mundo através de uma agricultura
comercial e industrializada, ou por grupos que capitalizem ao máximo a
exploração de recursos naturais. É certo que a corrupção, a burocracia, a
fragilidade da economia, a produtividade débil são realidades inquestionáveis,
são elementos fundamentais para a compreensão da realidade africana, mas não
são “causas”. São “consequências”.
Por
sua vez o conjunto constituído pelos antiliberais, os “socialistas”, “progressistas”,
“a via não capitalista de desenvolvimento”, o “nacionalismo económico”,
acentuam as realidades – não menos importantes – formadas pela deterioração dos
preços das matérias-primas, dos quais depende o financiamento (em virtude da
logica redutora do nacionalismo económico) das políticas de desenvolvimento.
Invocam – de forma ritual – as incontáveis ingerências políticas e militares do
Ocidente nos processos de desenvolvimento em África. Acontece que todos os seus
argumentos não se apresentam vinculados á logica das dinâmicas internas.
Escamoteiam as contradições no plano social e politico interno e optam pela via
fácil da acusação gratuita. O “exterior”, o “imperialismo” é a causa de todos
os males e tudo termina numa insustentável teoria da conspiração.
A
estes dois conjuntos de diagnósticos e de análises, de “visões oficiais”,
contrapõe-se uma Nova Cultura Politica, que reúne as objecções do mercado á
burocracia e que integra as preocupações do nacionalismo independente e
progressista, acrescentando as responsabilidades da colonização e as formas
específicas que no contexto global as particularidades assumiram (ou seja o
cruzamento das dinâmicas internas com as dinâmicas externas).
Continuar
a libertação nacional para integrar o continente africano. Este é o grande
objectivo. Mobilizemos, então!
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