domingo, 18 de outubro de 2015

EUA autorizam ataques imprecisos de drones mesmo em zonas civis, revelam documentos



Camila Alvarenga, São Paulo – Opera Mundi

“A campanha dos drones hoje em dia é mesmo só sobre matar”, disse Michael Flynn, antigo chefe da Agência de Inteligência de Defesa, ao site 'The Intercept'

Documentos confidenciais da CIA e do Comando de Operações Especiais do Pentágono, que foram vazados e divulgados pelo site investigativo The Intercept na quinta-feira (15/10), comprovaram que ataques de drones são autorizados quando se há “quase certeza” de que um alvo será eliminado, mesmo que este se encontre fora de uma zona de guerra.

Os drones foram a arma escolhida pelo presidente dos EUA, Barack Obama, para combater o terrorismo. O governo justifica seu uso por serem mais precisos e pouparem vidas tanto de soldados norte-americanos, quanto de civis. Contudo, segundo os documentos secretos compilados no relatório “The Assassination Complex” (“O complexo de assassinato”, em tradução livre), os EUA realizam ataques “letais” fora de uma “área de hostilidade ativa” quando um alvo representa “uma ameaça contínua e iminente a pessoas dos EUA” e se há “quase certeza” de que o alvo será eliminado, contrariando os argumentos fornecidos pelo governo.

“A campanha dos drones hoje em dia é mesmo só sobre matar. Quando você ouve a frase ‘capturar/matar’, ‘capturar’ é um termo incorreto. Nós não capturamos mais pessoas”, disse aoIntercept o Tenente General Michael Flynn, antigo chefe da Agência de Inteligência de Defesa.

“Toda nossa política no Oriente Médio parece ser baseada em lançar drones. É isto que essegoverno [Obama] decidiu fazer para sua campanha anti-terrorista”, explicou.

Quando Obama assumiu a presidência, em 2009, os EUA haviam feito apenas um ataque de drone — no Iêmen, em 2002. Dez anos depois, foi registrado um ataque a cada seis dias no país. Já dados de agosto de 2015 mostraram que mais de 490 pessoas foram mortas por drones somente no Iêmen, entre eles, civis inocentes e membros de grupos extremistas.
Alvos

Outro relatório do Intercept, que leva o nome de “The Kill Chain” (“A corrente de matar”, em tradução livre) mostrou como alvos — que recebem o nome de “objetivo”  — são escolhidos e como os ataques são autorizados. Passando por uma sequência de pessoas, a palavra final pertence ao presidente Obama.

Os drones — chamados de “pássaros” pelos militares — partem para o Oriente Médio são lançados de bases localizadas no Quênia, Djibouti e Somália, cujos governos são parceiros dos norte-americanos. A maior preocupação dos militares é de que as bases geralmente estão a mais de 500 quilômetros dos alvos, de modo que os drones passam mais tempo em trânsito do que monitorando o objetivo em si.

Depois de um ataque, caso o alvo tenha sido eliminado, ele é chamado de “jackpot”. Contudo, se o ataque falha e elimina outra pessoa, ou se há mais vítimas além do alvo, estes outros mortos são considerados “inimigos abatidos em combate”, mesmo que sejam civis.

Em operações realizadas em 2012 no Afeganistão, durante cinco meses, nove a cada dez pessoas mortas por drones não eram consideradas alvo para os norte-americanos, isto é, não apresentavam nenhuma suposta ameaça.


*Com Tabelas e Mapa no original

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