O
dirigente socialista, escreve hoje, na edição em papel do "Diário de
Notícias", uma carta aberta a Francisco Assis.
Jorge
Lacão, dirigente socialista, escreve hoje, na edição em papel do "Diário
de Notícias", uma carta aberta a Francisco Assis, opondo-se à posição
crítica assumida pelo eurodeputado numa recente entrevista à RTP1 em relação ao
processo de negociação do secretário-geral António Costa com os partidos à
esquerda do PS para eventual formação de uma plataforma de Governo.
"Arrogância",
"desistência", "abdicação", "subordinação aos ditames
da direita" são qualificativos com que Lacão mima a posição assumida por
Assis.
Recorde-se
que na passada quarta-feira Francisco Assis, na "Grande Entrevista" a
Vítor Gonçalves, na RTP1, mostrou-se contra um eventual Governo socialista,
apoiado por Bloco de Esquerda e PCP, defendendo que cabe a Passos Coelho ser o
próximo primeiro-ministro, e que este deveria esforçar-se para fazer
entendimentos pontuais com os socialistas.
Reagindo
a esta posição numa extensa carta aberta, Jorge Lacão, membro da Comissão
Política do PS, critica Francisco Assis, dizendo que "a tua posição releva
do manifesto preconceito que emana recorrentemente do pensamento doutrinário
que perfilhas - o de que todo o posicionamento político formalmente à esquerda
do PS decorre tendencialmente de uma atitude irresponsável".
Perante
esta posição, Jorge Lacão questiona hoje: "para a esquerda ou, se
preferires, para as esquerdas, é ou não legítimo e politicamente pertinente que
se interroguem sobre a possibilidade de conferir corpo a uma alternativa de
governo?".
Daí,
o dirigente socialista parte para críticas mais fortes a Francisco Assis,
acusando de "pertencer-te a ti a posição menos construtiva, face a um
eleitorado que quis maioritariamente a mudança".
"Insustentável
posição pelo que representa de desistência e de subordinação aos ditames da
direita", acusa Jorge Lacão na mesma carta aberta a Francisco Assis.
"(...)
Para fazer compromissos é necessário revelar maturidade e capacidade políticas.
Acontece, meu caro Francisco Assis, que desta vez a arrogância, pelo menos à
cabeça, está do teu lado quando inviabilizas qualquer esforço de superação de
um dos maiores traumas da esquerda portuguesa, o seu desentendimento
crónico", ataca Jorge Lacão.
Este
membro histórico do PS entende que "fechar a porta a quem finalmente dá
sinais de a querer abrir consistiria num erro histórico, salvaguardando as
proporções e a longitude, semelhante ao dos ortodoxos de origem cubana que nos
Estados Unidos se manifestam contra a abertura de Cuba e o fim do bloqueio,
prisioneiros do passado e sem visão de futuro".
Jorge
Lacão insiste: "Falemos com total franqueza: deixar de colocar essa
possibilidade significa, à partida, uma abdicação".
Voltando
a dirigir-se a Francisco Assis, o dirigente socialista considera que "o
resultado das tuas opções é claro: no contexto histórico que vivemos, por
efeito do teu pensamento, ao PS estaria aberta a ambição eleitoral (que, por
agora, consideras falhada) de ser alternância de poder, mas nem pensar ter
ambição de se constituir como alternativa de orientações políticas fundamentais
para o país".
"Meu
caro Assis, a motivação para te escrever esta carta aberta, para além da
evidente divergência com a posição que vieste sustentar, no momento mais
crítico dos processos negociais, que só pode ter contribuído para encorajar os
adversários políticos do PS, radica ainda num aspecto pessoal, ligado à memória
de ambos", evoca Jorge Lacão na referida carta aberta a Assis.
Jorge
Lacão recorda que a primeira investidura de Francisco Assis na presidência do
grupo parlamentar do PS "ocorreu na sequência imediata da minha demissão
de tal cargo quando, incluindo sob a tua orientação, os deputados do grupo
parlamentar foram pela direcção do partido dispensados de se pronunciar sobre o
mérito do acordo de revisão constitucional por mim então assinado com o PSD e
que viria a dar lugar à IV revisão constitucional, em 1997".
Depois
de invocar este episódio, Jorge Lacão, "como corolário", cita
Maquiavel: "as letras seguem as armas e os capitães seguem à frente dos
filósofos".
"Hoje,
como sabemos, os capitães são os da finança e da indústria. E os filósofos que
os seguem quem serão, meu caro Francisco Assis?", interroga Jorge Lacão,
assinando "teu camarada e amigo".
Nuno
Miguel Silva - Económico
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