“Não
aceito que haja partidos com mais responsabilidade que outros”. Cavaco Silva
fez “discurso de facção”, acusou líder do BE numa entrevista em tom muito duro.
Ao
longo dos primeiros 15 minutos de uma entrevista que durou quase uma hora,
Catarina Martins apontou o discurso a Cavaco Silva, lançando várias acusações.
Considerando
que a comunicação do Presidente da República (PR) foi um “discurso
absolutamente inaceitável que apela à instabilidade do país e procura perverter
que é o próprio regime democrático e decisão eleitoral dos portugueses”, a
líder do Bloco de Esquerda disse, na entrevista à TVI 24, que não contesta a
decisão, mas sim “o que se seguiu no discurso”.
“Sendo
certo que podia tomar a decisão formal que bem entendesse”, o PR “fez uma
série de afirmações como quem diz que só há alguns partidos que podem ser
chamadas a solução de governo e estabilidade”. Ao fazê-lo, “não está a insultar
os partidos”, “está a dizer que um milhão de pessoas não valem nada (…) há um
milhão de eleitores cuja voz não pode ser ouvida”, apontou Catarina Martins.
Sobre
a escolha de Passos, a bloquista afirmou que “não tenho problema nenhum
com essa legitimidade”, porque está na constituição, mas “essa candidatura mais
votada [coligação PSD/CDS] não será capaz de passar o seu governo, porque será
rejeitado, de passar o seu orçamento, porque será rejeitado”, É uma “solução
que não tem futuro e nos faz perder tempo”.
Notando
que Cavaco Silva “esqueceu-se de falar na constituição”, designou a comunicação
de “discurso de facção. Consegue surpreender sendo ainda mais faccioso que os
piores comentários de direita que temos ouvido”, acusou.
Catarina
Martins contestou ainda o alegado “anti-europeísmo” dos bloquistas, e o modo
como essa característica poderia impedir o Bloco de Esquerda de contribuir para
um Governo – Cavaco Silva afirmou que “em 40 anos de democracia, nunca os
governos de Portugal dependeram do apoio de forças políticas anti-europeístas,
isto é, de forças políticas que, nos programas eleitorais com que se
apresentaram ao povo português, defendem a revogação do Tratado de Lisboa, do
Tratado Orçamental, da União Bancária e do Pacto de Estabilidade e Crescimento,
assim como o desmantelamento da União Económica e Monetária e a saída de
Portugal do Euro, para além da dissolução da NATO, organização de que Portugal
é membro fundador”.
O
Presidente da República “não conhecerá a história portuguesa”, acusa Catarina
Martins dizendo que “o primeiro [partido] que me lembro é o CDS-PP”, “que era
anti-europeísta e foi assim que se afirmou. (...) É preciso ter algum desprezo
pela memória colectiva quando fala nesses termos”, diz a líder do BE.
Sempre
num tom duro contra Cavaco Silva, a dirigente do Bloco explicou que “não pode
dizer que não há condições de estabilidade de um governo de esquerda” e dar
posse a um governo sem maioria.
Garantindo
que “há solução estável, viável para o nosso país, que quebra o ciclo de
empobrecimento”, Catarina Martins questionou se “o Presidente da República acha
mesmo que quando estamos a discutir se os pensionistas no mês de Janeiro vão
ter mais dificuldade em chegar ao fim do mês, ou se vão ter mais folga, estão
mesmo a pensar nas metas de tratados europeus que nunca foram sufragadas em
Portugal e que nenhum país da UE cumpre?”
“O
senhor Presidente da República teve um discurso quase de seita”, acusou, numa
ideia que voltou a repetir. “Está a comportar-se como líder de seita, a tentar
criar instabilidade e a fazer chantagem. É completamente inaceitável que assim
seja. Não é aceitável que o Presidente da República venha dizer que não aceita
soluções que sejam democraticamente sufragadas no país e no parlamento. Não é
assim que está desenhado a ordem constitucional”, afirmou a dirigente do Bloco
de Esquerda, a terceira força mais votada nas eleições de 4 de Outubro, após a
coligação PàF e o PS.
“O
que me choca, o que é inaceitável, é que venha trazer para cima da mesa uma
espécie de veto sobre decisões políticas democráticas, como se já estivesse
decidido o governo antes das eleições, como se de facto as eleições fossem uma
fraude e tinha era que se manter o rumo que o senhor Presidente da República
quer. Isso não é assim. O regime democrático não funciona assim. O que fez é
algo muito grave em democracia. Utilizar o papel institucional para criar
instabilidade e fazer chantagem sobre deputados eleitos democraticamente”.
Dizendo
não saber se essa designada chantagem resultará, garante: “Comigo não será com
certeza”.
Alexandre
Frade Batista - Económico
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