Começou,
há cinco anos, a primeira das revoltas populares que varreu o norte de África e
Médio Oriente. Uma mobilização difícil em Angola, onde a consciência social e
política é mínima, diz o ativista Rafael Marques.
Em
dezembro de 2011 desencadeou, na Tunísia, o primeiro de vários movimentos
populares de contestação. A chamada Primavera Árabe varreu depois os regimes do
Egito e Tunísia. Houve protestos no Bahrein, Jordânia e começaram as guerras
civis no Iémen e na Síria que até hoje causam vítimas.
A DW África entrevistou o ativista e jornalista angolano Rafael Marques para conhecer que impacto teve a Primavera Árabe em Angola.
DW África: Até que ponto estas revoluções inspiraram os movimentos em outros países africanos, nomeadamente em Angola?
Rafael Marques (RM): A primeira manifestação pós-Primavera Árabe em Angola, a 7 de março de 2011, foi precisamente inspirada pela Primavera Árabe. Até hoje, o grupo de jovens, que tem estado a tentar realizar manifestações, continua a olhar para a Primavera Árabe como uma fonte de inspiração.
DW África: Na Tunísia e no Egito, por exemplo, os manifestantes mobilizaram-se em massa nas ruas de Tunis e do Cairo, respetivamente. Porque é que o mesmo não acontece em Luanda?
A DW África entrevistou o ativista e jornalista angolano Rafael Marques para conhecer que impacto teve a Primavera Árabe em Angola.
DW África: Até que ponto estas revoluções inspiraram os movimentos em outros países africanos, nomeadamente em Angola?
Rafael Marques (RM): A primeira manifestação pós-Primavera Árabe em Angola, a 7 de março de 2011, foi precisamente inspirada pela Primavera Árabe. Até hoje, o grupo de jovens, que tem estado a tentar realizar manifestações, continua a olhar para a Primavera Árabe como uma fonte de inspiração.
DW África: Na Tunísia e no Egito, por exemplo, os manifestantes mobilizaram-se em massa nas ruas de Tunis e do Cairo, respetivamente. Porque é que o mesmo não acontece em Luanda?
RM: O
mesmo não acontece em Luanda porque [e isso tem a ver com] um aspeto muito
importante a reter, o nível de entendimento da população sobre os processos de
mudança. Vivemos num país onde a corrupção tomou conta do tecido social. As
pessoas acreditam mais na corrupção, na lei do menor esforço como forma de
sobrevivência do que propriamente no esforço coletivo. A responsabilidade
social e política dos cidadãos angolanos é mínima.
Temos uma canção famosa que as pessoas levam à letra até hoje: “Xé menino não fala politica!” Então, se o sistema de saúde está mal, as pessoas criam esquemas para resolver os seus problemas pessoais. Não há consciência social coletiva de lutarem por um bem comum.
DW África: O livro “Da Ditadura à Democracia”, publicado pela primeira vez em 1993, tem servido de inspiração a ativistas um pouco por todo o mundo. Foi escrito por Gene Sharp para ajudar birmaneses que lutavam contra a ditadura militar na Birmânia. Foi um dos argumentos usados pelas autoridades angolanas para justificar a prisão dos 15 ativistas. Considera este livro subversivo?
RM: Como o escritor angolano José Eduardo Agualusa bem disse “este livro só é subversivo para as ditaduras”, que têm medo de ideias plurais. O livro não tem nada que possa constituir perigo para o regime angolano, até porque quando iniciaram as manifestações as pessoas não tinham conhecimento da existência desse livro.
DW África: Onde estava quando se iniciou a Primavera Árabe e como acompanhou o desenrolar dos acontecimentos?
RM: Curiosamente
estava no Senegal, almoçava todos os dias com a jovem tunisina que fazia o elo
de ligação com a imprensa internacional. Nós até gozávamos com ela, porque ela
dizia que estavam a fazer a revolução na Tunísia e saía sempre com o seu prato,
não se sentava à mesa connosco. Nós achávamos graça a isso. E poucos dias
depois, o regime caiu na Tunísia. E aqui em Angola infelizmente a consciência
coletiva é para a corrupção, submissão, subjugação. Veja que temos um
Presidente há 36 anos e as pessoas acham isso normal.
DW África: Numa altura em que está a decorrer o julgamento dos 17 ativistas, acusados de rebeliao contra o Estado, se o tribunal decidir que são culpados, acredita que essa decisão poderá gerar mais protestos contra o atual Governo de José Eduardo dos Santos?
RM: Não gerará protestos porque temos uma população que é intrinsecamente cobarde quando se trata de criar este ambiente de pressão coletiva para o bem de todos.
DW África: Numa altura em que está a decorrer o julgamento dos 17 ativistas, acusados de rebeliao contra o Estado, se o tribunal decidir que são culpados, acredita que essa decisão poderá gerar mais protestos contra o atual Governo de José Eduardo dos Santos?
RM: Não gerará protestos porque temos uma população que é intrinsecamente cobarde quando se trata de criar este ambiente de pressão coletiva para o bem de todos.
Manuel
Ribeiro – Deutsche Welle
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