O
secretário-geral do partido timorense Fretilin, Mari Alkatiri considera que ser
moderado "não serve" para responder a grande desafios - luta armada
ou mobilizar pessoas para causas-- e que é necessário "agitar, mobilizar e
organizar" a população.
"Tenho
66 anos e continuo a pensar hoje como pensei sempre. Quando se quer realmente
enfrentar grandes desafios a moderação não serve", disse em entrevista à
Lusa no ano dos 40 anos da proclamação unilateral da independência de
Timor-Leste.
Alkatiri,
um dos fundadores da Frente Revolucionária do Timor-Leste Independente
(Fretilin), insiste que a alternativa tomada em 1975 foi a única viável para
conseguir mobilizar os timorenses para apoiar a independência do país:
"Para mobilizar pessoas, ter a maioria do teu lado, tens que saber agitar,
mobilizar e organizar. Essa sequência tem que ser cumprida".
"Se
agitas e largas tens bandidos" pelo que "só com planificação e
organização é que se pode sustentar uma luta prolongada", afirmou,
rejeitando que o partido tenha sido construído por estudantes que regressaram
de Portugal em 1975.
"A
Fretilin nasceu de nós próprios no interior. O núcleo instalador da ASDT
(Associação Social Democrata Timorense) é que criou a Fretilin", disse,
discordando da ideia da ideia defendida por pessoas como Abílio Araújo que, em
recente entrevista à Lusa, considerou que foi um erro da luta ter optado por
uma frente revolucionária em vez de uma frente unida.
"A
génese dessa frente unidade era uma confusão. O grupo [de estudantes] que veio
de Lisboa [em que se incluía Abílio Araújo] defendia que devia haver a união
entre a ASDT e a Apodeti" (Associação Popular Democrática Timorense),
disse, referindo-se ao partido que em 1975 defendia a integração de Timor-Leste
na Indonésia.
"Vinham
com a teoria de que a Apodeti era nacionalista porque era contra o colonialismo
português. Querer a integração na Indonésia era uma forma de independência. Nós
dissemos que o colonialismo português tinha acabado e uma ligação com a
Indonésia seria um colonial expansionismo", afirmou.
Apesar
das diferenças, Alkatiri insiste que a simbiose do interior -- habituados a
"mobilizar as bases" - com os estudantes "que vinham com o
espirito revolucionário de Portugal" ajudou a Fretilin a "ganhar
raízes junto do povo", embora admita que houve alguma radicalização do
movimento, com excessos que "eram inevitáveis", recordando que uma
organização que começou com apenas 30 homens mal armados a 15 de agosto de
1975, cinco dias depois já tinha "27 mil pessoas armadas".
"Controlar
em termos de comando e controlo não é fácil. De tal forma que houve exageros.
As pessoas que estavam armadas aproveitavam o momento de estarem armadas para
se vingarem contra os seus 'inimigos'. Fundamentalmente por questiúnculas
pessoais", disse.
"Lembro-me
de casos em que tive que entrar na prisão de Taibessi e correr com membros da
Fretilin que estavam a praticar alguns exageros. Não vou mencionar o nome deles
porque já são falecidos. Mas em Taibessi também estavam presos gente da
Fretilin. Exatamente por causa dos ditos exageros e vinganças", recordou.
Os
discursos "inflamados" do primeiro presidente Indonésio, Sukarno, os
combates no Laos, Camboja e Vietname e o movimento independentista em Angola
foram inspiração para o arranque da política em Timor-Leste, recorda Alkatiri.
O
movimento dos não-alinhados e a situação interna de "certo abandono"
e esquecimento de Timor-Leste, que se vivia na primeira metade da década de 70
do século passada, foram outras das "escolas" para o movimento da
independência do país.
"Essa
foi a nossa escola política. Não havia internet, telefones, nem televisão em
casa. Havia só um radiozito", contou à Lusa.
Viola
ritmo, Alkatiri apostou na música para a mobilização dos jovens, estando na
génese de grupos como Os Académicos, os 5 do Oriente e os Eclipse: "este
nome se calhar foi mal escolhido porque acabou por se eclipsar muito
rapidamente", relembra.
"Organizávamos
festas e fomos tentando mobilizar. Geralmente eram jovens do liceu, mais jovens
que nós. Tocava-mos tudo desde o pop da altura, até musicas indonésias
românticas ou músicas portuguesas. Mas o fundamental era fazer passar a
mensagem", relembrou.
Muçulmano
e mestiço, Mari Alkatiri fugiu à formação tradicional timorense e foi estudar
em Luanda para topógrafo, convivendo com os movimentos africanos
independentistas. De regresso em 1973, Alkatiri chegou ir à Indonésia
"numa tentativa de sondar a possibilidade estabelecer uma base de apoio,
particularmente junto à fronteira".
A
ideia fracassou porque, considera, "a Indonésia sempre teve a ambição de
anexar Timor-Leste", pelo que a opção foi o regresso a Timor-Leste, no
início de 1974 onde Mari Alkatiri intensificou a ação política, um processo
acelerado pelo 25 de abril que ajudou a formar um grupo alargado a pessoas como
Nicolau Lobato, Ramos-Horta e outros.
"Pensava-se
numa organização que pudesse incluir todos. Entendeu-se que se deveria preparar
uma comissão instaladora de um futuro partido politico", disse.
ASP
// PJA - Lusa
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