A posição "coerente" de Portugal de não reconhecer a
independência proclamada unilateralmente pela Fretilin em 1975 deixou um
"vínculo constitucional" que permitiu, em 1999, o acordo para o
referendo em Timor-Leste, disse à Lusa Mari Alkatiri.
"Houve
uma certa coerência por parte do Estado português quando manteve na
Constituição o seu vínculo constitucional e legal com Timor-Leste. No início
não entendíamos isso e achávamos que Portugal deveria ter sido o primeiro país
a reconhecer a proclamação da independência", reconhece, em entrevista à
Lusa, o secretário-geral da Frente Revolucionária de Timor-Leste Independente
(Fretilin).
"Quem
fez a luta fora do país compreendeu melhor que este vínculo constitucional é
que permitiu o 05 de maio de 1999 [data do acordo que permitiu em Agosto a
consulta popular ganha pelos independentistas]. Se não tivesse havido esse
vínculo constitucional como é que poderia ter havido negociações mediadas pelo
Kofi Annan entre Portugal e a Indonésia?" -- questionou Mari Alkatiri,
ex-primeiro-ministro timorense e atual responsável pela região autónoma de
Oecusse.
Nesse
acordo, Portugal participou como potência administrante de Timor-Leste, país
que, até à restauração da sua independência, em maio de 2002, era definido
pelas Nações Unidas como um território não-autónomo sob administração
portuguesa.
A
28 de novembro de 1975, após uma guerra civil de alguns meses, a Fretilin
proclamou unilateralmente a independência de Timor-Leste.
Portugal,
as Nações Unidas e a generalidade da comunidade internacional não reconheceram
essa declaração de independência tendo o processo de descolonização sido
interrompido dias depois, na sequência da invasão do território pela Indonésia,
a 07 de dezembro.
Admitindo
que esta sua visão é polémica para alguns em Timor-Leste, Alkatiri diz
"não ter dúvidas" que depois dos erros iniciais no processo de
descolonização, "Portugal já se redimiu" no apoio ao país.
Ainda
que, sublinha, a diplomacia portuguesa tenha "falhado completamente"
ao não prevenir a entrada dos indonésios em Timor-Leste em 1975, facto que se
deveu, em parte, à conjuntura política em Portugal e à falta de administração
em Díli.
Nesta
questão, e questionado sobre o papel do então governador de Timor-Leste, Lemos
Pires, o secretário-geral da Fretilin diz que o militar português "cumpriu
ordens claras que recebeu para abandonar Díli", transferindo-se para a
ilha de Ataúro, em frente da capital timorense.
"A
coincidência deste abandono é que foi infeliz. Quando a UDT controlava Díli ele
estava cá. Quando a Fretilin passou a controlar ele abandonou. Há aqui qualquer
coisa que não se consegue compreender", afirmou.
Lemos
Pires, disse, tentou "redimir-se" e usou o livro que escreveu
"para pôr os pontos nos is".
ASP
// PJA - Lusa
Sem comentários:
Enviar um comentário