quarta-feira, 16 de dezembro de 2015

Timor-Leste. ALKATIRI REJEITA TER SIDO “COMPRADO” COM PROJETO DO ENCLAVE DE OECUSSE



O secretário-geral da Fretilin, Mari Alkatiri, diz que não está à venda e rejeita que tenha sido "comprado" pelo ex-primeiro-ministro Xanana Gusmão, que o convidou para gerir a região administrativa especial do enclave timorense de Oecusse.

"Se houvesse dinheiro para me comprar já os indonésios me teriam comprado há muitos anos. Nem a intenção de Xanana era de me comprar, nem há, da minha parte, qualquer dúvida de que não iria vender-me por dinheiro", afirmou em entrevista à Lusa.

Mari Alkatiri, que em 2006 se demitiu do cargo de primeiro-ministro, depois de fortes pressões dentro e fora de Timor-Leste lideradas, em parte, pelo então chefe de Estado Xanana Gusmão, foi nomeado este ano responsável da Região Administrativa Especial e da Zona Especial de Economia Social de Mercado (ZEESM) de Oecusse-Ambeno.

A ZEESM é um dos projetos mais polémicos dos últimos anos em Timor-Leste com contestação da parte de vários setores em Timor-Leste tanto pelo orçamento destinado à região, que este ano foi de 116 milhões de dólares e em 2016 é de 218 milhões -- como pelo modelo de desenvolvimento previsto.

O projeto marca uma aproximação crescente entre Mari Alkatiri e Xanana Gusmão e arranca numa altura em que Timor-Leste tem um governo de unidade nacional, com um primeiro-ministro da Fretilin, apesar de o maior partido parlamentar ser o Congresso Nacional para a Reconstrução de Timor-Leste (CNRT), de Xanana Gusmão.

Observadores políticos sugerem mesmo que esta aproximação se poderá manter no processo eleitoral de 2017 em que a maior incógnita é a eventual candidatura do atual chefe de Estado, Taur Matan Ruak, que se tem mostrado crítico quer da gestão nos últimos anos quer sobre o valor do orçamento para Oecusse.

Alkatiri insiste que a "melhor solução para o país" é manter durante algum tempo a atual solução de convivência partidária, com um Governo de unidade nacional, rejeitando os que afirmam que este modelo representa falta de pluralidade.

"Não podemos esquecer que saímos de uma guerra difícil longa, de 24 anos, e estamos a construir um Estado para consolidar a nação. Um estado desagregado não constrói a nação", afirmou.

Daí que a aposta tenha sido em cada um ter o seu partido mas procurar "um consenso nacional" para construir alicerces sólidos de um Estado "com base na constituição, com base na lei", onde "não se perca a autoridade".

"Autoridade não é ditadura, é autoridade moral para conversar e legitimidade para atuar", disse.

Sobre a reaproximação com Xanana Gusmão, Alkatiri recorda que foi uma evolução possível apenas depois de o líder histórico, "que pensava ser imbatível e que tudo o que dizia era lei", ter acabado por "perceber as nuances da governação".

Quando se demitiu em 2006, o partido fez uma "travessia do deserto" ainda que condicionada, afirma, pela "vitória que os computadores digitais deram ao CNRT em 2012".

Insistindo que os resultados desse ano foram fraudulentos, Alkatiri diz que os fiscais de cada partido não tiveram acesso às cópias dos resultados nas urnas.

"Tenho a certeza. Tanto nas presidenciais como nas legislativas. Mas isso é passado", afirmou, explicando que, apesar de os resultados "terem sido manipulados", se ofereceu desde logo para colaborar na governação.

"Vamos continuar a fazer uma oposição, estando dentro do processo. Oposição para reduzir as despesas, para reformular todo o processo da administração. E isso resultou neste Governo de consenso", afirmou.

ASP // PJA - Lusa

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