sexta-feira, 23 de janeiro de 2015

Austrália pede à Indonésia clemência para dois traficantes no corredor da morte




Sydney, Austrália, 23 jan (Lusa) -- O primeiro-ministro australiano, Tony Abbott, pediu hoje à Indonésia clemência para dois australianos condenados por tráfico de droga australianos que estão no corredor da morte.

"A Austrália opõe-se à pena de morte no país e no exterior", disse Abbott em comunicado.

"Embora a Austrália respeite a soberania da Indonésia, nós pedimos à Indonésia que reconsidera a sua decisão de executar dois cidadãos australianos", afirmou Abott.

Os australianos Myuran Sukumaran e Andrew Chan estão no corredor da morte na Indonésia onde, no domingo, foram executados, por fuzilamento, seis réus por crimes de tráfico de droga, incluindo um cidadão brasileiro.

O Governo indonésio tem recusado, até agora, qualquer pedido de clemência para estes condenados.

O pedido de clemência para Sukumaran foi rejeitado no mês passado, e o relativo a Chan foi rejeitado na quinta-feira.

No entanto, não houve uma resposta imediata das autoridades indonésias a respeito da data em que os dois indivíduos poderão ser executados.

FV (JCS) // JCS

Recuperar crédito malparado é processo complicado em Timor-Leste - diretor-geral BNU




Díli, 23 jan (Lusa) - Recuperar o crédito malparado é um processo complicado em Timor-Leste devido à ausência de legislação, à dificuldade de acesso a bens penhoráveis e aos problemas do setor da justiça, disse à Lusa o responsável do BNU em Timor-Leste.

"Temos 100 processos de crédito em tribunal há mais de um ano e a eficácia é zero. Já ganhámos a ação declarativa. Quando se passa para a executiva o juiz diz: indiquem-me bens para a penhora. E eu fico a olhar para ele", comentou Fernando Torrão Alves, diretor geral do BNU em Timor-Leste, sucursal da Caixa Geral de Depósitos.

Falta de garantias, de lei de hipotecas ou outros instrumentos agrava um problema que, por vezes, é ainda maior pela forma como os negócios são feitos no país.

"Em alguma gama de clientes temos vindo a fazer operações de grande volume. Não podemos é cometer loucuras que se fizeram no passado", explica.

Torrão Alves explica que o BNU chega ao ponto de auxiliar clientes a organizar a sua contabilidade sendo que muitas empresas "não refletem na sua conta à ordem o seu movimento comercial".

Em Timor-Leste, disse, mesmo no comércio externo, há muito "negócio em cash, fora do sistema financeiro, no sistema informal" o que agrava a dificuldade em avaliar risco.

"Muitos empresários timorenses têm a sua conta pessoal ou empresas que constituíram na Indonésia, por exemplo, para onde fazem transferência da sua conta aqui. Há grande parte dos negócios que passa por um sistema mais informal", explicou.

Torrão Alves admite que o contexto de Timor-Leste condiciona a análise da direção de risco da CGD que olha "para os ratings do pais, para o risco pais - Timor está no último terço mundial - para a ausência de garantias e para o histórico, e torna-se muito conservadora".

"Ainda assim eu acho que é muito conservadora. Deveríamos aligeirar já as coisas. O que temos feito é atuar de forma menos conservadora para uma gama muito restrita de clientes", disse.

Segundo Torrão Alves, a lista de incumpridores no BNU inclui clientes financiados no passado e que hoje estão entre algumas individualidades destacadas da sociedade e da vida política timorense.

"Ainda hoje andamos atrás de clientes que passam pelo banco todos os dias de carro e que fazem de conta que o edifício nem existe", disse à Lusa Fernando Torrão Alves.

"Do conjunto de clientes incumpridores também há personalidades destacadas da sociedade. São empréstimos mais antigos, a pessoas em quem o banco acreditou", explicou.

Torrão Alves explicou à Lusa que a taxa de incumprimento nos créditos concedidos pelo banco até 2010 foi de 50% e que nos créditos concedidos desde aí a taxa de incumprimento "está abaixo dos 3%".

ASP // PJA

BNU em Timor-Leste tem 90% do crédito malparado por não o registar como perdas




Díli, 23 jan (Lusa) - O BNU em Timor-Leste, sucursal da CGD, tem mais de 90% do crédito malparado do sistema timorense, porque, contrariamente aos outros bancos, não transforma estas operações em perdas, disse à Lusa o diretor geral daquela entidade.

Em declarações à agência Lusa, Fernando Torrão Alves explicou que aquela sucursal da Caixa Geral de Depósitos (CGD) tem optado por não transformar o crédito malparado em perdas (operação designada na banca como 'write offs'), apesar de pressões para que isso aconteça, de forma a melhorar as estatísticas do país.

"Se todos os bancos fizessem isto, nas estatísticas internacionais Timor-Leste tinha uma 'performance' excelente de cumprimento de crédito. E não, potencialmente, um nível de incumprimento de todo o sistema de 50%", como acontece, afirmou.

Além do BNU, operam na banca o de Timor-Leste o timorense BNCTL, o indonésio Mandiri e o australiano ANZ.

Atualmente, o BNU acumula 39,3 milhões de dólares de crédito malparado, num universo total de cerca de 90 milhões de dólares de carteira viva de crédito, explicou a fonte.

Segundo a mesma fonte, o grande peso desse crédito malparado está em operações realizadas entre 2004 e 2007, com metade deste valor a ser dividido entre microcrédito e crédito a particulares, enquanto o restante é de empresas.

Segundo as fontes, concretizar com exatidão essa divisão de tipo de crédito é difícil, porque até 2009, o BNU "chegou a conceder muito crédito classificado como particular, mas que, na realidade,era para pequenos empresários, para pequenos negócios".

Apesar do crédito malparado, insistiu Manuel Torrão Alves, o BNU continua a ser a entidade que mais crédito concede em Timor-Leste, tendo injetado na economia nos últimos cinco anos créditos totais no valor de cerca de 600 milhões de dólares.

Desde 2010, explicou, houve mudanças nos critérios de concessão de crédito e os dados mostram que o financiamento ao retalho puro até 10 mil dólares - para onde foram canalizados 10 milhões de dólares no ano passado - tem um nível de incumprimento "muito bom", de menos de 2%.

Em termos gerais, Torrão Alves explicou que a taxa de incumprimento nos créditos concedidos pelo banco até 2010 foi de 50% e que nos créditos concedidos desde essa data "está abaixo dos 3%".

Segundo Torrão Alves, a sucursal do BNU em Timor-Leste tem uma autonomia de decisão sobre crédito num valor máximo de 56 mil dólares para particulares e de 96 mil dólares para empresas, tendo as restantes operações que ser reportadas a Lisboa.

Considerando que atualmente há "mais sensibilidade" da CGD para o contexto de Timor-Leste, Torrão Alves admitiu que as coisas demoram mais tempo, mas que, ainda assim, os dados demonstram que o BNU continua a ser o maior contribuidor para a economia.

"Apesar das todas as limitações, quem puxa pela carroça no crédito á economia somos nós", declarou.

No final de 2014, o BNU tinha uma carteira de crédito de 84 milhões de dólares, quase metade de todo o sistema financeiro de Timor-Leste

ASP // ARA

Timor-Leste: EUA oferecem recompensa por informação sobre explosão junto a residência em Díli




Díli, 23 jan (Lusa) - Os Estados Unidos anunciaram uma recompensa de 5.000 dólares (4.400 euros) por informação que leve à prisão dos responsáveis pelo lançamento de um engenho explosivo na semana passada contra um complexo residencial da sua embaixada em Díli.

"O Departamento de Recompensas do Estado para o Programa de Justiça dos Estados Unidos oferece uma recompensa de até 5.000 dólares por informações que levem à prisão ou condenação da pessoa ou pessoas responsáveis por uma recente explosão num complexo residencial na Embaixada dos EUA em Díli, Timor-Leste", refere uma nota divulgada hoje.

A nota recorda que a 18 de janeiro alguém lançou para o perímetro do complexo um engenho que se pensa ser uma granada artesanal e que ao explodir causou danos em janelas e num veículo, sem que se registassem feridos.

Na semana passada, a embaixada dos Estados Unidos em Díli disse desconhecer a motivação da pessoa ou pessoas responsáveis pelo incidente.

"Estamos a trabalhar em proximidade com responsáveis de segurança do país anfitrião que responderam de forma imediata com um aumento da segurança em torno às estruturas norte-americanas", refere o comunicado.

"Está a decorrer uma investigação. Neste momento não temos mais informação relativamente à motivação do incidente", refere ainda.

ASP // NS

Indonésia e Timor-Leste preparam centro transfronteiriço de controlo de droga




Kupang, Indonésia, 23 jan (Lusa) - A Indonésia e Timor-Leste vão estabelecer um centro conjunto para o controlo de droga no principal ponto fronteiriço terrestre entre os dois países, segundo um responsável indonésio.

Alo Dando, responsável da Comissão Nacional de Narcóticos (BNN) na província indonésia de Nusa Tenggara Oriental (em que está inserida a metade indonésia da ilha de Timor) explicou que o centro de controlo vai ser estabelecido no posto fronteiriço de Batugadé-Motaain.

"Este centro de controlo integrado envolve todas as partes, incluindo os departamentos policiais de Timor-Leste e da Indonésia, as Forças Armadas Indonésias, alfândegas e outras instituições que atuam nas zonas de fronteira", disse citado pela agência indonésia Antara.

Segundo este responsável indonésio, o centro - "cuja criação foi discutida já a nível ministerial" - pretende controlar tentativas de redes de narcotráfico de operar na região e colmatar a falta deste tipo de estruturas na região.

ASP // JPS

China diz desconhecer polémica de Base dos Açores mas reafirma vontade de "aprofundar relações"




Pequim, 23 jan (Lusa) - O governo chinês indicou hoje à agência Lusa desconhecer a polémica acerca do futuro da base das Lajes, mas reafirmou a disposição de "aprofundar as amistosas relações" com Portugal.

"Não conhecemos a situação referida na imprensa em Portugal", disse o gabinete do porta-voz do ministério chinês dos Negócios Estrangeiros acerca do alegado interesse da China em criar um entreposto comercial na ilha Terceira, Açores, na sequência da anunciada redução dos efetivos norte-americanos estacionados naquela base.

O presidente do governo regional dos Açores, Vasco Cordeiro, salientou, em entrevista à RTP, a possibilidade de a infraestrutura das Lajes ser usada por outro país que não os Estados Unidos, dando o exemplo da China, com quem Portugal tem "uma relação diplomática" que é "muito anterior" àquela que tem com Washington.

Na quarta-feira, o Diário de Noticias refere que o governo regional dos Açores "vê nos chineses uma solução para a prevista redução gradual ao longo deste ano do número de trabalhadores portugueses de 900 para 400, e de civis e militares americanos de 650 para 165".

De acordo com o mesmo jornal, "os chineses querem instalar um entreposto comercial ali no meio do Atlântico".

Questionado pela agência Lusa, o gabinete do porta-voz do MNE chinês não confirmou nem desmentiu o interesse no referido entreposto, salientando antes que as relações entre a China e Portugal são "amistosas" e que os dois países assinalam este ano o 10.º aniversário da sua "parceria estratégica global".

"A China quer aprofundar a pragmática cooperação com Portugal em várias áreas e continuar a desenvolver as relações bilaterais", acrescentou o mesmo gabinete num comentário escrito de quatro linhas.

O acordo luso-chinês de "parceria estratégica global", um dos primeiros do género que a China estabeleceu com nações europeias, foi assinado em dezembro de 2005 em Portugal pelos chefes de governo dos dois países.

Em julho passado, no final de uma visita à América Latina, o presidente chinês, Xi Jinping, efetuou uma escala técnica de cerca de oito horas na ilha Terceira, onde se encontrou com o vice-primeiro-ministro português, Paulo Portas.

Dois anos antes, o então primeiro-ministro chinês, Wen Jiabao, escalou também a ilha Terceira.

Naquela altura, um conhecido comentador norte-americano, Gordon G. Chang, interpretou a escala de Wen Jiabao como um sinal de que a China estava a "lançar o anzol para tomar conta de uma base dos Estados Unidos nos Açores".
AC // PJA

China: União Islâmica de Hong Kong defende liberdade religiosa em Xinjiang




Hong Kong, China, 23 Jan (Lusa) - O secretário-geral da União Islâmica de Hong Kong lamenta que na região de Xinjiang, de maioria muçulmana, não se possa praticar a religião livremente, mas sublinha que o recurso à violência nunca deve ser encorajado.

"Por mim, queria que houvesse mais liberdade para praticar o Islão na China e também outras religiões", disse Rahmatullah Mohamed Omar, em declarações à agência Lusa.

Questionado sobre se os problemas sentidos em Xinjiang são de natureza política ou religiosa, Omar respondeu que as duas realidades se sobrepõem.

"Eles sentem que são oprimidos, que não podem praticar a sua religião. Mas nunca encorajamos a violência", afirmou.

Em dezembro do ano passado, as autoridades de Urumqi, capital de Xinjiang, anunciaram que iam proibir o uso de burcas em locais públicos, para "combater a propagação do extremismo religioso", uma medida que surgiu depois de, em agosto, a cidade de Karamay ter proibido homens com barba e mulheres com véus de entrarem nos transportes públicos.

Em outubro, as escolas passaram a desencorajar práticas religiosas em casa e em julho, o imã da maior mesquita da China, localizada na região, foi assassinado.

Xinjiang tem sido palco de vários ataques violentos que causaram a morte de centenas de pessoas no ano passado.

ISG (AC/EJ) // PJA

Chomsky: Drones dos EUA são “campanha terrorista mais extrema dos tempos modernos



Christopher Lewis

Na sequência dos ataques realizados em Paris contra o Charlie Hebdo, o “pai da linguística moderna” e comentador político Noam Chomsky criticou a hipocrisia ocidental apresentando a ideia de que existem dois tipos de terrorismo: “o deles e o nosso”.

Em um artigo de opinião publicado pela CNN, Chomsky debate o atentado terrorista ocorrido na capital francesa e os milhões que se manifestaram nos dias seguintes empunhando o slogan “Je suis Charlie” (Eu sou Charlie).

Mas ele se referiu igualmente aos que aproveitaram os atentados para promover a islamofobia. Ele escreve que os ataques questionaram “as raízes desses atentados chocantes na cultura islâmica e a exploração de formas de combate à vaga assassina do terrorismo islâmico sem sacrificarmos os nossos valores”, enquanto as ações terroristas cometidas por não-muçulmanos não resultaram em um impulso para contextualizá-las no cristianismo, por exemplo.

“Há muitos outros acontecimentos que não questionaram a cultura e a história ocidentais, como, por exemplo, a pior atrocidade terrorista cometida na Europa nos últimos anos, em julho de 2011, quando Anders Breivik, um extremista cristão ultrassionista e islamófobo, chacinou 77 pessoas, maioritariamente adolescentes”, sublinhou Chomsky.

Chomsky também criticou o programa de drones do presidente Barack Obama, classificando-o como “uma campanha global de assassinatos que tem como alvo pessoas suspeitas de tencionarem talvez prejudicar-nos um dia e os infelizes que possam se encontrar nas suas proximidades. O que não falta são esses infelizes, como os 50 civis alegadamente mortos em dezembro em um ataque aéreo liderado pelos EUA na Síria, o que quase não foi noticiado”.

Chomsky argumentou contra o advogado de direitos civis Floyd Abrams, o qual declarou ao New York Times que o atentado contra o Charlie Hebdo tinha sido “o ataque mais devastador contra o jornalismo de que há memória”. Chomsky explicou que a expressão “de que há memória” permite que as pessoas decidam ignorar os crimes cometidos pelo lado delas, em vez disso dando apenas importância aos crimes cometidos contra elas.

Isso permite que as pessoas classifiquem seus atos como “não sendo crimes, mas sim como uma nobre defesa de valores mais elevados, que por vezes inadvertidamente falha”, escreveu Chomsky.

“Contrariando as veementes declarações”, lamentou, “não se trata de ‘terrorismo é terrorismo, não há duas maneiras de ver isso’. Há mesmo duas maneiras de ver isso: a deles e a nossa. Isso não se aplica apenas ao terrorismo.”

Voz da Rússia - Foto: RIA Novosti/Galina Azule

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Islamofobia: Desde 9 de Janeiro houve 128 actos contra os muçulmanos em França




A estatística, feita a partir das queixas apresentadas na polícia, mostra que em poucos dias houve mais agressões do que em todo o ano passado.

Desde o ataque ao jornal satírico Charlie Hebdo foram registados em França 128 actos contra muçulmanos, quase tantos quantos os contabilizados em todo o ano de 2014.

As contas foram feitas pelo Observatório Nacional contra a Islamofobia, que contabilizou as queixas apresentadas na polícia, e revelam que houve 33 acções (contra mesquitas, por exemplo) e 95 ameaças (insultos e outras formas de agressão).

Em todo o ano passado, diz este organismo que pertence ao Conselho Francês Muçulmano, foram registados 133 actos contra muçulmanos, o que por sua vez constituíra uma redução de agressões de 43% — em 2013 tinham sido 226 actos.

“Estes números, porém, não reflectem a realidade, uma vez que muitos muçulmanos não apresentam queixa quando são vítimas de actos xenófobos, convencidos que estão de que as suas queixas não terão consequência, o que é verdade em muitos casos”, comenta o Observatório, sublinhando que os casos de “discriminação” não fazem parte desta estatística.

Depois dos ataques de 7 e 9 de Janeiro em Paris, realizados por jihadistas franceses que disseram agir em nome do islão — mas cujos actos foram condenados pelas organizações muçulmanas —, “os actos islamofóbicos aumentaram de uma forma nunca vista, assim como o ódio em relação aos franceses de confissão muçulmana”, disse o presidente do Observatório, Abdallah Zekri, no comunicado da organização.

“Foi a primeira vez que foram lançadas granadas e disparados tiros contra alvos muçulmanos. Estas acções contra uma parte da comunidade nacional, provocadas por pequenos nazis que passam o tempo a sujar os muros das nossas mesquitas com slogans, lembram-nos um triste e condenável passado.”

Nacionalidade retirada

Desde os ataques de Paris que o Governo francês debate que política deve adoptar para com aqueles que, depois de se radicalizarem e de terem estado em países como a Síria, o Iraque e o Iémen — nos territórios controlados pelo Estado Islâmico e pela Al-Qaeda —, regressam a França. Nesta sexta-feira, o Conselho Constitucional, a mais alta instância jurídica francesa, confirmou a anulação da nacionalidade de um jihadista franco-marroquino.

O Governo socialista de François Hollande decidiu que retirar a nacionalidade será uma medida a aplicar a pessoas a quem foi concedida nacionalidade francesa e que se comprometeram com o jihadismo. “Em caso algum devemos privar-nos dos meios que a lei nos dá para fazer valer os nossos valores e para dizermos que não aceitamos que os que acolhemos no nosso solo possam atingir a França e ameaçá-la”, disse o primeiro-ministro, Manuel Valls. Segundo o primeiro-ministro, nos últimos três meses foram aplicadas 28 expulsões administrativas de jihadistas com dupla nacionalidade.

Ahmed Sahnouni, que nasceu em Casablanca em 1970, obteve a nacionalidade francesa em 2003. Foi detido por suspeita de “associação terrorista” e condenado em julgamento, em Março de 2013, por “crime constituído por acto terrorista”. A justiça considerou provado que organizara um sistema de recrutamento de combatentes para o Iraque, Afeganistão e Somália. Em 2015 foi libertado. O seu advogado contestou a anulação da nacionalidade argumentando que depois de uma pessoa ser cidadão francês tem os mesmos direitos do que os outros e, por isso, a nacionalidade não lhe podia ser retirada. “Há franceses que são mais franceses do que outros?”, perguntou Nurettin Meseci. “Se o legislador pensa que a luta contra o terrorismo passa pela anulação de nacionalidades está enganado”.

Está em curso o processo de expulsão de Sahnouni para Marrocos.

Público – Foto: Guillaume Souvant / AFP

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O FUTURO DOS EUA SERÁ A RUÍNA



Craig Roberts

Os neoconservadores instalados em seus gabinetes em Washington devem estar em festa com seu sucesso em usar o episódio Charlie Hebdo para reunir a Europa ao redor da política externa dos Estados Unidos. Acabaram os votos dos franceses ao lado dos palestinos contra as posições EUA/Israel. Não mais crescerá a simpatia dos europeus em relação aos palestinos. Findou-se o crescimento da oposição europeia ao lançamento de mais e mais guerras no Oriente Médio. Não mais acontecerão apelos do presidente francês para que sejam suspensas as sanções contra a Rússia.

Mas por acaso os neoconservadores em Washington entenderam, também, que amarraram os europeus aos partidos políticos anti-imigração de extrema-direita? A onda de apoio ao Charlie Hebdo é a mesma onda de apoio à Frente Nacional de Marine Le Pen, do Partido Independente do Reino Unido de Nigel Farage e do alemão PEGIDA em que está engolfada a Europa. Foi o fervor anti-imigração pensado e orquestrado para reunir europeus a Washington e Israel que deu a estes partidos a perspectiva de poder que hoje ostentam.

Mais uma vez os insolentes e arrogantes neoconservadores estão errados. O fortalecimento dos partidos anti-imigração tem o potencial para revolucionar a política europeia e destruir o império de Washington. Ver minha entrevista ao King World News com análises sobre o potencial que estes acontecimentos têm de mudar o jogo.

A notícia do jornal inglês Daily Mail e do site Zero Hedge de que a Rússia cortara totalmente as entregas de gás para seis países europeus deve ser incorreta. Reconhecendo embora a credibilidade destas fontes bem informadas, não se observa a turbulência política e financeira que aconteceria fatalmente se o relato fosse verdadeiro. Portanto, a menos que em relação a essa notícia esteja acontecendo um total blackout noticiário, as ações da Rússia foram mal interpretadas. [NR]

Sabemos que alguma coisa realmente aconteceu. Caso contrário, não haveria como explicar a consternação expressa pelo assessor para a energia da União Europeia, Maros Sefcovic. Embora eu não tenha ainda uma informação definitiva, creio saber o que realmente ocorreu. A Rússia, cansada dos ladrões ucranianos, que roubam o gás que passa através do país em seu percurso até a Europa, tomou a decisão de enviar o gás através da Turquia, descartando a Ucrânia.

O ministro da Rússia para a Energia confirmou esta decisão acrescentando que se os países europeus quiserem ter acesso a este abastecimento de gás deverão construir suas próprias estruturas ou gasodutos.

Em outras palavras, não há corte no presente, mas há potencial para um corte no futuro.

Os dois eventos – Charlie Hebdo e a decisão russa de cessar a entrega de gás para a Europa através da Ucrânia – devem nos lembrar de não descartar eventuais black swans [1] e que black swans podem surgir de consequências não intencionais de decisões oficiais. Nem mesmo a “superpotência” americana está imune a black swans.

Há tanta evidência circunstancial de que a CIA e a inteligência francesa foram responsáveis pelo tiroteio no Charlie Hebdo como de que os disparos foram perpetrados pelos dois irmãos, cujo cartão de identidade foi convenientemente esquecido no suposto carro de fuga. Como a França agiu de forma a ter a certeza de que os irmãos seriam mortos antes de poderem falar, nunca saberemos o que teriam a dizer acerca da trama.

A única evidência existente de que os irmãos eram os culpados pelo atentado é a afirmação das forças de segurança. Sempre que ouço o governo acusar sem evidências reais lembro-me das “armas de destruição em massa” de Saddam Hussein, de que Assad “fazia uso de armas químicas” e de que o Irão “teria um programa de fabricação de armas nucleares”. Se um assessor da Segurança Nacional pode fazer aparecer a partir do nada “uma nuvem em forma de cogumelo sobre uma cidade americana”, então Cherif e Said Kouachi podem ser transformados em assassinos. Afinal, estão mortos mesmo e não podem reclamar.

Se isto foi (e nunca saberemos) uma operação de falsa bandeira, então foi alcançado o objetivo de Washington de reunificar a Europa sob Washington com os aplausos de Israel. Porém há uma consequência inesperada neste sucesso. A consequência inesperada é unificar a Europa sob a bandeira da política de anti-imigração dos partidos de direita, reforçando os líderes destes partidos.

Caso estas suposições estejam corretas, então Marine Le Pen e Nigel Farage estarão com suas vidas e/ou reputações em perigo, pois Washington resistirá a qualquer ascensão de lideranças que não adotem as linhas que impõe.

A grande consternação causada pela decisão russa de relocalizar o ponto de entrega do seu gás à Europa (na Turquia) é uma prova de que a Rússia possui muitas cartas para jogar que podem desestabilizar as estruturas financeiras do ocidente.

A China possui cartas semelhantes.

Os dois países ainda não estão jogando estas cartas sobre a mesa, pois pensam que ainda não precisam. Em vez disso, as duas potências estão se retirando do sistema financeiro ao serviço da hegemonia ocidental sobre o mundo. Ambos os países estão criando todas as instituições econômicas de que precisam para se tornarem completamente independentes do ocidente

Portanto, o raciocínio dos governantes chineses e russos é: "Porque ser provocador e esbofetear os idiotas ocidentais... eles podem usar as armas nucleares que possuem e o mundo inteiro estaria perdido. Vamos simplesmente afastar-nos no momento em que eles com as suas provocações nos encorajam a partir.

Sejamos pois agradecidos ao fato de que Vladimir Putin e os líderes chineses são inteligentes e humanos, ao contrário dos líderes ocidentais

Imaginem as terríveis consequências para o ocidente se Putin se tornasse pessoalmente envolvido em consequência das numerosas afrontas que sofrem tanto a Rússia como ele próprio. Putin pode destruir a OTAN e todo o sistema financeiro ocidental no momento que quiser. Tudo o que tem a fazer é anunciar que como a OTAN declarou guerra econômica contra a Rússia, esta não mais venderá energia a membros da OTAN.

A consequência seria a dissolução da OTAN, pois a Europa não pode sobreviver sem os abastecimentos energéticos da Rússia. Seria o fim do império de Washington.

Putin percebe que os insolentes neoconservadores teriam de apertar o botão nuclear a fim de salvar a face. Ao contrário de Putin, seus egos estão em causa. Portanto, Putin salva o mundo da guerra nuclear ao não se deixar provocar.

Agora, imagine se o governo chinês perdesse a paciência com Washington. Para confrontar a “excepcional, indispensável e único potência” com a realidade da sua impotência, tudo o que a China precisa fazer é despejar no mercado seus ativos financeiros maciços denominados em dólar, tudo de uma vez só, da mesma forma que os agentes bancários do Federal Reserve despejam maciçamente no mercado de futuros contratos de ouro a descoberto.

A fim de evitar o colapso financeiro dos EUA, o Federal Reserve teria de imprimir montantes maciços de novos dólares com os quais comprar a avalanche despejada pelos chineses. Como o Federal Reserve protegeria os mercados financeiros estado-unidenses através da compra dos haveres despejados pelos chineses, estes últimos nada perderiam com a venda. Mas o passo seguinte é que é fatal. O governo chinês simplesmente despejaria a quantidade maciça de dólares recebida pela liquidação dos seus instrumentos financeiros denominados em dólar.

O que aconteceria em seguida? O Federal Reserve pode imprimir dólares com os quais comprar os haveres despejados pelos chineses denominados, mas o Fed não pode imprimir moeda estrangeira com a qual comprar os dólares despejados no mercado.

A oferta maciça de dólares despejados pela China no mercado de câmbios não encontraria compradores. O valor do dólar entraria em colapso. Washington não poderia mais pagar suas contas através da impressão de dinheiro. Os americanos, que vivem em um país dependente de importações, graças aos empregos que foram deslocados para outros países, seriam confrontados com altos preços que afetariam de forma severa seu modo de vida, que desgastaria o seu padrão de vida. Os Estados Unidos experimentariam instabilidade econômica, social e política.

Deixando de lado suas lavagens cerebrais, seus apoios defensivos e patrióticos ao regime em Washington, os americanos precisam perguntar a si mesmos: Como pode o governo dos Estados Unidos, uma alegada superpotência, ser tão inconsciente das suas verdadeiras vulnerabilidades a ponto de Washington ser capaz de pressionar duas potências reais até o ponto de elas dizerem basta e jogarem as cartas que possuem?

Os americanos precisam entender que a única coisa realmente excepcional acerca dos Estado Unidos é a ignorância da população e a estupidez do governo.

Qual outro país no mundo deixa um bando de crápulas da Wall Street controlar a sua economia e política externa, dirigir o seu Banco Central e o seu Tesouro e subordinar os interesses dos seus cidadãos aos interesses dos bolsos de um por cento [da população]?

Uma população tão despreocupada está totalmente à mercê de Rússia e da China.

Ontem houve um novo evento tipo black swan, o qual poderia desencadear muitos outros: o Banco Central suíço anunciou o fim da ligação [pegging] do franco suíço ao euro e ao dólar .

Três anos atrás a fuga de dólares e euros para o franco suíço elevou tanto o valor cambial do franco que isto passou a ameaçar a própria existência da indústria suíça de exportação. O país anunciou então que quaisquer novas entradas de divisas estrangeiras convertidas em francos seria cumprida pela criação de novos francos a fim de absorver a entradas de modo a não elevar ainda mais a taxa de câmbio futura. Em outras palavras, a Suíça ligou o franco.

Ontem o Banco Central suíço anunciou que essa ligação cessou. O valor do franco subiu no mesmo instante. Ações de companhias suíças tiveram queda significativa, e hedge funds erradamente posicionados sofreram grandes golpes na sua solvência.

Por que a Suíça desligou o franco? Não se trata de uma ação sem custos. Para seu Banco Central e sua indústria de exportação, o custo será substancial.

A resposta é que o Procurador-Geral da UE determinou que era permissível para o BCE iniciar uma ação de Quantitative Easing – ou seja, a impressão de novos euros – a fim de salvar (bail out) banqueiros privados dos erros que cometeram. Isso significa que a comunidade financeira da Suíça ficaria na expectativa de ser confrontada com uma fuga maciça do euro e que o Banco Central suíço não deseja imprimir novos francos para manter a ligação. O banco central suíço acredita que teria de acelerar tanto a máquina de impressão que oferta monetária suíça explodiria, excedendo em muito o PIB do país.

A política de imprimir dinheiro sem lastro dos Estados Unidos, Japão e agora presumivelmente da União Europeia tem forçado outros países a inflar suas próprias moedas a fim de impedirem o aumento do valor de troca das suas divisas, o que prejudicaria sua capacidade exportadora e de ganhar divisas estrangeiras com as quais pagar suas importações. Assim, Washington tem forçado o mundo a imprimir dinheiro.

A Suiça retirou-se deste sistema. Seguir-se-ão outros? Ou será que o resto mundo vai simplesmente seguir os governos de Rússia e China em seus novos arranjos monetários, virando as costas para o ocidente corrupto e incorrigível?

O nível de corrupção e manipulação que caracteriza a economia e a política externa dos Estados Unidos de hoje era impossível em outros tempos, quando a ambição e Washington era constrangida pela União Soviética. A ganância pelo poder hegemônico tornou Washington o governo mais corrupto do planeta.

A consequência disto é a ruína.

“A liderança passa a império. O império gera a insolência. A insolência traz a ruína.”

O futuro dos EUA é a ruína. 

NT 
[1] Acontecimentos inesperados que provocam consequências imprevisíveis. A expressão foi forjada por Nicholas Taleb no livro com o mesmo título.
[2] Quantitative easing: flexibilização monetária, facilitação monetária, facilitação quantitativa, etc. Trata-se de emitir dinheiro sem lastro.


[NR] Ver a respeito: A Rússia deixa no frio o comissário europeu da energia

O original encontra-se em www.informationclearinghouse.info/article40723.htm e a versão em português em redecastorphoto.blogspot.com.br/... . Tradução de mberublue (com pequenas alterações).

Este artigo encontra-se em http://resistir.info/ .

*Tradução da inscrição na foto: Desculpe! O estilo de vida que encomendou atualmente está esgotado.

Portugal: DESPEDIMENTO COLETIVO NA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA. MINISTRO MENTE




O processo de requalificação é um despedimento coletivo de dimensões brutais

Estamos a assistir ao princípio da enxurrada que será o maior despedimento coletivo da história da Administração Pública. E tudo por um preconceito contra o que é público, contra o que é de todos, contra o que é do nosso povo.

Mariana Aiveca – Esquerda.net, opinião

“Uma mentira muitas vezes repetida não passa a ser verdade”. Esta foi a frase que o Ministro da Segurança Social Pedro Mota Soares mais repetiu ao longo dos últimos meses. Foi assim que respondeu sempre que foi confrontado com a sua decisão de despedir centenas de trabalhadores na Segurança Social através do chamado processo de requalificação.

Desde agosto, quando se tornou conhecida a decisão de enviar quase 700 trabalhadores para a requalificação, o Ministro repetiu sempre a mesma cassete gasta: “Vamos garantir que absolutamente ninguém será despedido na Segurança Social. Esse é o ponto essencial” dizia o Ministro em Novembro do ano passado. “Absolutamente ninguém será despedido”, “o mecanismo de requalificação não é um despedimento”, foi repetindo várias vezes.

A 20 de Novembro, o secretário de Estado da Administração Pública foi ao Parlamento dizer o mesmo: que o processo de requalificação "não envolve qualquer despedimento" e que “a equiparação a desemprego é abusiva". A 26 de Novembro, Agostinho Branquinho, secretário de Estado da Segurança Social, também no Parlamento, disse mais uma vez em jeito de obediência ao Ministro: "absolutamente ninguém vai ser despedido". Ainda na semana passada, Pedro Mota Soares garantiu aos deputados tratar-se de uma “reorganização de serviços” e não de “despedimentos”.

Mas o Sr. Ministro tem razão, uma mentira muitas vezes repetida não passa a ser verdade. Quando decidiu enviar 700 trabalhadores da Segurança Social para o regime da requalificação, o Ministro Mota Soares, aliás como todo o Governo, sabia exatamente o que estava a fazer. O Sr. Ministro não é tão incompetente que não conheça a Lei, e a lei é clara.

Os trabalhadores colocados em requalificação passam por uma primeira fase em que recebem 60% do salário e o seu vinculo é mantido. Na segunda fase de requalificação os trabalhadores recebem 40% do salário. Mas só acedem a esta segunda fase os trabalhadores com vínculo de nomeação ou que transitaram administrativamente para o regime do contrato de trabalho em funções públicas. Os outros trabalhadores, mesmo os que entraram para o Estado antes de 2009, que sempre estiveram a contrato são despedidos ao fim de um ano e recebem as compensações previstas no Código do Trabalho.

E se isto não for suficientemente claro para o Sr. Ministro da Segurança Social, talvez possamos simplificar as coisas da seguinte forma: “As regras são absolutamente claras. Sabemos quais as pessoas em que o vínculo não permite despedimento e sabemos que há outras que, por causa do tipo de contrato, podem ser despedidas”. Estas palavras não são minhas, são da Ministra das Finanças.

Estará a Sra. Ministra das Finanças a repetir mentiras ou poderemos finalmente concluir que é verdade aquilo que sempre dissemos: o processo de requalificação é, de facto, um despedimento coletivo de dimensões brutais e aquilo que o Ministro Mota Soares repetiu vezes sem conta não passou de uma “mistificação”, numa expressão também da autoria da Sra. Ministra da Finanças.

Aquilo que a Ministra da Finanças admitiu ontem foi que o Ministro da Segurança Social Luís Pedro Mota Soares tentou enganar os deputados, o parlamento, os trabalhadores e tentou enganar o país. E fê-lo porque não quer dar a cara, porque sabe que em muitos casos a situação da requalificação é pior do que o regime do desemprego, porque sabe que está a encostar à parede e chantagear centenas de pessoas para que peçam rescisão, porque sabe que vai mandar para rua muitos deles.

O problema é que na aldrabice do Sr. Ministro estão a as vidas de centenas de pessoas que trabalham na Segurança Social há décadas e que agora ficam sem rede, de um momento para o outro, expostas ao desemprego e à pobreza. E na vida que estas pessoas deram ao seu trabalho, todos os dias, está a Segurança Social solidária, pública e universal que este Governo quer destruir.

Estes trabalhadores que agora saem são educadoras de infância, técnicos de diagnóstico e terapêutica, motoristas, administrativas, técnicas de equipas multidisciplinares que acompanham crianças e famílias em risco, que trabalham com as CPCJs e com os Tribunais, que acompanham casos de pobreza e de exclusão social.

São trabalhadores com funções que não deixam lugares vagos. Por isso os serviços já estão a substituir muitos deles, porque estes trabalhadores têm trabalho, têm processos, têm valor e têm qualificações para os lugares que ocupam, mesmo que não estejam enquadrados nas carreiras revistas.

Agora que a Sra. Ministra das Finanças destapou a ponta do véu, é tempo de acabar com todas as mistificações que foram utilizadas para tentar justificar este processo. Os argumentos apresentados pelo Governo e pelo Ministro da Segurança Social não colhem.

O Provedor de Justiça já veio afirmar que o estudo que alegadamente está base desta decisão “é omisso no que respeita aos critérios e procedimentos adotados para determinar o número concreto dos postos de trabalho necessários” e que “”tal estudo não constitui fundamento bastante para a colocação de trabalhadores em situação de requalificação”.

Entre a garantia do Ministro Mota Soares de que “absolutamente ninguém será despedido” e a realidade estão 12 mil trabalhadores. Doze mil é o número de trabalhadores da Administração Pública que este Governo já disse que vai colocar na requalificação durante 2015, mesmo depois de já ter reduzido mais do dobro do numero de funcionários públicos acordado com a Troika.

Estamos a assistir ao princípio da enxurrada que será o maior despedimento coletivo da história da Administração Pública. E tudo por um preconceito contra o que é público, contra o que é de todos, contra o que é do nosso povo.

A Segurança Social é património de todos nós e da solidariedade que une gerações de trabalhadores.

Uma mentira não se torna verdade por muito que seja repetida. Este Governo enganou o país demasiadas vezes e nem por isso o país está melhor, como o Governo apregoa. Deve ser, ele sim, alvo de um despedimento coletivo.

Declaração política na Assembleia da República em 22 de Janeiro de 2015 - Deputada, dirigente do Bloco de Esquerda, funcionária pública.

*Título PG

Portugal: JUSTIÇA INVESTIGA MORTES NAS URGÊNCIAS



Marta F. Reis – jornal i

Procuradoria-Geral da República confirmou ao i que foram instaurados inquéritos a três mortes em urgências hospitalares

O Ministério Público está a investigar as mortes de doentes em serviços de urgências do SNS onde terão esperado várias horas antes de serem atendidos. A justiça não esperou que lhe fossem remetidos indícios criminais pela Inspecção-Geral das Actividades em Saúde, onde decorrem processos de inquérito, e avançou já com algumas investigações. A Procuradoria-Geral da República confirmou ontem ao i que foram instaurados pelo menos três inquéritos referentes aos óbitos registados nos hospitais de S. José, Peniche e Santa Maria da Feira, os três por iniciativa do Ministério Público. Encontram-se em investigação, informou fonte oficial da PGR, sem adiantar ontem até à hora de fecho desta edição quais os crimes sob suspeita.

Ao todo foram noticiadas no último mês sete mortes de doentes que deram entrada em serviços de urgência e esperaram mais do que o tempo previsto na Triagem de Manchester para serem observados, tendo alguns falecido antes de serem vistos. Os três casos que a PGR confirma que estão a ser investigados ocorreram entre o dia 27 de Dezembro e o dia 5 de Janeiro. No hospital de S. José, um homem de 80 anos terá sido vítima de um AVC ao fim de seis horas de espera nas urgências. Em Peniche, uma idosa de 79 anos terá estado em observação na urgência entre as 9h30 e as 19h, altura em que faleceu quando aguardava ser transferida para o hospital das Caldas para fazer uma TAC, já que este exame não está disponível no hospital. O hospital já contestou que a doente foi submetida a uma primeira avaliação 20 minutos após ter dado entrada no hospital, tendo contudo aberto um processo inquérito. Mas o Centro Hospitalar do Oeste, que integra a unidade, considera que este caso "não deve ser tratado como os que têm vindo a ser noticiados devido a alegadas faltas de atendimento médico."

Já o caso de Santa Maria da Feira prende-se com Roberto Pereira, um homem de 57 anos que esteve seis horas à espera de observação, vindo a falecer alegadamente na sequência da ruptura de uma úlcera. Os familiares de Roberto Pereira contaram ao i que foram chamados a depor na quinta-feira.

O Ministério da Saúde já reiterou que os casos estão a ser avaliados quer internamento nos hospitais, quer pela IGAS, garantindo que pretende apurar responsabilidades. A tutela deu também instruções aos hospitais para repetirem a triagem de doentes que estão a aguardar para lá do tempo indicado e garantir escalas completas.

Foto: Mário Cruz, Lusa

EUROPA “ABANDONA” A GRÉCIA A DOIS DIAS DAS ELEIÇÕES



Joana Azevedo Viana – jornal i

Anúncio de Mario Draghi de compra de dívida pública para salvar a zona euro mostra que a União Europeia esteve a preparar-se para eventual saída grega da moeda única

É uma injecção massiva de dinheiro na zona euro, baptizada Quantitative Easing (QE), um programa que equivale à compra de activos, incluindo dívida soberana dos países dentro da moeda única, pelo Banco Central Europeu (BCE) para fazer face à recessão económica que a União Europeia continua a atravessar.

O anúncio foi feito ontem por Mario Draghi, presidente do BCE, e uma Grécia prestes a ir às urnas para legislativas antecipadas e com vencedor pré-anunciado não foi excluída das declarações. Apenas do programa.

Segundo Draghi, a dívida do país, a par da do Chipre, não é elegível para compra, mas o cenário "talvez mude em Julho", quando os programas de resgate da troika aos dois países forem ajustados. Aí, será feita uma avaliação dos "critérios adicionais de elegibilidade" para apurar se a dívida da Grécia está qualificada para ser comprada pelo BCE, contribuindo para a angariação dos 60 mil milhões de euros que a instituição financeira pretende juntar por mês através do QE entre Março deste ano e, pelo menos, Setembro de 2016.

A três dias de os 9,8 milhões de gregos irem às urnas eleger o seu próximo governo - um que deverá ser liderado pelo partido de esquerda antiausteritário Syriza, de Alexis Tsipras - a exclusão da Grécia deste novo pacote de injecção de dinheiro não podia ter maior carga política.

"Para as principais agências de rating, que subiram a avaliação da Grécia no ano passado, qualquer exclusão da compra [de dívida pública grega] pelo BCE coloca a difícil questão sobre qual será o significado de uma decisão tão politicamente simbólica", referia ontem o jornal grego "Kathimerini" pouco depois do anúncio de Draghi.

"Com Atenas trancada fora dos mercados de dívida e dependente do financiamento de resgate, o impacto prático [da exclusão] pode ser limitado, mas certamente aumentará o sentimento crescente entre os investidores de que a zona euro está preparada para cortar com a Grécia", responde logo a seguir o mesmo artigo, refugiado em comentários prudentes de analistas dessas mesmas agências.

Nas palavras de alguns, o "significado político" é só um: chantagem. A mesma que a União Europeia e os credores internacionais têm vindo a exercer sobre a Grécia perante a possível vitória de Tsipras. O programa do líder do Syriza passa por pôr fim às políticas de austeridade que o governo conservador do Nova Democracia tem aplicado na Grécia a mando da troika desde que venceu as eleições de 2012. Acabar com a austeridade e renegociar a dívida externa para combater o desemprego de 25% e a queda livre da economia.

Apesar de ao longo da campanha Tsipras não ter feito referência directa à eventual saída da zona euro caso essa reestruturação falhe, é uma possibilidade que, como na última ida às urnas, assusta muitos. Mais agora que o pacote de resgate da troika está prestes a expirar, no final de Fevereiro.

Como há dois anos, a economia grega continua a representar cerca de 2% do PIB da UE. Também como há dois anos, as eleições estão a ser disputadas entre um Tsipras carregado de promessas de retoma económica e um Antonis Samaras conservador que é bom a seguir as directivas da troika.

Mas se há dois anos a população escolheu o menor dos males, ou o único mal que conhecia, desta vez parece, segundo as últimas sondagens, disposta a apostar todas as fichas num Syriza ainda sem provas dadas. E se há dois anos os mercados e os países europeus menos afectados pela crise tremiam com a possibilidade de Tsipras se tornar primeiro-ministro da Grécia, o caso agora é mais bicudo para o líder do Syriza e menos para a Alemanha e o clube nórdico.

Ao longo dos últimos seis anos, enquanto a austeridade cega fez disparar a pobreza e o desemprego na Grécia, os líderes europeus asseguraram-se de que, a confirmar-se o abandono da moeda única pela Grécia, não serão os bancos a pagar a conta. O que, na prática, lhes deu mais margem de negociação, dizem uns, de chantagem, dizem outros.

Dessa forma, Tsipras, o provável vencedor das legislativas de domingo, tem a vida complicada. Ele e as suas promessas de curar a Grécia dando um chuto na troika. A exclusão do país do programa ontem anunciado por Draghi é só mais uma prova disso. Quando o líder do BCE fala na possibilidade de incluir a Grécia no programa de compra em massa de dívida soberana a partir de Julho, o que está a dizer é que lhe vai dar uma mão se o seu novo líder aceitar manter o programa de resgate previamente negociado. Mais incerteza a pairar na recta final para as eleições, mais medo espalhado entre milhões de gregos, muitos a fugir em massa do país.

"Há seis anos que a Grécia é como um doente a esvair-se lentamente em sangue", dizia ontem Antonis, fotógrafo grego, à correspondente do "The Guardian" em Atenas. "O que aconteceu a este país é uma catástrofe. Os nossos políticos, a Europa, o Fundo Monetário Internacional obrigaram-nos a parar de sonhar."

"Toda a gente está exausta", diz ao mesmo jornal Dimitris Kalatzis, joalheiro de 53 anos. "Esqueçam impor mais impostos, não vamos poder pagá-los! E esqueçam o que diz o Syriza, ninguém acredita realmente nas suas promessas de emprego e de cortes nos impostos e de reposição de pensões. Mas psicologicamente temos de nos acalmar. E se isso significa arriscar, se isso significa o regresso do dracma [moeda nacional grega], pois que assim seja!"

Kalatzis não é o único a achar que mais vale arriscar e que o Syriza é o único que pode fazê-lo, mesmo que acabe por não o fazer. O joalheiro acredita que muitos dos votos no partido serão de protesto e ainda há 21% de indecisos, que em última instância, irão ditar os resultados no domingo. Se as sondagens se confirmarem, passará a ser Tsipras o médico de serviço. A questão é se o doente não terá já perdido sangue a mais.

Foto: Bruno Simões Castanheira

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