sábado, 31 de janeiro de 2015

SINAIS DE OUTRA ESQUERDA NO SYRIZA




Como um partido não-convencional ousou desapegar-se da retórica e experimentar. A escuta política. Os “clubes de solidariedade”. O carisma de Tsipras

Paul Mason - Outras Palavras - Tradução Inês Castilho 

A vitória do Syriza sacudiu a esquerda na Europa – atingindo até mesmo os social-democratas moderados, que se debatiam em busca de idéias e inspiração desde a crise de 2008. Agora, há em todo canto conversas sobre “fazer um Syriza” – e na Espanha, onde o partido de esquerda Podemos está obtendo 25% nas pesquisas, mais do que conversa.

Mas o percurso do Syriza até tornar-se o primeiro governo europeu de extrema esquerda nos tempos modernos não foi nem fácil nem inevitável. Nos últimos 22 dias, participei de uma equipe de documentaristas gregos que acompanhou os ativistas e líderes em campanha, para ver como eles conseguiram vencer. Pude vê-los oferecendo novas esperanças a agricultores no limiar da pobreza, e angariar víveres para sua rede de bancos de alimentos. Vi como conquistaram comunistas da velha guarda, no sindicato dos estivadores, que sofriam por ver seu local de trabalho vendido aos chineses; e como apresentaram, em contraposição ao establishment político e à elite corrupta, uma alternativa jovem e contemporânea. Vi seu líder, Alexis Tsipras, em ação em seu escritório particular, em momentos críticos.

Tsipras é tão carismático que nem precisa de uma equipe de imprensa de classe mundial. Mas quando o entrevistei, na primeira semana de campanha, ficou claro que oSyriza não tem escassez de assessores de imagem. “Desculpe, mas tenho de vetar isso”, diz o secretário de imprensa Danai Badogianni, bem quando Tsipras parece convencido a falar em inglês para a câmera. “Caso contrário, vai abrir um precedente.”

A campanha de Tsipras começou a partir de uma atuação sólida na oposição parlamentar. Em 3 de janeiro, o dia em que ele lotou um estádio com cinco mil membros do partido, o núcleo interno viu-o levar a esquerda de seu partido a se resignar e retirar as objeções à sua escolha de candidatos ao parlamento. Tsipras transformou tanto o partido como seu funcionamento; o comitê central, em sua sede surrada, tornou-se menos importante do que a equipe política do candidato.

De perto, ele fala um inglês perfeito e tem uma risada contagiante. Há alguns parlamentares do Syriza craques em serem contidos e discretos, nas conversas em off, mas Tsipras não é um deles. Conversamos francamente sobre informações controversas que sua equipe econômica deu aos mercados financeiros, e sobre a tentativa de suborno escandalosa que, segundo ele, torpedeou a estratégia eleitoral da direita. Ele posa, sem vacilar, para selfies com as jovens gregas com quem estou filmando, sabendo que as fotos estarão no Facebook em minutos.

Apesar de convocar não menos que quarto professores de economia de esquerda para sua equipe ministerial, Tsipras parece ter, ele próprio, a mais clara compreensão da economia política, para seu próximo confronto com o Banco Central Europeu. Os anúncios decisivos, quando vierem, serão feitos por ele.

Mas, além do profissionalismo e disciplina, Tsipras definiu um ritmo de campanha avassalador. Sua margem de vitória, nas pesquisas em janeiro, era de 2 pontos percentuais. Com todos os canais da TV grega contra ele, e a maioria dos jornais, a direita esperava retomar a liderança. Mas, ao contrário, foi o Syriza que disparou.

O interior em revolta e a escuta política

No sol fraco de janeiro, as montanhas ao longo do Golfo de Corinto estão cobertas de neve. Espalhadas ao longo das encostas estão aldeias conhecidas como “castelos” políticos, normalmente tão apegadas a um ou outro dos principais partidos – Pasok [ex-social-democrata] e Nova Democracia [centro-direita] – que você pode orientar-se, em época de eleição, seguindo os cartazes. Mas esta é, hoje, uma terra conturbada; dois terços dos plantadores de vinhas e pomares de limão estão tecnicamente falidos. Foram forçados a hipotecar suas terras, os bancos querem reaver seus empréstimos e o índice de suicídios avança, nestas tranquilas cidades agrícolas.

Giannis Tsogkas, um plantador de uvas de 56 anos de Assos, nos diz: “[O governo] nos empurrou para o acordo com o FMI e tudo que eles fazem é obedecer os conservadores. Os pequenos vão morrer. Continuamos ouvindo sobre gente se suicidando. De modo que tentamos encontrar alguém na esquerda que nos proteja. E encontramos o Syriza.”

Ao cair da noite, a taverna próxima a Psari está cheia de idosos e crianças – a maioria dos jovens adultos se foi. Os rostos sofridos dos agricultores na miséria observam com cuidado um homem do Syriza que faz um discurso em estilo bolchevique: “Por que o FMI quer nos destruir? Será que é porque o sol brilha aqui? Será que é porque somos um povo hospitaleiro? Eles odeiam a vida do sul da Europa? ”

Mas, diz o candidato à eleição Theofanis Kourembes, não foi a retórica que tornou vermelhas cidades como esta. “A gente vai e ajuda as pessoas. Escutamos quando nos dizem alguma coisa. Quando pedem ajuda, estamos aqui. Você nunca vê o Pasok ou a Nova Democracia.”

São pequenos encontros como este, a quilômetros das principais cidades, que ajudaram a transformar o Syriza, de um partido com 4% dos votos há 10 anos, num outro, que liderava com 32% das preferências, na última semana de campanha eleitoral.

“Vocês jornalistas vieram de longe até aqui para nos entrevistar”, diz um fazendeiro. “O Syriza é o único partido que fez a mesma coisa. Eles vieram e conversaram connosco. Se quiséssemos falar com os principais partidos, como os encontraríamos?”

O campo, uma paisagem árida de galhos e campos transformados, é solo fértil para a mensagem vencedora do Syriza. Os agricultores sofreram muito com a “austeridade”: ela significa impostos mais altos e menos subsídios. Mas a corrupção é também uma questão importante. Em Assos, Tsogkas nos conta como os comerciantes que compram as uvas regularmente desaparecem sem pagar. “Eles não nos dão recibos, e a lei os protege. Desaparecem, pedem falência e ficamos sem nada. Mas temos de pagar por medicamentos, salário de empregados, juros de empréstimos, eletricidade, tudo isso. Estamos esgotados”, ele suspira, “acabou.”

O sistema político grego era tão incompetente, corrupto e lubrificado pelo que eles chamam aqui de “dinheiro sujo” que, quando o dinheiro acabou, os alicerces que o sustentavam entraram em colapso.

Embora o programa econômico do Syriza seja limitado pelos 319 bilhões de euros que a Grécia deve ao resto da Europa, lutar contra a oligarquia não custa nada. Tsipras me diz: “Iniciaremos uma nova era política. Vamos fazer uma mudança maciça na governança do Estado. Não temos responsabilidade pelo estado de clientelismo criado pelos partidos que governaram o país até agora. Precisamos de um Estado que funcione e se coloque ao lado dos cidadãos. Precisamos acabar com essa farra de sonegação e evasão fiscal.”

Por toda a Grécia, o Syriza organizou bancos de alimentos, conhecidos como Clubes da Solidariedade. Acompanho os ativistas até um mercado de rua em Atenas. Usam lenços laranja e, educadamente mas com firmeza, argumentam com os agricultores que um saco de batatas ou laranjas para os pobres é seu dever social. Em meia hora, os carrinhos estão cheios de comida.

O organizador me diz: “Isso é o oposto de caridade. Estamos dando suporte a 120 famílias nesta área, e muito do trabalho que fazemos é lidar com isolamento, saúde mental e vergonha.” Você não pode agir mais profundamente na micropolítica do que quando se senta num quarto pequeno e convence as pessoas a não pensar em suicídio.  Não tem volta, a confiança construída é difícil de destruir.

E na semana final, quando as pesquisas dão ao Syriza sólidos seis pontos de liderança, torna-se claro o que está levando à vitória. Ainda que o programa do partido aponte para algo como uma democracia econômica e social de esquerda, ele está agindo de modo oposto à prática dos social-democratas em tempo de eleição. Faz promessas claras e duras, sobre pegar pesado com os ricos. Um parlamentar sênior prometeu publicamente “destruir a oligarquia” – taxar os donos de navios e patrões das construtoras, e impor regulação básica e moderna nos canais de TV privada que a oligarquia possui — os quais, hoje, não têm sequer que registrar, ou pagar pelo espectro de rádio que usam.

“A esperança começa hoje”, é o mantra de Tsipras. Isso se traduz numa nova atmosfera nos cafés e nas mesas de jantar das famílias: não estamos mais com medo.

O centro político se autodestrói

No momento do último comício eleitoral do Syriza, a mídia global acordou para a possibilidade de uma derrota. Para quem olha de fora, as bandeiras vermelhas e amultidão cantando Bandiera Rossa, o hino comunista italiano, lembram a velha esquerda – mas todos na multidão sabem que o partido está se dirigindo à direção oposta. Ele não se limitará a confrontar a Europa, na redução da dívida – exige um novo acordo. Está determinado a anular as políticas de “austeridade”. Isso, dizem os sagazes economistas amontoados nos bastidores do comício, joga o problema para o chefe Banco Central Europeu, Mario Draghi. Ele pode puxar o gatilho de um colapso bancário e de uma crise que force a Grécia a sair do euro — mas o Syriza não fará isso.

Enquanto Tsipras entusiasma a multidão, Pablo Iglesias, o jornalista que levou o novo partido de esquerda espanhol Podemos a uma posição de 25% nas pesquisas, encolhe os ombros e balança como um boxeador prestes a entrar no ringue. Ele ensaia o que vai dizer e, em seguida, dá uma corrida para subir os degraus, acompanhado por uma música de Leonard Cohen, para juntar-se ao Tsipras. Ele grita, em inglês: “Primeiro vamos tomar Manhattan; em seguida, tomamos Berlim.” Em outras palavras, o FMI e o BCE terão de enfrentar um oponente determinado. Os quadros do Syriza que cercam os dois homens sabem como vai ser pesada a pressão a partir de agora.

Rena Dourou, que conheci como uma ativista esfarrapada no acampamento Occupy da Praça Syntagma de Atenas, quatro anos atrás, não pode conter seu sorriso conforme balança a mão nas ruas, abarrotadas de apoiadores: “Ninguém nos ouviu durante anos”, diz ela. “Agora todo mundo está ouvindo. E não se trata apenas da Grécia. Trata-se da Europa, e especialmente a jovem.”

Dourou está em suas primeiras semanas como prefeita eleita de Attica, a maior região da Grécia. Está descobrindo na real o que significa tentar limpar o Estado grego. Agora penteada e vestida com um terninho como uma política convencional, não consegue conter o nervosismo. Há quatro anos, conforme nos esquivávamos do gás lacrimogêneo, ela me disse: “A Europa precisa de um Chirac, ou um Schröder, ou mesmo alguém como Kirchner na Argentina. Algum tipo de líder convencional que pare com essa loucura de austeridade.” Eu brinquei: “Provavelmente serão vocês.” Hoje, ela sabe que não é brincadeira. Conforme todo o centro político europeu aquiesceu em um programa de “austeridade” que empurrou o continente para a deflação, apenas um partido de ex-trotsquistas, ecoguerreiros e ativistas Occupy tomou esse espaço.

Na noite da eleição, no ultimo andar da sede do Syriza, onde está sentada a equipe de Tsipras, o nervosismo dá lugar a um alívio estonteante, à medida em que os resultados vão saindo. As perspectivas de obter maioria no Parlamento sem coligações estão por um fio mas, minutos depois de encerrada a apuração, já ficara claro que eles venceram. Tsipras chega, radiante. Ele abraça uma mulher baixinha de meia idade de sua equipe, chamando-a de “meu pequeno porquinho”. Seus secretários estão em lágrimas. “Por que vocês estão chorando?”, brinca. “Quando perdemos em 2012, vocês estavam celebrando; e agora, que vencemos, vocês choram!”

O futuro ministro do interior do Syriza liga para os chefes do exército e da polícia. “Nós confiamos em vocês”, é a essência da mensagem. É um grande ato de fé, já que as forças militares e policiais da Grécia foram treinadas, desde a guerra fria, para suprimir a extrema esquerda agora — inclusive com aulas de “educação política”, aos oficiais, sobre os perigos do marxismo.

Nos anos que se seguiram à queda da junta militar, em 1974, a oligarquia bipartidária tolerou a esquerda, mas assegurou-se de que não houvesse chance de ela chegar ao poder. Isso, em retrospectiva, criou uma consciência de esquerda ampla, mas dormente. Tsipras está rodeado de quadros partidários que lutaram na rebelião estudantil que derrubou a junta, mas a geração de seus pais sofreu tortura e prisão durante e depois da guerra civil. Excluida do poder, a esquerda construir uma contracultura de canções rebeldes, música folclória, culto a Che Guevara e poderosas centrais sindicais de trabalhadores manuais, como os estivadores. Isso é chave para entender o que é replicável sobre o Syriza, e o que não é. O partido emergiu da cisão do eurocomunismo com Moscou nos anos 1970, mas enxertou uma cultura de esquerda soft, e conquistou a lealdade de muita gente jovem, cuja vida gira em torno de trabalho precário e sem qualificação, e que faz a mágica de sobreviver com salários de 400 euros por mês.

Tsipras transformou o Syriza de uma aliança frouxa em um partido que é a expressão, por excelência, dos valores deste vasto setor de esquerda do eleitorado grego. Bastou que o partido natural que a representava — o Pasok — destruisse a si mesmo.

Na última semana de campanha, os gregos de esquerda assistiram ao desabamento das paredes invisíveis à sua volta. As conversas com os vizinhos de direita e os colegas de trabalho não politizados eram dominados por uma palavra – Tsipras. E nos últimos dias, apenas “ele”. Assim como o boca-a-boca incessante, os bancos de alimentos, a identidade visual elegante, o que levou o Syriza ao poder foi, basicamente, a autodestruição do centro. E isso, por sua vez, deveu-se ao trabalho da União Europeia e do FMI.

Um partido da juventude e dos que rejeitam o medo

Na cidade de Assos, quando os votos foram contados, verificou-se que 1.529 dos 4.000 habitantes votaram Syriza (38%). Os conservadores, que controlaram a cidade por gerações, tiveram apenas 29%, com o partido neonazista Golden Dawn chegando a 7% – uma réplica quase exata do resultado nacional. O mapa eleitoral mostra que, fora a velha direita do interior da Macedônia e da Península do Peloponeso do Sul, a Grécia profunda tornou-se vermelha.

Kourembes, que é agora parlamentar do Syriza para Assos, diz: “Simplesmente, desta vez, o povo começou a pensar de outra maneira. Eles se deram conta de que não há saída com o grupo atual de políticos. Tomaram consciência de que, para manter-se à tona, tinham de fazer alguma coisa diferente.”

O Syriza não empregou nenhuma “tática matadora” na campanha eleitoral. Mas teve qualidades definitivas: jovialidade, plausibilidade e normalidade. Muitos de seus candidatos são jovens e elegantes; eles vivem e se comportam como gente de vinte, trinta e poucos anos. No comício de lançamento do ministro dos transportes conservador Miltiadis Varvitsiotis, os contrastes eram óbvios. Como convém a um sistema que permite aos proprietários de navios não pagar nenhum imposto sobre os lucros no exterior, a multidão aqui era idosa, de aparência requintada e desavergonhadamente rica.

Embora o próprio ministro seja parte de uma geração tecnocrática que acena ao conservadorismo moderno, é impossível ser contemporâneo quando rodeado por um aparato construído na guerra fria, e dependente do apoio de bilionários. Ao mostrar ser gente normal, evitar declarações tresloucadas de parlamentares individuais e projetar e calma, em oposição à campanha de medo da direita, o pessoal de Syriza ganhou.

Em Atenas, logo depois de fechadas as urnas, Spiros Rapanakiso, candidato do Syriza  inclina-se, exausto, contra as persianas de uma loja. Ele passou o dia em sua zona eleitoral, a comunidade do porto de Keratsini, em um Hyundai maltratado, assobiando a International para ganhar coragem. Fica claro, quando falamos com os eleitores, que até mesmo conservadores tradicionais votaram no Syriza. Quando se dá conta de que, em vez de um repórter júnior no jornal do partido, é agora um deputado, ele murmura: “O povo grego escreveu a história e estou contente de fazer parte dela. Eu de fato não posso descrever como me sinto. Temos um grande trabalho pela frente. Amanhã vamos criar a Grécia de novo.”

O SYRIZA CUMPRIRÁ? OS ENTUSIASMADOS QUE MEDITEM E FIQUEM ATENTOS




GRÉCIA VOTOU A FAVOR DE SANÇÕES CONTRA A RÚSSIA 

O novo governo grego apoiou sanções da UE contra a Rússia na reunião dos ministros de Negócios Estrangeiros de 29 de Janeiro. O servilismo da UE aos diktats do governo Obama já era bem conhecido. Verifica-se agora que o governo Syriza o corrobora de facto no plano operacional – apenas faz uns queixumes quando não é ouvido previamente. Os entusiasmados com este governo Syriza deveriam meditar nisso.

A NOVA SOCIAL-DEMOCRACIA GREGA 

Os novos sociais-democratas, herdeiros do Pasok, venceram as eleições gregas .  O capital monopolista e financeiro europeu pode ficar tranquilo.  Como sempre, nas situações difíceis, a social-democracia há de lançar uma boia de salvação ao capital.  Os que se elegeram auto-denominam-se "radicais" e "de esquerda".  Mas que esquerda é essa que promete respeitinho para com os banqueiros credores, lealdade à NATO & à UE e recusa a soberania monetária?  É de esquerdas assim, como o Syriza e o Podemos espanhol, que o capital gosta.  Economistas brilhantes – como Yanis Varoufakis, autor do "Minotauro global" – participarão do governo Syriza.  Mas por muito brilhantes que sejam pouco poderão fazer pelo êxito de um governo que capitulou à partida, já no seu programa eleitoral.  Registe-se a atitude de um partido sério como o KKE , que não faz nem nunca fez promessas demagógicas de coisas incompatíveis entre si.


*Título PG

Angola: LEIS ANTI-PATRIÓTICAS E O RASTILHO DA REVOLTA



William Tonet - Folha 8 Digital (ao)

O país está a viver uma situação de alto risco. Dramática, não só deri­vada da crise internacional, face à queda brusca do preço do petró­leo, como também da de­sastrosa política e gestão económica, cujas raízes são bem antigas.

De facto, vem de longe a incapacidade de prever as oscilações do tempo e encontrar as melhores op­ções. O paliativo tem sido a varinha mágica alavan­cada pelo gabinete do TPE (Titular do Poder Executi­vo), sempre. Em algumas vezes a sorte e os ventos da história pendem a favor do regime e este embala no descaso.

Hoje o momento é de­licado, excessivamente delicado e intricado. As últimas medidas econó­micas, políticas e sociais têm sido tomadas contra os mais desfavorecidos, os empreendedores e a emergente classe média. Demolições e espoliações de habitações e terras dos indígenas, para as entregar aos poucos ricos do regi­me, leis discriminatórias contra os empreendedores angolanos, para beneficiar os sócios estrangeiros, en­tre outras.

A pólvora está nos trilhos, a revolta caminha silencio­sa no coração de milhões e, cada vez mais, se acre­dita num fósforo qualquer.

É descabida, maldosa e sem sentido de gestão eco­nómica a lei que põe fim aà importação de viaturas e peças, com mais de três anos, melhor é um claro acto de antipatriotismo co­lonial.

Os principais lesados fo­ram os professores, enfer­meiros e funcionários pú­blicos que sonhavam com a possibilidade de ter um carro, face às suas precá­rias posses, para enfrentar o desafio da compra de um carro novo, com os salários praticados. Para além disso, mais de 1000 vendedores/importadores directos, que garantiam 5000 postos de trabalho indirecto, com essa políti­ca anti-angolana, viram-se no desemprego. Insensível o regime, com os olhos em Talatona, não faz con­tas, pois se olharmos para a nossa realidade, que um chefe de família, no míni­mo controla, cerca de 10 pessoas, temos 6000x10 =60.000, angolanos afec­tados profissional e acade­micamente.

Mas quando se pensava po­der o regime refrear nesta sanha, eis que retomam as espoliações de populações inteiras da Ilha de Luanda, Chicala, Talatona, Cacua­co, Viana, tudo para satis­fazer a devoradora febre imobiliária dos familiares e amigos. Os espoliados e descamisados, como gado, são compulsivamente, transportados em camiões sujos de carga, piores que no tempo colonial, e des­pejados num campo de concentração habitacional destinado à “pretalhada”, o Zango é hoje muito seme­lhante ao campo nazista de Auschwitz, construído por Hitler, na Polónia, onde em câmaras de gás muitos fo­ram copiosamente assassi­nados.

E sempre na senda de “dis­tribuir melhor a pobreza, para reinar melhor”, o TPE, através da ministra do Co­mércio decretou o desem­prego de mais de 4500 comerciantes dos frescos, cuja empresa estivesse caboucada em câmaras fri­goríficas contentorizadas. Um contentor frigorifico pode custar entre USD 6000,00 à 12.000,00 e ga­rante a possibilidade de emprego directo entre 3-4 pessoas e outros tantos in­directos. Administrativa­mente retirar o pão a mais estas pessoas é irracional e atenta contra a dignidade e emprego dos angolanos.

A ministra com mais esta decisão anti-angolana, “matou”, deliberadamente, o sonho de mais estes mi­lhares de empreendedores angolanos para, mais uma vez, favorecer os sócios­-estrangeiros, que com o dinheiro roubado nos co­fres públicos, podem con­trolar e monopolizar tudo, logo afastando os autócto­nes contentorizados, para darem entrada aos ricos com câmaras frigoríficas.

O MPLA, ou alguém no seu interior, terá de se en­vergonhar e agigantar para alertar o líder sobre os ris­cos desta macabra política, que está a semear o ódio nos corações dos povos, que se sentem colonizados pelo regime, ou na pior das hipóteses abolirem a pala­vra “povo” do vocabulário, partidocrata por, neste ca­pítulo, estarem a fazer pior que o colono branco por­tuguês.

Um governo que ostensi­vamente maltrata e rouba aos pobres para satisfazer meia dúzia de ricos, não merece continuar no po­der, por mais armas e po­der judicial que tenha sob seu controlo.

Um regime que prende e assassina os cidadãos, coarctando-lhe as liberda­des, com leis protectoras aos ricos, filhos e familia­res que levam dois bancos importantes à falência: BESA e CAP, não pode continuar, impunemente, a beneficiar da condescen­dência colectiva.

Afastemos o medo do exército privado da UGP, de parte da Polícia Nacio­nal e das Forças Armadas Angolanas.

Por tudo isso aqui vai o meu desafio: unamo-nos e combatamos, com todos os meios legais, estas medidas ilegais e discriminatórias.

O momento exige que os intelectuais, os verdadei­ros nacionalistas, se unam, para uma séria e ponde­rada reflexão. Temos de reanimar as tertúlias, para discutir Angola e o seu rumo, deixando de lado os orgulhos, os egoísmos e individualismos, para não sermos cúmplices ama­nhã, não só do avançar dos incompetentemente mal­dosos, como do país para o abismo.

A nossa mãe está doente, façamos alguma coisa.

Esta é a hora de, em nome de Deus e também da ma­terialidade, reflector sobre o amanhã, porque a oposi­ção quer ser politicamente correcta, que significa po­liticamente domesticada.


EU SOU ANGOLA, EU SOU ÁFRICA!



Eugénio Costa Almeida* - Novo Jornal (ao)

1. O ano de 2015 entrou em todos nós com uma força nada previsível – será que não? – com os bárbaros atentados ocorridos sob o espectro de um dogma religioso que não acolheu concordância de ninguém. Nem dos que, naturalmente, foram objecto de ataques; nem dos que seriam os eventuais apoiantes religiosos. O fanatismo nunca teve acolhimento entre as pessoas racionais e inteligentes! Tudo aconteceu com os atentados à redação da revista humorística francesa Charlie Hebdo – já aqui abordada em edições anteriores – bem como a um supermercado francês de origem judaica. Os bárbaros ataques, levados a efeito sob o signo da “defesa de honra” do Profeta Maomé, por parte de uma hipotética parcela de indivíduos que se acharam no direito de o fazer, tiveram o condão de unir povos, sensibilidades, religiões numa crítica muda mas severa ao excessos efectuados em nome de uma religião (no caso), ou de uma comunidade social ou política. Paris, conseguiu juntar dirigentes políticos, sociais e religiosos como há muito não se vislumbrava possível, numa manifestação sob o signo de “Je suis Charlie”. Até permitiu mostrar que não é só no ortodoxismo islâmico que as Mulheres não passam de “coisas” complementares “criadas” para satisfazer os interesses pessoais dos Homens. Também o ortodoxismo judaico conseguiu “retirar” da foto oficial, todas as mulheres presentes na referida manifestação levada a efeito pelo Champs-Élysées, pelo Palais de l’Élisée e pelo seu principal inquilino, o senhor Fran- çois Hollande – que, com estes bárbaros atentados, conseguiu elevar a sua fasquia de aceitação popular de uns míseros 18% para uns aceitáveis 40% de aprovação... 

2. Mas o que são “fundamentalistas”? Permitam-me recorrer a um ensaio meu, publicado em 2003, intitulado “Fundamentalismo Islâmico, A Ideologia e o Estado” (2003), onde mostro que o chamado Fundamentalismo Islâmico não começou com o radicalismo islâmico nem é propriedade sua; bem pelo contrário, tudo teve origem em uma compilação de diversos artigos teo- -doutrinários, por parte de um grupo de teólogos norte-americanos, em 1910, sob a designação genérica de “Fundamental” e que viriam a ser reconhecidos pelos “Fundamentalists”. Defendiam o literalismo bí- blico e afastavam ideias novas ou inovadoras. Ontem como hoje… Ora, os fundamentalists acabaram por generalizar uma expressão que passou a designar todos os que Texto de Eugénio Costa Almeida* defendem um qualquer radicalismo seja religioso, político ou social. Uma expressão que acolhe muitos e diversificados interesses… Não se discute se os acontecimentos de Paris e subsequentes estão, ou não, justamente enquadrados. Nem se discute se da justeza daqueles que verberaram, com paixão, com simpatia e com evidente pesar os bárbaros atentados; como se deve apoiar os que defendem a coexistência pacífica entre as diferentes comunidades religiosas em várias partes do Mundo. Recorde- -se as contra-manifestações ocorridas na Alemanha a favor dessa coexistência em contraciclo com as que, semanalmente alguns sectores alemães levam a efeito contra a presença, nas terras germânicas, de islâmicos e próximos. Nada a contrapor! Nada, se não houvesse uma gritante hipocrisia por parte desses mesmos sectores que tanto gritam “Je suis Charlie” e se esquecem de outras graves e bárbaras violações noutras regiões que não sejam na Europa. 

3. Poderíamos, só para ser mais assertivos, o que se passa na Síria ou Iraque onde cristãos são barbaramente massacrados em nome de um pretenso organismo político-religioso que se desenvolveu exponencialmente e enquanto os interesses políticos adjacentes o acolheram (e acolhem…). Reconheça-se que na última e recente declaração do Estado da União, levada a efeito pelo senhor Obama, este solicitou ao Congresso – nesta altura, politicamente, um pouco hostil – autorização para atacar os membros e simpatizantes do chamado Estado Islâmico (EI – Estado Islâmico do Iraque e do Levante (EIIL)) e libertaras terras mesopotâmicas.


Os interesses ocidentais acharam que uma das melhores formas de travar o EI era diminuir o preço do crude - principal fonte de financiamento dos radicais - mesmo que para isso, outros países sejam economicamente lesados

Ou como é possível que os países europeus – e Portugal é um desses  Estados europeus que baseado na sua génese global o aceitou livremente e vai voltar a fazê-lo num dos seus bairros mais característicos, a Mouraria – aceitem/acolhem que o reino da Arábia Saudita seja um dos principais financiadores de construções de mesquitas por várias partes do Mundo e impeça a construção de templos de outras confissões religiosas – cristãs, por exemplo – no seu país além de restringir liberdade previstas pela Carta dos Direitos Humanos, às Mulheres? Sobre Portugal e as suas mesquitas – respeitáveis como qualquer outro templo religioso existente no país – proponho-vos uma leitura atenta a uma análise de Raúl Braga Pires no seu blogue “Maghreb/Machrek” (https:// maghrebmachrek.wordpress. com/) onde esta questão é pertinentemente bem levantada, até na substituição de uma comunidade há muito implantada por uma outra…

4. Também nisto, Angola usou das suas prorrogativas nacionais e constitucionais para impedir a edificação de mesquitas – ao contrário do que se afirma, não somos o único país a impedir a criação de mesquitas; a Noruega, e pelas razões já atrás descritas também não a acolhe enquanto os sauditas, principais financiadores não acolheres outras confissões religiosas – sem que os seus “criadores” justifiquem claramente o porquê e a sua efectiva necessidade como veículo de transmissão religiosa. Houve quem, entre países e povos islâmicos, criticasse esta posição angolana mas nada, por enquanto, demais. Até pelas razões evocadas pelo competente ministério angolano me apetece dizer, e com propriedade que tudo está bem quando a Lei é devidamente evocada; por isso, Eu sou Angola. Justifiquem, provem a existência de uma comunidade islâmica unida – umma – e reconhecida do direito constitucional angolano e, por certo, não será objecto de impedimentos a construção de uma mesquita. Porque “Eu sou Angola” quero acreditar que as razões foram, única e exclusivamente, de índole social e disciplinador.

5. Voltando à exemplar manifestação “Je suis Charlie” onde estavam aqueles mesmos dirigentes europeus e não só – também o presidente do Mali estava na primeira fila dos dirigentes – quando na mesma altura, na Nigéria, por acaso o mais populoso país de África e um dos mais ecléticos em termos sociais e religiosos, um organismo dito islâmico, mas na realidade um grupo armado que usa a religião para fins inconfessáveis, atacava e chacinava cerca de 2000 pessoas em nome do Deus Supremo? Onde estavam, e onde estão, esses mesmos dirigentes – os mesmos que durante um largo período se esqueceram do Iraque e da Síria e como se vêm a manter esquecidos da Líbia tendo deixado este país feito uma manta de retalhos, onde ninguém se entende e onde os ditos países da coligação vencedora deixaram as populações locais sob a triste umbrella protecionista de uns senhores de guerra que gerem os dividendos do país conforme quem mais lhes paga. Onde estão esses mesmos paladinos da liberdade e da fraternidade que souberam ser rápidos – e bem – na recuperação da integridade territorial do Mali contra a secessão do norte do país, Azauade, por parte de um grupo radical islâmico, inicialmente ligados ao Movimento Nacional de Libertação do Azauade (MNLA), e onde pautavam tuaregues, islamitas e radicais islâmicos do Ansar Dine (Defensores da Fé), próximos da al-Qaeda no Magreb; este grupo acabou por impor a sharia na região azauade o que levou à intervenção francesa e da UA, sem que, todavia, a integridade maliana tenha sido devidamente reposta.

6. Se no Mali os interesses francófonos ditaram uma pronta e rápida intervenção do Palais de l’Élisée – a mesma prontidão que os levou à Côte d’Ivoire e ao Chade – bem como à manifestação Je suis Charlie, onde estão, repete-se, os críticos dos atentados de Paris e continuam a esquecer os massacres, os raptos e as expulsões, ou seja, todo o tipo de violência sobre os nigerianos do norte do país levados a efeitos por radicais islâmicos, nomeadamente pelos radicais nigerianos do Boko Haram (significa “a educação ocidental é pecado” ou, segundo a sua versão oficial, «Jama’atu Ahlis Sunna Lidda’awati wal-Jihad (Grupo pela Pregação e Jihad)») que não se circunscrevem só ao norte da Nigéria, como, também, aos Camarões, ao Chade e ao Níger? Um grupo, que não tem pudor em usar crianças de 10 anos para provocar o terror através de ataques suicidas, ou cujos interesses maiores passam por converter toda a região num grande Estado Islâmico Africano (EIA), como recordou, recentemente, numa entrevista à Rádio Deutsche Welle, o investigador R. Loimeier, da Universidade de Göttingen; e com a subsequente desestabilização que o dito EIA fomentará. É evidente que o Boko Haram também subsiste devido à inépcia de Abuja e do presidente G. Jonathan, ou da corrupção existente no exército nigeriano e dos governos regionais; como se pode aceitar que um governo regional prometa proteger as crianças e professores colocando as escolas sob protecção de seguranças… desarmadas? Recordam-se do “Deixem as meninas voltarem! (#BringBackOurGirls)” quando os do Boko Haram raptaram cerca de 200 raparigas nigerianas da cidade de Chibok, no norte da Nigéria, em Abril de 2014, e que, até hoje, continuam, na sua maioria, desaparecidas? Pensa-se que o referido recente atentado suicida levado a feito por uma menina de 10 anos, esta seria uma das desaparecidas. Onde estão aqueles que juraram defender a grande divisa da liberdade democrática, laica e multissocial: Liberdade, Igualdade e Fraternidade? Só existem quando os interesses subjacentes das grandes potências são postas em causa, directa ou indirectamente? Até esse momento, os Povos e os Estados colateralizados que se governem e defendam como bem entenderem? Talvez pela mesma razão que ninguém ligou ao avanço do EI até os interesses ocidentais acharem que uma das formas de o travar era diminuir o preço do crude – principal fonte de financiamento dos radicais –, mesmo que para isso outros países sejam economicamente lesados, nomeadamente, em África. Só há a divisa quando os “meus” interesses não são postos em causa. Ou seja, é a velha questão em que a minha Liberdade acaba onde começa a Liberdade do outrem! Ou deveria ser!... E por isso e porque não aceito esta dicotómica atitude de certas potências, é que… Eu Sou África!

- Investigador do CEI-IUL e CINAMIL

*Eugénio Costa Almeida* – Pululu - Página de um lusofónico angolano-português, licenciado e mestre em Relações Internacionais e Doutorado em Ciências Sociais - ramo Relações Internacionais -; nele poderão aceder a ensaios académicos e artigos de opinião, relacionados com a actividade académica, social e associativa.

Moçambique: PM CONDENA INCITAÇÃO A GUERRA E DIVISÃO DO PAÍS




Maputo, 29 Jan (AIM) O Primeiro-ministro moçambicano, Carlos Agostinho do Rosário, condenou enérgica e veementemente todas as declarações que directa ou indirectamente consubstanciam a guerra e a divisão do país.

O governante, que falava hoje em Maputo, em reacção aos pronunciamentos do líder da Renamo, Afonso Dhlakama, em digressão pelas províncias das regiões centro e norte, onde promete formar um governo autónomo, disse que o governo diz não a quaisquer pronunciamentos de divisão do país.

Queremos que todos os moçambicanos pautem por valores de paz, unidade nacional e desenvolvimento. Os moçambicanos que tenham esses pronunciamentos devem voltar aos órgãos de direito para discutir as suas diferenças, sublinhou o Primeiro-ministro.

O governo, segundo do Rosário, continua a investir no diálogo aberto e, para o efeito, tem equipas que prosseguem com este mesmo diálogo no Centro de Conferências Joaquim Chissano (CCJC).

A fonte disse, por outro lado, que o governo propôs, sugeriu e recomenda a Renamo, maior partido da oposição, que ocupe os seus lugares na Assembleia da República, o parlamento, e por essa via defender as suas intenções.

Na óptica do primeiro-ministro, há várias maneiras de fazer o diálogo menos a incitação a violência e divisão do país. 

(AIM) LE/mz

Moçambique: DEPUTADOS DA RENAMO TENCIONAM ENFRENTAR DHLAKAMA E TOMAR POSSE




Maputo, 30 Jan (AIM) Os deputados da Renamo, o maior partido da oposição em Moçambique, estão a organizar-se para enfrentar o seu líder, Afonso Dhlakama, no sábado da semana corrente, na cidade de Nampula, capital da província com o mesmo nome, e exigir abertamente que lhes autorize a tomar posse.

Os membros da Renamo, que inclui os eleitos a deputados da Assembleia da República (AR) e a membros da Assembleia Provincial (AP), dizem ter preparado argumentos convincentes para que Dhlakama os autorize a tomar posse.

A Renamo elegeu em Nampula 22 deputados para a Assembleia da República e 46 para a Assembleia Provincial.

O diário electrónico
mediaFAX escreve na sua edição de hoje que apenas faltam cerca de duas semanas para terminar o prazo legal de 30 dias para os deputados tomarem posse ou justificarem o seu impedimento no dia 12 de Janeiro corrente.

O mediaFAX abordou o assunto da necessidade de se cobrar que Afonso Dhlakama permita a tomada de posse dos deputados da AR e membros da Assembleia Provincial com um grupo representativo da Renamo, que inclui assessores directos de Dhlakama eleitos pela província de Nampula.

Nós não estamos a compreender quais são os ideais que defendemos agora e precisamos de conversar com ele (Dhlakama), defenderam os deputados com os quais o mediaFAX conversou.

Os eleitos a deputados e membros da Assembleia Provincial mostram-se esperançados e acreditam que do encontro irá resultar um consenso que abra espaço para a sua investidura.

Estamos a ver que a não tomada de posse não ajuda muito nos nossos objectivos, daí que temos que avançar rapidamente no sentido de não criarmos outro problema, defenderam.

A Assembleia Provincial de Nampula está sem perspectivas para início de actividades três semanas depois da cerimónia oficial de investidura destes órgãos devido ao boicote (ausência) imposto pela Renamo.

Segundo o director do Secretariado Técnico da Assembleia Provincial, Amisse Cololo António, a eleição do presidente e do respectivo vice está condicionada a apresentação de pelo menos um dos 46 membros eleitos pela Renamo.

Por isso, ainda falta constituir as comissões de trabalho. A elaboração e aprovação do plano de actividades deste órgão também está refém do mesmo processo.

Em Nampula, a AP conta com 93 membros sendo 46 da Frelimo, igual número da Renamo e um do Movimento Democrático de Moçambique (MDM).


(AIM) MAD/SG

Timor-Leste: Fretilin não vai bloquear entrada dos seus membros no próximo Governo




Díli, 30 jan (Lusa) - O secretário-geral da Fretilin, Mari Alkatiri, disse hoje que o partido não vai bloquear a entrada de militantes seus no próximo Governo de Timor-Leste, "pelo interesse do Estado e do povo".

"Isso já ficou claro, na última conferência nacional, que nós não vamos bloquear porque o interesse do Estado e do povo está acima de tudo", afirmou à Lusa depois de uma reunião de cerca de duas horas e meia da Comissão Política Nacional do partido.

"Não foi uma reunião para tomar decisões foi uma reunião para discutir. Para fazer, como dizem os ingleses, um 'brainstorming'", afirmou.

A reunião de hoje na sede da Fretilin foi convocada esta semana depois de notícias de que Xanana Gusmão teria convidado militantes do partido e membros do Comité Central para integrar o elenco governativo.

Fontes do executivo confirmarem que Xanana Gusmão está a definir a composição do próximo executivo apesar de ele próprio se poder demitir do cargo de primeiro-ministro pelo que o próximo governo teria que, formalmente, ser definido pelo seu sucessor.

Estas fontes explicaram que Xanana Gusmão terá formulado convites a pelo menos quatro membros da Fretilin para que integrem o executivo, entre os quais um eventual candidato a primeiro-ministro, Rui Araújo, ex-ministro da Saúde e membro do Comité Central da Fretilin.

Apesar da insistência, Mari Alkatiri preferiu não comentar a possibilidade de que o sucessor de Xanana Gusmão possa ser Rui Araújo, que também esteve no encontro de hoje do partido e recusou qualquer comentário.

"Bom, ainda não sabemos se vai ser primeiro-ministro portanto não quero comentar. Não tomo posições políticas na base de condicionais", disse Alkatiri.

Questionado, porém, sobre as capacidades de Rui Araújo para exercer o cargo, Alkatiri foi lacónico: "qualquer membro da Fretilin que tenha estado a trabalhar comigo no Governo é capaz de ser primeiro-ministro".

Os restantes convidados de Xanana, segundo as fontes, são o deputado da Fretiin Estanislau da Silva - que poderá ser um de quatro vice-primeiros-ministros com funções de coordenação - e a do também deputado Inácio Moreira, que deverá ocupar a pasta de vice-ministro das Telecomunicações.

Para o cargo de ministro dos Negócios Estrangeiros deverá ser nomeado o atual embaixador timorense na Coreia do Sul, Hernâni Coelho, também ele membro do comité central da Fretilin.

Sobre este aspeto, Mari Alkatiri disse que aí não há dúvidas devido à decisão da última conferência nacional e que, por isso, no encontro de hoje "não pode haver discordância porque um órgão mais alto já tinha aberto essa possibilidade".

Alkatiri disse que, para já, a Fretilin vai "acompanhar todo o processo até ao fim" e depois emitirá um comunicado.

Sobre o processo em si, disse que "a constituição é clara".

"O partido mais votado apresenta candidato. Nem sequer é o bloco, é o partido mais votado. E depois o presidente é que consulta os outros partidos. Nada mais", afirmou.

ASP // PJA

Adesão do "fardo" Timor-Leste não está nas prioridades da ASEAN - analistas




Jacarta, Indonésia, 31 jan (Lusa) -- A entrada do "fardo" Timor-Leste na Associação de Nações do Sudeste Asiático (ASEAN) não está nas prioridades dos dez Estados-membros d a associação, consideram vários especialistas da região.

Timor-Leste apresentou a candidatura oficial à ASEAN em 2011 e este ano tem sido apontado como a data para a possível entrada na organização, mas alguns especialistas ouvidos pela Lusa mostram pessimismo.

Shahriman Lockman, analista do Instituto de Estudos Estratégicos e Internacionais da Malásia, entende que a prioridade da presidência rotativa malaia é o "pós-2015" na associação, dado que está prevista para 31 de dezembro a criação da Comunidade Económica da ASEAN (AEC).

"Eu não ficaria surpreso se Timor-Leste aderir à ASEAN em 2020. Mas eu não vejo isso a acontecer enquanto Dili não tiver missões diplomáticas em todos os atuais dez países da ASEAN (...) Isso prova que leva a ASEAN a sério", prognosticou.

O especialista em política externa e segurança não tem dúvidas de que Timor-Leste fará parte da entidade regional, mas referiu que os países fundadores da ASEAN aprenderam uma lição após a entrada da Birmânia, cujos problemas "tornaram-se em problemas da ASEAN", por isso Dili tem de mostrar que não será um "fardo".

"Não podemos dar-nos ao luxo de ter uma Comunidade ASEAN a três níveis, que é precisamente o que irá acontecer se Timor-Leste entrar nesta fase", advertiu.

Shahriman Lockman explicou que a criação da AEC em 2015 irá expor uma ASEAN a duas velocidades, dado que o Camboja, o Laos, a Birmânia e o Vietname só irão participar no acordo de comércio livre em 2018, sendo, por isso, necessário à ASEAN "pôr ordem na casa" antes de aceitar mais membros.

Um antigo alto funcionário do secretariado da ASEAN, que não quis ser identificado, disse à Lusa que a adesão de Timor-Leste não faz parte dos temas "quentes" da agenda da entidade, sendo uma questão que os líderes da ASEAN gostariam meramente de "referir num curto parágrafo" no seu comunicado conjunto anual.

A mesma fonte não crê que Timor-Leste seja incluído na ASEAN este ano, nem durante a presidência rotativa do Laos em 2016, dado que este país "pode não estar interessado em fazer avançar a questão".

Em 2017, as Filipinas provavelmente gostariam de ajudar a trazer Timor-Leste para a ASEAN como parte da celebração do 50º aniversário da ASEAN. Se não, então será a oportunidade de Singapura para abrir a porta para Timor-Leste entrar na ASEAN em 2018", conjeturou.

O antigo funcionário da ASEAN recordou os argumentos de Singapura, o único Estado-membro que tem mostrado reservas à adesão de Timor-Leste: "a falta de recursos humanos" com domínio da língua inglesa para participar nas mais de 1000 reuniões anuais da ASEAN e o "nível relativamente baixo do desenvolvimento económico".

"Se Timor-Leste aderir à ASEAN, a integração económica da ASEAN terá de ser abrandada, diluída e tornar-se-á menos ambiciosa", advertiu, defendendo ainda que Timor-Leste deve, antes de mais, integrar a Organização Mundial do Comércio.

Adriana Elisabeth, analista política do Instituto de Ciências da Indonésia, opinou que Timor-Leste é um "país recente que precisa de desenvolvimento em todos os aspetos", daí que a sua entrada na associação seja encarada como um "fardo".

"É um dilema. Para ser uma integração regional sólida, a ASEAN deve abraçar todos os países da região, mas, ao ter todos, os problemas tornam-se cada vez mais complicados", comentou.

Porém, sublinhou a especialista, no seio da ASEAN, há países, como o Laos e o Camboja, com problemas semelhantes e que necessitam igualmente de "desenvolver a sua economia" devido à aproximação da implementação da AEC.

Din Merican, investigador do Instituto Malaio de Estudos Económicos, advogou que a Timor-Leste deve tornar-se membro da ASEAN ainda este ano, porque o país não tem "problemas sérios" e "a integração é um processo lento".

"Timor-Leste precisa de compreender os processos da ASEAN e trabalhar com o secretariado da ASEAN em Jacarta. Funcionários do Ministério dos Negócios Estrangeiros devem ser destacados para estudar e observar como a ASEAN funciona. Os cambojanos fizeram isso durante os anos iniciais. Fizeram pressão e prepararam-se bem", aconselhou.

A ASEAN, que visa fomentar o crescimento económico e a estabilidade no Sudeste Asiático, foi formada em 1967 pela Indonésia, Malásia, Filipinas, Singapura e Tailândia, tendo o Brunei, o Camboja, o Laos, a Birmânia e o Vietname entrado posteriormente.

AYN // PJA

Timor-Leste cria Conselho Marítimo, numa estratégia para definir fronteiras marítimas




Díli, 30 jan (Lusa) - O Governo timorense considerou hoje que a criação do Conselho Marítimo, cuja legislação entrou em vigor este mês, reafirma a determinação de Timor-Leste definir "de uma vez por todas" as suas fronteiras marítimas.

"Volvidos 12 anos após a restauração da independência da Nação, é necessário definir, de uma vez por todas, as fronteiras marítimas nacionais à luz do enorme impacto social, político e económico inerente", refere o comunicado do porta-voz do Governo, Ágio Pereira.

O executivo timorense refere-se, em particular, às negociações entre Timor-Leste e a Austrália, considerando que os dois países "têm a obrigação de chegar a um acordo final sobre a delimitação marítima das suas fronteiras, em que as atuais disposições provisórias não prejudiquem ou ponham em causa a conclusão do acordo final."

A lei sobre a criação do Conselho para a Delimitação Definitiva das Fronteiras Marítimas (CDFFM) foi promulgada no passado dia 14 de janeiro.

O texto define "os principais termos da negociação de um tratado para delimitar as fronteiras marítimas definitivas com a Austrália, o desempenho da função de fiscalização para assegurar a qualidade e a orientação geral do processo de negociação e fornece instruções e orientações sobre as decisões e estratégia relevantes".

O CDFFM será encabeçado pelo primeiro-ministro de Timor-Leste e incluirá ex-chefes de Governo e ex-chefes de Estado além de outras "personalidades eminentes e qualificadas".

Recorde-se que, até aqui, as atividades no Mar de Timor, que se estende entre as margens de Timor-Leste e a Austrália, se regem por disposições provisórias sob a forma de três tratados.

São eles o Tratado do Mar de Timor [TMT], o Tratado sobre Determinados Ajustes Marítimos no Mar de Timor (CMATS, "que Timor-Leste declarou ser inválido devido a atividades de espionagem por parte da Austrália") - e o Acordo Internacional de Unificação [AIU].

ASP // PJA

AFINAL PODE-SE



Carvalho da Silva – Jornal de Notícias, opinião

Em democracia, pode-se e deve-se exercer livremente o direito de voto. O povo grego, apesar de fortemente chantageado, depauperado e com razões para desacreditar, votou em percentagem significativa, colocando na liderança de um governo novo o Syriza (partido cujo nome Passos Coelho não consegue pronunciar), força política que de forma muito dinâmica trouxe para o debate problemas reais e para o sonho das pessoas perspetivas de vida que estão para além daquilo que o cardápio da União Europeia (UE) instituiu como receita única e inevitável.

O Governo grego já trouxe algo de novo. Nos seus primeiros sinais disse que quer cumprir o que prometeu e não trair. Há quanto tempo não surgia um primeiro-ministro em países da UE a ter esta coerência de partida? Não sabemos como a situação da Grécia e da UE vão evoluir, mas sabe muito bem que Alexis Tsipras não seja mais um Hollande e que um governo, ao definir as suas opções estratégicas, para um país "ocupado" e bloqueado, assuma como prioridades a dimensão humanitária e a resposta aos problemas mais duros que marcam a vida das pessoas.

Para se tentar compreender todos os gestos iniciais deste novo Governo grego é preciso ter presente a condição de país condenado em que a Grécia foi colocada dentro da UE, a força do BCE e de quem o comanda, o poder e interesse dos mercados à escala global, a posição geográfica e geoestratégica deste país, mas também a consciência de que o Syriza iniciou a governação como David perante Golias. Ainda por cima, os países que lhes estão próximos (em condições de submissão e sujeição, como é o caso português) estão, por ação de governos indecorosos, numa situação de significativa passividade.

Passos Coelho disse ontem "não contem comigo" para uma conferência europeia com vista à resolução do problema da dívida, nem para nenhuma reestruturação. A dívida é um grave problema para o nosso desenvolvimento, como são os condicionalismos do Tratado Orçamental e dos mecanismos de uma moeda única que não é comum. O que é para este primeiro-ministro o interesse nacional? Contamos com ele para quê? Para apoiar na Europa quem quer mais pobreza, desemprego, injustiça, mais sangue?

Os gestos do Governo grego têm de fazer um percurso interno, e externo, gerindo relações de poder, desequilibradíssimas, que lhe permitam caminhar e, ao mesmo tempo, façam despertar mais dinâmicas de protesto e de exigência de mudança à escala europeia. O que é de aplaudir ainda é o facto de não ficarem à espera da bondade de mudanças na União Europeia, mas serem atores ativos dessas imprescindíveis mudanças.

O rumo escolhido é ofensivo, pondo de lado ruturas profundas com a UE, mas esta, e em particular a Alemanha e seus aliados, parece que vai intensificar pressões, chantagens e bloqueios. Isso pode tornar inevitável novas atitudes do Governo grego, outras opções bem mais delicadas. No meio deste caminho, o que é que vai ficando mais claro, com significativo interesse para nós portugueses?

Um ministro alemão disse esta semana que as "mudanças na Grécia não devem ser um fardo para os contribuintes europeus" e há quem em Portugal amplie esta ideia para nos amedrontar. Esta gente que agora se parece preocupar com os cidadãos europeus foi a mesma que decidiu e impôs, no início da crise, a passagem de grande parte das dívidas públicas e privadas, que os bancos teriam de resolver, para a responsabilidade dos orçamentos dos estados, ou seja, para os seus cidadãos. Em Portugal, em nome de que andamos a viver acima das nossas possibilidades, impuseram-nos esse fardo e aproveitaram a onda também para nos chamar ao pagamento dos buracos das PPP, do BES/GES, do BPN e de outros.

Quando tanto se reclama responsabilidade ao Governo grego, aproveitemos para exigir o mesmo aos nossos governantes que traíram os seus programas eleitorais, que mentem sobre os objetivos das suas políticas, que prosseguem no fundamentalismo criminoso da desvalorização salarial e no desmoronamento do Estado Social.

Perante um cenário de eleições legislativas, impõe-se a definição de compromissos políticos e propostas portadoras de verdadeiras alternativas. As mudanças necessárias, neste contexto que vivemos, terão de ser geradas e afirmadas a partir das margens.

DEZENAS DE MILHARES MARCHAM PELA MUDANÇA EM MADRID




A Praça Cibeles e a Porta do Sol, em Madrid, pintaram-se de roxo, de bandeiras de Espanha e da Grécia, numa "Marcha da Mudança" que juntou dezenas de milhares de pessoas com uma palavra de ordem: "Sim, Podemos!".

Homens e mulheres de todas as idades - bebés em carrinhos, crianças, jovens e idosos, incluindo em cadeiras de rodas - acorreram ao apelo do Podemos e protestaram nas ruas de Madrid por uma política diferente daquela que tem sido seguida desde há três anos pelo executivo de Mariano Rajoy.

Empunhando cartazes com palavras de ordem como "Se queremos, Podemos" e outros bastante mais ofensivos, os apoiantes do partido de Pablo Iglesias vieram de todas as partes de Espanha.

Angel tem 37 anos e veio de Alicante, com a família. Para ele, Espanha tem de mudar, já.

"Há que operar uma mudança neste país. Há outra maneira de fazer as coisas, que beneficie mais as pessoas e menos as empresas e os bancos, como até aqui", contou à agência Lusa.

Para Angel, as eleições na Grécia não são comparáveis com as eleições do final do ano em Espanha, mas o "caminho que o Syriza abriu será importante".

"Mas será difícil, sobretudo combater a indiferença", disse.

Das ideias de Pablo Iglesias e do Podemos para a economia e o governo de Espanha sabe pouco, preferindo salientar que "é preciso uma varridela na política".

"É preciso uma renovação da casta política, controlar os monopólios. E que a sociedade comece a mudar, para melhorar este país", disse, acrescentando, no entanto, que não acredita que o Podemos ganhe as próximas eleições gerais em Espanha.

Sondagens recentes colocam o Podemos a dois pontos percentuais do partido no poder, o PP, mas Angel considera mais realista que quando o país for a votos, no outono, o partido ganhe força no parlamento.

"Não vai ser de hoje para amanhã. Mas vamos meter a cabeça no Congresso dos Deputados (Parlamento)", disse, bem disposto.

Vestidos com o roxo tradicional do Podemos, com palavras de ordem em catalão, em castelhano, em basco ou em galego, os manifestantes estenderam-se por toda a rua de Alcala, desde a Praça Cibeles até à Porta do Sol, e muitos até ironizavam quanto ao que os media e o PP vão dizer da "Marcha da Mudança".

"Logo direis que somos cinco ou seis", entoaram em uníssono, convencidos do êxito do protesto.

Jornal de Notícias - Foto: EPA / Chema Moya

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