Jacarta,
Indonésia, 31 jan (Lusa) -- A entrada do "fardo" Timor-Leste na
Associação de Nações do Sudeste Asiático (ASEAN) não está nas prioridades dos
dez Estados-membros d a associação, consideram vários especialistas da região.
Timor-Leste
apresentou a candidatura oficial à ASEAN em 2011 e este ano tem sido apontado
como a data para a possível entrada na organização, mas alguns especialistas
ouvidos pela Lusa mostram pessimismo.
Shahriman
Lockman, analista do Instituto de Estudos Estratégicos e Internacionais da
Malásia, entende que a prioridade da presidência rotativa malaia é o
"pós-2015" na associação, dado que está prevista para 31 de dezembro
a criação da Comunidade Económica da ASEAN (AEC).
"Eu
não ficaria surpreso se Timor-Leste aderir à ASEAN em 2020. Mas eu não vejo
isso a acontecer enquanto Dili não tiver missões diplomáticas em todos os
atuais dez países da ASEAN (...) Isso prova que leva a ASEAN a sério",
prognosticou.
O
especialista em política externa e segurança não tem dúvidas de que Timor-Leste
fará parte da entidade regional, mas referiu que os países fundadores da ASEAN
aprenderam uma lição após a entrada da Birmânia, cujos problemas
"tornaram-se em problemas da ASEAN", por isso Dili tem de mostrar que
não será um "fardo".
"Não
podemos dar-nos ao luxo de ter uma Comunidade ASEAN a três níveis, que é
precisamente o que irá acontecer se Timor-Leste entrar nesta fase",
advertiu.
Shahriman
Lockman explicou que a criação da AEC em 2015 irá expor uma ASEAN a duas
velocidades, dado que o Camboja, o Laos, a Birmânia e o Vietname só irão
participar no acordo de comércio livre em 2018, sendo, por isso, necessário à
ASEAN "pôr ordem na casa" antes de aceitar mais membros.
Um
antigo alto funcionário do secretariado da ASEAN, que não quis ser
identificado, disse à Lusa que a adesão de Timor-Leste não faz parte dos temas
"quentes" da agenda da entidade, sendo uma questão que os líderes da
ASEAN gostariam meramente de "referir num curto parágrafo" no seu
comunicado conjunto anual.
A
mesma fonte não crê que Timor-Leste seja incluído na ASEAN este ano, nem
durante a presidência rotativa do Laos em 2016, dado que este país "pode
não estar interessado em fazer avançar a questão".
Em
2017, as Filipinas provavelmente gostariam de ajudar a trazer Timor-Leste para
a ASEAN como parte da celebração do 50º aniversário da ASEAN. Se não, então
será a oportunidade de Singapura para abrir a porta para Timor-Leste entrar na
ASEAN em 2018", conjeturou.
O
antigo funcionário da ASEAN recordou os argumentos de Singapura, o único
Estado-membro que tem mostrado reservas à adesão de Timor-Leste: "a falta
de recursos humanos" com domínio da língua inglesa para participar nas mais
de 1000 reuniões anuais da ASEAN e o "nível relativamente baixo do
desenvolvimento económico".
"Se
Timor-Leste aderir à ASEAN, a integração económica da ASEAN terá de ser
abrandada, diluída e tornar-se-á menos ambiciosa", advertiu, defendendo
ainda que Timor-Leste deve, antes de mais, integrar a Organização Mundial do
Comércio.
Adriana
Elisabeth, analista política do Instituto de Ciências da Indonésia, opinou que
Timor-Leste é um "país recente que precisa de desenvolvimento em todos os
aspetos", daí que a sua entrada na associação seja encarada como um
"fardo".
"É
um dilema. Para ser uma integração regional sólida, a ASEAN deve abraçar todos
os países da região, mas, ao ter todos, os problemas tornam-se cada vez mais
complicados", comentou.
Porém,
sublinhou a especialista, no seio da ASEAN, há países, como o Laos e o Camboja,
com problemas semelhantes e que necessitam igualmente de "desenvolver a
sua economia" devido à aproximação da implementação da AEC.
Din
Merican, investigador do Instituto Malaio de Estudos Económicos, advogou que a
Timor-Leste deve tornar-se membro da ASEAN ainda este ano, porque o país não
tem "problemas sérios" e "a integração é um processo
lento".
"Timor-Leste
precisa de compreender os processos da ASEAN e trabalhar com o secretariado da
ASEAN em
Jacarta. Funcionários do Ministério dos Negócios Estrangeiros
devem ser destacados para estudar e observar como a ASEAN funciona. Os
cambojanos fizeram isso durante os anos iniciais. Fizeram pressão e
prepararam-se bem", aconselhou.
A
ASEAN, que visa fomentar o crescimento económico e a estabilidade no Sudeste
Asiático, foi formada em 1967 pela Indonésia, Malásia, Filipinas, Singapura e
Tailândia, tendo o Brunei, o Camboja, o Laos, a Birmânia e o Vietname entrado
posteriormente.
AYN
// PJA
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